Google contra a internet

A Google não quer mais só buscar e organizar o conteúdo da web – quer também criá-lo! Não tende, assim, a tentar reduzir a internet a si mesma?

Este post se refere à nova proposta da Google de lançar a Knol, sua enciclopédia online, investindo na área de produção do conhecimento e buscando concorrer com a Wikipedia.

Se a internet é um universo, a Google é seu onipresente guardião – usualmente, é improvável, se não impossível, adentrar o universo da web sem passar pelo crivo do ‘oráculo’, utilizando algum de seus serviços como busca, youtube, orkut, Blogger, Gmail, GoogleDocs, entre tantos outros. Começou como um buscador, passou a oferecer serviços online, adquiriu novos sites, criou novas ferramentas, e até cogitou investir na infra-estrutura física da rede mundial. A internet era o limite! Agora já não é. A empresa não quer mais só buscar e organizar o conteúdo da web – quer também criá-lo!

Será que a Google exauriu o conteúdo da rede ao ponto de supor que precisa passar a fabricá-lo? Isso soa absurdo, obviamente. A empresa apenas enxergou uma oportunidade de gerar ainda mais tráfego em seus domínios – o que é o mesmo que gerar mais dinheiro – e seguem a tendência lógica de uma empresa que, pouco depois de abrir o seu capital na bolsa de valores, abandonou o seu slogan inicial: ‘Don’t be evil’.

Transcender o seu propósito original e absolutamente útil da busca e indexação da informação para a criação de conteúdo é, no mínimo, complicado. Trata-se, afinal , de conhecimento: questão de liberdade fundamental e não de dinheiro. A Google percebeu que os resultados de suas buscas geravam infinitos acessos à Wikipedia sem que com isso lucrassem diretamente – por que, então, não criar a sua própria enciclopédia? Ao invés de convidar o internauta (cliente) a sair, porque não induzi-lo a manter-se em seus domínios?

Talvez me acusem de algum exagero retórico, mas não me seria lícito conjecturar que, com tal iniciativa, a Google tende a reduzir o infinito universo da internet a uma sala de espelhos, na qual a vastidão seria apenas labirinticamente ilusória? E a verdadeira internet, para muitos, estaria ‘lá fora’, inacessível, infinita, secreta!

Ou, se quiserem, me acusem agora de otimismo pueril, mas suspeito que a internet é incorruptível, indomesticável, indomável. A humanidade, todos sabemos, está em vias de extinção, mas até lá a sua capacidade de contar histórias e de se expressar para o mundo com palavras, imagens e sons perdurará – com ou sem Google. Desta vez pode ser que o oráculo não saiba onde está se metendo.

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fabricio kc