Lá como aqui

estresse no jornalismoA insatisfação com a profissão vem levando muitos jornalistas a repensar suas carreiras. Baixos salários, escala de trabalho estafante, pressão e a falta de incentivo são as reclamações mais freqüentes. Mas será que este é um fenômeno do jornalismo tupiniquim? Leia e descubra…

Vejo muitos jornalistas reclamando da profissão repórter. É só dar uma passeada pela tag de jornalismo dos blogs para você ver uma profusão de profissionais insatisfeitos, seja com salário, com a forma como são tratados pelas empresas de comunicação ou mesmo pelo tipo de jornalismo que é feito nos jornais de hoje.

Acabo de ler uma pesquisa que se dispôs a descobrir o quão insatisfeitos estão os profissionais da área. Vamos a algumas das respostas coletada pelos pesquisadores… Uma mulher de 26 anos escreveu: “salário baixo, horário ruim, falta de jornalistas no copy desk e nas editorias de cidade e esportes para ajudar a ler e editar as matérias. Favoritismo, software ruim, número de jornalistas insuficientes para cobrir eventos, nenhum bônus e uma má atitude devido ao estresse. Pessoas inexperientes são promovidas enquanto jornalistas fortes e críticos são marginalizados. Puxa-sacos são tratados com respeito e o trabalho nunca é dividido igualmente.”

Um homem de 33 anos respondeu aos pesquisadores: “trabalhos sem qualidade, falta de planejamento nas decisões administrativas, escala de trabalho ruim, nenhum investimento em tecnologia, nenhum reconhecimento por parte dos superiores combinado com uma falta de informações passadas aos empregados, falta de segurança no trabalho e nenhuma visão do futuro dos jornais.

Se você é jornalista e se identificou com as respostas ou se pensa que isto é um fato que acontece apenas no Brasil, saiba que esta pesquisa foi realizada nos Estados Unidos, "The land of opportunity". Foram 770 jornalistas entrevistados, com uma média de idade de 41,6 anos de idade e 17,8 de profissão. O salário médio destes jornalistas ficou em US$ 4.000 mensais, sendo que na pesquisas entraram, além dos repórteres (44.8%), editores (23.5%), editores-chefes (9%), fotógrafos (6.6%) e paginadores (13.6%).

Scott ReinardyA pesquisa foi realizada pelo Dr.Scott Reinardy (foto), professor da Ball State University. Em 2003 ele começou a pensar no estresse que jornalistas esportivos enfrentam na profissão. “Como a cobertura de esportes é muito intensa, jornalistas dessa área costumam ser pressionados por fãs, técnicos, jogadores e editores. Todos querem alguma coisa e, ás vezes, isso gera situações de confronto”, explica Reinardy.

Devido à sua experiência de 15 anos como jornalista e editor de esportes em cinco diferentes jornais, ele sabia das dificuldades da profissão. Em 2005, o Centro para Controle de Doenças listou o jornalismo como a sétima ocupação mais estressante dos EUA e Reinardy começou a se perguntar se isso levava os jornalistas a ficarem cansados da profissão, uma tendência que levaria muitos a abandonar a área. Então, em 2007, ele mandou e-mails para 1.245 jornalistas norte-americanos explicando sobre a pesquisa. Com isso, ele conseguiu que 770 profissionais respondessem às perguntas que constavam em seu formulário.

O resultado é que 25.7% dos jornalistas norte-americanos pretendem deixar a profissão e 36,2% não sabem se querem. Este número aumenta significativamente nos profissionais com menos de 35 anos. Destes, 31% querem largar o jornalismo e 43,5% afirmam não saber.

jornalista desesperadoEntre as razões para mudar de profissão dadas pelos 223 jornalistas de até 34 anos estão o salário (36%), a exaustiva escala de trabalho (27%) e stress ou desgaste (19%). Um homem de 27 anos respondeu que “a maior parte das matérias dos grandes jornais é frívola e entediante. Parece que estamos tentando emburrecer os leitores. Raramente abordamos assuntos que façam uma diferença ou que exponham os desmando das autoridades… eu sinto que minha alma está sendo drenada a cada dia… Assim que tiver a oportunidade, estou fora!”. Já uma jornalista de 26 anos deu como razão “os baixíssimos salários, trabalhar até tarde, falta de benefícios, poucas premiações, nenhum bônus e trabalhar no meio de uma nevasca enquanto os outros trabalhadores ficam em casa. Com o tempo, você fica cansado disso tudo”.

Boa parte destes jornalistas, porém, afirmaram não ter vontade de deixar a mídia. Alguns pensam em trabalhar como free-lancers ou partir para relações públicas e assessoria de imprensa. Alguns demonstraram o interesse em trabalhar em uma universidade ou mesmo voltar a estudar para adquirir uma outra profissão.

Este é apenas o primeiro de uma série de estudos que o professor pretende realizar. A próxima fase é entender melhor os motivos de tanta insatisfação, realizando entrevistas mais a fundo sobre o problema. “Meu objetivo é criar uma estratégia para abordar a questão. É claro que não há uma solução única para todos os casos, pois as empresas têm problemas bem diferentes. No entanto, há similaridades que podem ser discutidas. Por enquanto, estou interessado apenas em criar uma consciência quanto ao problema. Para ser franco, a solução terá que vir dos próprios jornais. Eu ouço os céticos dizerem ‘os jornais não têm o menor interesse em apoiar seus jornalistas.’ Bom, de certa maneira isso pode até ser verdade, mas vai ter uma hora em que a qualidade do produto oferecido vai diminuir os lucros, e quando isso acontecer, talvez essas empresas se toquem que esses profissionais precisa ser tão valorizados quanto os acionistas. Talvez eu seja um otimista, mas qual é a alternativa?”

Bom, pelo menos no caso brasileiro, acredito que a alternativa seja sentar e chorar. Apesar de ser um otimista por natureza, não acredito que haverá mudanças tão cedo. Fico pensando qual seria o resultado se pesquisa semelhante fosse realizada com os jornalistas tupiniquins. A meu ver, a insatisfação com a profissão seria tão grande ou até maior do que apresentaram nossos colegas da terra do Tio Sam.

Para os jornalistas que leram à matéria, deixo a pergunta… você está satisfeito com a sua profissão???

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Pedro Serra