Acaso, beleza e Kundera: um pequeno epílogo.

Este artigo tem tudo (e ao mesmo tempo nada) a ver com música.

Foi Kundera quem disse, em seu “A Insustentável Leveza do Ser”, que a vida do homem é regida pelo seu senso de beleza. Este é um pensamento fascinante; se examinarmos as conseqüências lógicas deste aforismo, nos depararemos com situações bastante verossímeis. Certos acontecimentos em nossas vidas seriam perfeitamente justificáveis sob a ótica do norteamento estético.

O indivíduo pode enxergar o que quiser no acaso; o acaso é aberto a possibilidades subjetivas de especulação, diferentemente dos fatos que ocorrem por necessidade. Você pega um ônibus por necessidade; se no seu cotidiano uma mulher estonteante de repente te oferecer uma carona, isto pode ser enxergado como destino, sorte ou qualquer outra coisa que você queira.

Nisso, a pessoa projeta no acaso todos os seus ideais estéticos. Em uma situação onde um empregado é despedido subitamente pelo seu chefe babaca, pessoas com sensos estéticos diferentes enxergam coisas diferentes: para o indivíduo que tem como ideal estético o sofrimento e a subordinação como bússola moral, tal acontecimento é uma tragédia; para aqueles que sonham em mandar o chefe à merda, que se sentem seduzidos com comportamentos ousados e heróicos, é uma oportunidade.

Esta idéia tem relação direta com o tema de meus dois artigos anteriores, que tratavam da função da arte*. A arte poderia ser um veículo para o aprimoramento estético. Este aprimoramento seria fundamental dentro da visão de mundo de um personagem como o descrito por Kundera em seu livro; nosso senso de beleza seria o principal responsável pelo direcionamento que damos à vida. Pessoalmente, eu acho os personagens de Kundera muito verossímeis, e esta idéia do norteamento estético me agradou muito.

E a pergunta que não quer calar é: até que ponto as decisões que você toma na sua vida estão relacionadas ao seu ideal estético? O que te seduz mais, a leveza ou o peso?

 

*: você pode ler os artigos anteriores aqui: http://opensadorselvagem.org/arte-e-entretenimento/musica-desconcertante/para-que-serve-a-musica-parte-1 e aqui: http://opensadorselvagem.org/arte-e-entretenimento/musica-desconcertante/para-que-serve-a-musica-parte-2

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Bruno Yukio