Lady Gaga para Aborígenes.

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Lady Gaga é um fenômeno pop, (ponto). É a darling da indústria do entretenimento. Em pouco tempo Gaga conseguiu atingir números impressionantes, mas em quanto tempo será que ela irá sumir? Amy Winehouse também foi hype, claro que em uma proporção menor – até pelo estilo de música, mas em pouco tempo se desfacelou. Lady Gaga não serve apenas para explicar o pop, serve também como parábola da globalização. A cantora americana sabe como poucos atingir o grande público. Gaga se aproveita de uma estratégia do meio dos anos 80 mas que volta com força no final da primeira década dos anos 2000, a junção música e vídeo. É só percebermos o nível de produção de seus clipes, e numa cultura visual como a nossa e em tempos de youtube, tudo se encaixa perfeitamente. A música de Gaga é uma música de massa. É um tipo de música que funciona tanto em televisão como em rádio. É um tipo de pop dançante “glamuroso”, que agrada diversas faixas etárias. Porém o público que mais vê, ouve e consome Gaga – analogamente no sentido antropofágico, são os jovens. A juventude alienada das raves, os baladeiros de plantão, os vips, e outros tipos urbanos modernos sustentam essa verdadeira empresa multimídia chamada Lady Gaga (ponto para ela). Porém esse efeito – devido à globalização, chega a todos os cantos do mundo. Foi o tempo em que celulares, computadores (portáteis ou não), banda larga, Iphones, Ipods, eram exclusividades das classes mais altas. Com as diversas crises econômicas (diga-se aí: financeiras, cambiais, entre outras), os mercados que já eram próximos, tornaram-se mais acessíveis. A onda dos emergentes trouxe fôlego para economias anãs, além do quê a pirataria levou para periferia um luxo de quinta categoria, mas ainda assim luxo, e fez com que as diferenças tecnológicas minassem um pouco. Dito isso, é comum vermos indígenas da Amazônia com tênis Nike chineses (veja em antropologia, “contato intermitente”) e celulares com câmera de alta resolução – ou pastores Khoisan no deserto do Kalahari com notebooks. Esse contato com o mundo dito “civilizado” – e as aspas são propositais, ameaça a meu ver a manutenção das tradições. Os jovens indígenas brasileiros não são mais iniciados sexualmente nos rituais das tribos, mas sim nas baladas com homens brancos ao som de Lady Gaga, Rihanna e Beyoncé. 
 

 
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Alguns dizem ser sinais do tempo (ou dos tempos – como queiram), outros a globalização e outros aculturação, para não usar Pierre Clastres: etnocídio – ou uma forma de. Gaga faz sucesso em toda parte. Trace mentalmente uma linha pelo mapa mundi, do Brasil ao Canadá, passando depois pela Holanda, Suécia, Rússia, Japão, Irã e Oceania. Sua música é ouvida por milhares de jovens, que como os replicantes de Blade Runner, espalham seus hits pelas metrópoles, e daí para os rincões distantes é um clique. Os dois discos de Gaga foram sucessos absolutos no mundo, mas em especial na Austrália e na Nova Zelândia: “The Fame”, terceiro e segundo lugares, e “The Fame Monster”, primeiro e primeiro lugares respectivamente. Os hits de Gaga nesses dois países sempre alternaram entre o primeiro, segundo e terceiro lugares, “Poker Face”, “Paparazzi”, “Telephone”, entre outros. E a mais cruel realidade é que Lady Gaga é sucesso até entre os Aborígenes. Os jovens Aborígenes já não mais se interessam tanto pelas tradições, pelas pinturas rituais ou pela música típica. O jovem quer ter a mesma cara, quer se globalizar, se identificar com o mundo e não mais com seu povo (não todos). Enquanto os morcegos da world music sugam os Aborígenes para levar o exotismo para o primeiro mundo, o pop anglo-saxão invade o mundo “primitivo” ensinado-os o modo burguês ocidental contemporâneo de ser. Lady Gaga e congêneres afastam os jovens de suas culturas tradicionais, pois os seduzem com um mundo que eles não podem atingir – exceto os das grandes cidades. O maior exemplo disso são as fotos que encontramos aos montes no Google, de Maoris usando camisas e calças, ouvindo Ipods Apple brancos com caras felizes. Isso mostra que o mundo realmente é plano como disse Thomas Friedman, só que uma planificação nivelada por baixo.

 
 
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About the author

Marlon Marques Da Silva

Humano, falho, cético e apenas tentando... Sou tio, fã de Engenheiros do Hawaii, torço pro Santos F.C. e não me iludo com políticos e religiosos e qualquer discurso de salvação. Estudei História, Filosofia, Arte, Política, Teologia e mais um monte de coisas. Tenho minha opinião e embora possa mudar, costumo ser aguerrido (muito) sobre ela e geralmente costumo ir na contra-mão da doxa.