Editorial By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet Sabe quanto você acorda com vontade de fazer a diferença no mundo? Muitas vezes sabemos o que queremos fazer, ou onde pretendemos chegar, mas não sabemos como fazê-lo e tampouco temos as ferramentas ou o auxílio necessário para promover a mudança. Vou dar um exemplo de uma forma simples e direta para promovermos a mudança e fazermos a diferença todos os dias da nossa vida (sem precisar esperar por chefes, prefeitos, governadores, deputados ou outros canalhas quaisquer). Quantas escolhas um ser humano faz por dia? A resposta: incontáveis. Todos os dias, desde a hora que acordamos até a hora em que vamos dormir, somos inundados com uma enxurrada de escolhas que precisamos fazer, desde levantar e ir trabalhar e estudar ou ficar deitado, se vamos ou não escovar os dentes, se colocamos o sapato marrom ou o preto, se pegamos ou deixamos o casaco, se colocamos uma ou duas colheres de açúcar (ou se usamos adoçante) no café e assim por diante. Interessante pensar na vida assim, como uma sucessão de escolhas, não é? Pois então, como eu posso fazer uma escolha e fazer a diferença já no café da manhã? Bem, digamos que eu compre sempre a mesma marca de leite UHT (de caixinha) e a faça pelo mesmo motivo (pode ser o hábito, o paladar ou então eu compre apenas a marca que estiver mais barata na ocasião da compra). Se eu mudar meu critério de escolha, e passar a comprar apenas de marcas que criam suas vacas de forma extensiva, soltas no pasto ao invés daquelas que criam as vacas confinadas, somente para produção de leite, estarei fazendo uma diferença significativa em vários aspectos – morais, econômicos e até espirituais. Sabe-se que uma vaca confinada vive de 4 a 5 anos, e morre de exaustão, pois lhe são retirados até 60 litros de leite ao dia, com estímulos alimentares e hormonais. Neste caso a vaca é um objeto sendo explorado pelo homem. No caso da vaca criada solta, sem uso de estimulantes artificiais, sua sobrevida chega a 15 anos (próxima da estimativa de vida usual das vacas “livres” que é de 20 anos), e não lhe são retirados mais do que 15 litros de leite por dia. Um passo além seria escolher somente leite tirado manualmente, comprado diretamente do produtor rural e outro, ainda mais complexo e que exigiria adaptações mais intensas por parte de quem faz a escolha seria deixar de utilizar o leite de origem animal, escolhendo somente os de origem vegetal como o de soja, por exemplo. A partir da escolha do que consumimos, podemos efetivamente estar fazendo a diferença também para humanos. Basta buscar as informações, não permanecer na inércia alienante do dia-a-dia. Até na escolha de um chocolate, você pode escolher entre produtos da Hershey´s ou da Nestlé que foram associados a trabalho infantil e até mesmo a trabalho escravo infantil nas fazendas de cacau da Costa do Marfim e da África Ocidental ou entre um chocolate de uma empresa local ou mesmo nacional comprometida com o Fair Trade, ou seja, que garanta aos agricultores e seus funcionários preços justos e condições dignas de trabalho. Esta reflexão toda no dia de hoje, foi claramente inspirada em um texto que li há um par de dias, e se não foi escrito por mim, e sim por Paul Hawken foi por questão de detalhe, já que expressa com total perfeição meu próprio pensamento: “Tecnologicamente, a cultura Ocidental dança proeminentemente com um iPod plugado em seus ouvidos. Quando se trata de inovação, literatura e criatividade, é fulgurante. A habilidade em ir fundo nos oceanos e tão longe quanto a Lua é espetacular, mas como Robert Oppenheimer nos lembra, ser abençoado com insight tecnológico não nos confere insight de nós mesmos. Se medirmos a cultura Ocidental pela forma com que tem tratado pessoas de raças ou etnias diferentes, é um anátema. Se a julgarmos pelo tratamento a seus próprios integrantes, incluindo crianças, idosos e os pobres, é embaraçoso. E se tentarmos calibrar a superioridade Norte-americana pelo seu tratamento ao meio-ambiente, os Estados Unidos são uma das civilizações menos inteligentes na história do planeta.” E segue: “Como você descreveria a administração de um país que gasta 1 trilhão de dólares para vencer uma guerra pelo petróleo do Iraque enquanto se recusa a alocar quaisquer fundos para reduzir a dependência do petróleo? Com 1 trilhão de dólares, os Estados Unidos teriam catalizado a troca de toda sua frota automotiva por carros elétricos híbridos – com capacidade de rodar 90% do tempo com baterias elétricas – alimentadas por energia renovável e biodiesel… …Se uma cultura não se tornar como a nossa, ela não será uma falha mas um presente para o que é agora um futuro incerto.” Se temos um mau exemplo, e o mesmo está nos levando a um caminho sem volta, porque então não utilizar este mau exemplo como instrumento de educação para a mudança? Vamos aprender um pouco com o poeta Marcos Pedroso: “porquê você está aí onde está agora? porquê não está na China, ou Lima? o que amarra, o que impede? o que guia? quem manda? qual a força motriz? a mais forte, mais convincente o que imprime mais pressão? vem de fora? é de dentro? é conhecida? conhecível? qual o pensamento comanda essa força? é vela ou âncora? acelerador, freio? e a vontade? onde fica? onde vai? qual o nó? é laço? essa amarra tem ponta? quem puxa?” O texto acima é um verdadeiro convite para pegarmos com força as rédeas de nossas próprias vidas, para nos tornarmos inteiros, singulares, para exercermos nosso poder de escolha, ao menos uma vez por dia, em cada uma das milhares de chances que temos todos os dias da nossa vida. Este texto acima, bem como esse ensaio que agora se conclui, é um convite não só para a reflexão mas também para a ação. É uma lembrança da história do heróico passarinho que com o bico cheio d´água voa em direção à floresta em chamas, e mantém viva a memória de Mohandas Gandhi, que nos conclamava a ser a mudança que gostaríamos de ver no mundo. Fica também o convite para que você participe, da forma que lhe aprouver, quer seja colhendo estímulos e conhecimento, quer seja semeando e compartilhando os frutos do seu aprendizado, no coletivo Coolmeia, Ideias em Cooperação, uma incubadora e uma cooperativa de ideias altruístas, empenhada em construir um mundo mais solidário e justo social e ecologicamente, através do desenvolvimento e aperfeiçoamento de ferramentas, modelos e atitudes capazes de promover esta tão propalada mudança. Aproveite e conheça também Os Revolucionários Culturais e Declare a Interdependência. Fraternalmente, Rafael Reinehr PS: como a vida é feita de escolhas, você sempre tem uma segunda opção, que é ficar como nosso amigo aí embaixo. Boa escolha!