Editorial By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet Era uma vez em um reino distante, um rei que amava seus súditos. Tanto amava, e tão convencido estava disso, que resolveu aprimorar aquilo a que o povo mais dava valor: o circo, no caso, o Futebol. Como os clubes de futebol estavam indo de mal a pior, resolveu adicionar à já pesada carga tributária que impunha a seus súditos, a CPMF: Contribuição Para Melhorar o Futebol. Era uma vez em um reino distante, um rei que amava seus súditos. Tanto amava, e tão convencido estava disso, que resolveu aprimorar aquilo a que o povo mais dava valor: o circo, no caso, o Futebol. Como os clubes de futebol estavam indo de mal a pior, resolveu adicionar à já pesada carga tributária que impunha a seus súditos, a CPMF: Contribuição Para Melhorar o Futebol. Com o dinheiro desta contribuição, que iria integralmente para o desenvolvimento do futebol e dos clubes do reino, acreditava-se que o povo teria muito mais diversão e orgulho dos seus clubes, que representariam melhor seu reino nos campeonatos em reinos vizinhos. Acontece que, no mesmo ano em que o rei criou a CPMF, estourou uma guerra contra uma nação vizinha, e o rei foi "obrigado" a utilizar a verba adquirida com a CPMF para pagar o soldo dos soldados recrutados para defender o reino. Em seguida, com o fim da guerra, o rei sentiu necessidade de trocar as ferraduras dos cavalos reais por ferraduras de ouro e, como o povo não havia reclamado anteriormente, acreditou que poderia utilizar a verba da CPMF para ferrar os cavalos reais. No outro ano, a rainha solicitou ao rei um novo castelo. A CPMF estava ali, porque não utilizá-la? E assim foi, durante anos e anos, CPMF sendo coletada e nada dos clubes de futebol receberem seu quinhão. Cansados de serem negligenciados pelo seu governante-mor, os dirigentes dos clubes de futebol resolveram, por baixo dos panos, organizar um movimento que culminou em um clamor popular e trouxe à tona a discussão sobre o destino que estava sendo dado ao dinheiro originalmente planejado para ser direcionado ao futebol. O clamor popular e da nobreza foi tanto que não foi possível ao rei manter o imposto existindo, já que nunca ele havia sido destinado àquilo para o qual ele havia sido criado. Entretanto, um problema estava criado: acostumado a gastar somas vultuosas garantidas pela renda advinda da CPMF, o rei estava com a corda no pescoço, já que os gastos já feitos e previstos para o próximo ano acabariam com todas as reservas do reino, o que não poderia acontecer de forma alguma. Em conversa com seus sábios-conselheiros, decidiu-se por uma saída brilhante: modificaria um dos impostos mais importantes do reino, o IOF, Imposto sobre Operações Futebolísticas, pago por cada súdito ao comprar ingresso para ver uma partida de futebol, por cada camiseta de clube de futebol adquirida e até por cada cachorro-quente consumido no estádio. Como esta forma de consumo era justamente a mais freqüente no reino todo, o rei soube onde apertar o cerco e, de forma surpreendente, conseguiu aumentar ainda mais a receita do reino às custas dos seus súditos, já tão maltratados e surrupiados pelos impostos reais, que, como sempre, serviam para alimentar o rei, a nobreza e suas famílias. Qualquer semelhança com um país real é mera coincidência.