Editorial By Rafael Reinehr / Share 0 Tweet Quando Caetano Veloso escreveu a letra de Haiti em 1993, imagino, não tinha a capacidade de prever a catástrofe social, política e econômica na qual o povo haitiano estaria imersa em 2010, tampouco a hecatombe natural promovida pelo terremoto da última semana, que acabou com a vida de 15 mil 200 mil 3 milhões pessoas e fez a ONU considerá-la “o pior desastre da história”. Será? Seguem abaixo os 10 desastres naturais que mais ceifaram vidas na história. 10. Terremoto em Aleppo – 1138, Síria [Mortes: 230.000] Aleppo fica localizada em um sistema de falhas geológicas ao norte do Mar Morto. É uma das cidades mais antigas do mundo e, hoje, a segunda maior da Síria. O terremoto foi o primeiro de uma seqüência de dois intensos tremores na região: de outubro de 1138 até junho de 1139, seguido por uma seqüência muito mais intensa de setembro de 1158 até maio de 1159. A área mais afetada foi Harim, onde Cavaleiros Cruzados construíram uma grande fortaleza. Fontes indicam que o castelo foi destruído e que a igreja entrou em colapso. O forte de Atharib, então ocupado por muçulmanos, foi destruído. A fortaleza também desmoronou, matando cerca de 600 guardas. 9. Tsunami – 2004, Oceano Índico [Mortes: 230,000] O Tsunami de 2004, conhecido entre a comunidade cientifica como “O Terremoto de Sumatra-Andaman”, foi causado por um terremoto submarino que ocorreu em 26 de dezembro de 2004, cujo epicentro foi a alguns quilômetros da costa oeste da Sumatra, Indonésia. O terremoto desencadeou uma série de tsunamis devastadores ao longo da costa de quase todas as praias do Oceano Índico, matando um grande número de pessoas e inundando comunidades costeiras. Estima-se que a magnitude do tremor gire em torno de 9.1 e 9.3 pontos. É o segundo maior terremoto jamais registrado na história. Sua força foi tamanha que fez o planeta inteiro vibrar cerca de um centímetro. 8. A Falha da Barragem de Banqiao – 1975, China [Mortes: 231,000] A barragem de Banqio fora projetada para suportar 306mm de precipitação por dia. Em agosto de 1975, entretanto, choveu tanto que, em apenas um dia, a barragem acumulou a quantidade de água que deveria acumular em um ano. A eclusa não suportou a enchente. Com o rompimento da barragem uma enorme onda com 10 quilômetros de largura e variando entre 3 e 7 metros de altura se formou e varreu as planícies em sua direção à 50 quilômetros por hora. A onda destruiu uma área de 55 por 15 quilômetros e criou lagos de 12 mil km². A população não pôde ser evacuada a tempo por causa das precárias condições de comunicação. 7. Terremoto de Tangshan – 1976, China [Mortes: 242,000] Em termos de mortes, um dos maiores terremotos a atingir o mundo, o epicentro do tremor foi próximo de Tangshan, uma cidade industrial de aproximadamente um milhão de habitantes. O tremor começou às 03.42:53, horário local, no dia 27 de julho de 1976 e durou apenas 15 segundos. O governo chinês mediu a potencia do tremor em 7.8, embora algumas fontes dêem o valor de 8.2. Foi o primeiro terremoto a atingir diretamente uma cidade de grande porte. Embora não tivesse recursos para lidar com os estragos o governo chinês recusou ajuda internacional. 6. Enchente de Kaifeng- 1642, China [Mortes: 300,000] Kaifeng, um distrito na região oriental da província de Henan, na China, margeado pelo Rio Amarelo, foi inundado pelo exército Ming em 1642 para impedir o rebelde Li Zicheng de conquistar a cidade. Aproximadamente metade dos 600.000 habitantes de Kaifeng morreu vítima da enchente e suas subseqüentes conseqüências tais como a fome e doenças, transformando-a em um dos maiores e mais mortais atos de guerra na história. Embora tenha sido um ato de guerra a tragédia é considerada um desastre natural pelo papel indispensável que o rio desempenhou. 5. Ciclone na Índia – 1839, Índia [Mortes: 300,000+] Em 1839 uma onda de 12 metros causada por um imenso ciclone varreu a cidade de Coringa, que nunca foi completamente reconstruída. Cerca de 20.000 navios foram destruídos e 300.000 pessoas morreram. Essa não foi a primeira catástrofe a acontecer em Coringa: em 1789 três ondas gigantes, também causadas por um ciclone, atingiram a cidade matando cerca de 20.000 pessoas. 4. Terremoto de Shaanxi – 1556, China [Mortes: 830,000] O terremoto de Shaanxi, 1556, é o terremoto mais mortal jamais registrado, com cerca de 830 mil vítimas. Ocorreu em na manhã de 23 de janeiro de 1556, na China. Mais de 97 cidades foram atingidas. Uma área de cerca de 850 quilômetros foi destruída e, em algumas cidades, 6% da população morreu. Análises modernas estimam que o terremoto tenham alcançado 8 pontos de magnitude. Abalos sísmicos secundários foram sentidos nos seis meses seguintes. 3. Ciclone de Bhola – 1970, Bangladeste [Mortes: 500,000 – 1,000,000] O ciclone em Bhola, foi um devastador ciclone tropical que atingiu a Paquistão Oriental (hoje Bangladeste) em 12 de novembro de 1970. Foi o ciclone tropical mais mortal jamais registrado e um dos mais mortais desastres naturais da história moderna. Mais de 500 mil pessoas perderam suas vidas na tempestade, na maioria dos casos como conseqüência da inundação na maioria das ilhas do delta do Ganges. O governo do Paquistão sofreu severas críticas por sua assistência precária às vítimas. 2. Enchente do Rio Amarelo – 1887, China [Mortes: 900,000 – 2,000,000] Não é raro o Rio Amarelo, na China, sofrer enchentes. Por séculos, os fazendeiros que vivem às margens do rio construíram diques para conter as enchentes. Em 1887 dias de chuva incessante subiram o nível da água acima da capacidade de contenção dos diques causando uma enorme enchente que devastou a área matando entre 900 mil a 2 milhões de pessoas. Devido às planícies ao redor da área a enchente se espalhou rapidamente ao norte da China, cobrindo uma área de cerca de 80 quilômetros quadrados. A enchente deixou cerca de dois milhões de desabrigados. Estima-se que o surto de doenças e de fome causado pela enchente tenha causado tantas vítimas quanto o próprio incidente. 1. Enchente do Rio Amarelo – 1931, China [Mortes: 1,000,000 – 4,000,000] A enchente do Rio Amarelo de 1931 é considerada o desastre natural mais mortal da história. Estima-se que o número de pessoas mortas esteja entre um milhão e quatro milhões de vítimas. As mortes causadas pela enchente incluem afogamentos, doenças, fome e seca. Entre julho e novembro, cerca de 88.000 quilômetros quadrados ficaram completamente inundados enquanto outros 21.000 quilômetros quadrados ficaram parcialmente inundados. Devido aos freqüentes desastres que causa o rio é freqüentemente chamado de “A Dor da China”. (fonte: http://www.tudook.com/fimdomundo/os_10_desastres_naturais_mais_mortais_da_historia.html) E canta Caetano Veloso: “Quando você for convidado pra subir no adro Da fundação casa de Jorge Amado Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos Dando porrada na nuca de malandros pretos De ladrões mulatos e outros quase brancos Tratados como pretos Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos) E aos quase brancos pobres como pretos Como é que pretos, pobres e mulatos E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados E não importa se os olhos do mundo inteiro Possam estar por um momento voltados para o largo Onde os escravos eram castigados E hoje um batuque um batuque Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária Em dia de parada E a grandeza épica de um povo em formação Nos atrai, nos deslumbra e estimula Não importa nada: Nem o traço do sobrado Nem a lente do fantástico, Nem o disco de Paul Simon Ninguém, ninguém é cidadão Se você for a festa do pelô, e se você não for Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer Plano de educação que pareça fácil Que pareça fácil e rápido E vá representar uma ameaça de democratização Do ensino do primeiro grau E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto E nenhum no marginal E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco Brilhante de lixo do Leblon E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo Diante da chacina 111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos E quando você for dar uma volta no Caribe E quando for trepar sem camisinha E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba Pense no Haiti, reze pelo Haiti O Haiti é aqui O Haiti não é aqui” Enquanto isso, morrem de 40 a 60 mil pessoas por ano vítimas do trânsito no Brasil. Nos Estados Unidos, em 2005, o tabagismo respondeu por cerca de 467 000 mortes, contra 395 000 causadas pela hipertensão (fazem parte das mortes chamadas preveníveis, pois são decorrentes de fatores que podemos prever e modificar). Sim, eu me sensibilizei com o que aconteceu no Haiti, e até mesmo com a ajuda financeira enviada por celebridades como Madonna (250 mil dólares), Angelina Jolie e Brad Pitt (1 milhão de dólares) e Gisele Bundchen (1,5 milhões de dólares). Acho que tem que ser feito de tudo que é humanamente possível para amenizar o sofrimento da população haitiana. Mas, além disso – e muito além disso – precisamos sempre lembrar que, apesar do Haiti não ser aqui, o Haiti é aqui, dentro de cada uma de nossas consciências, e é medido pelas nossas atitudes, pelas nossas escolhas. Vou beber e dirigir? Vou passar o volante para alguém que não consumiu álcool? Vou fumar? Vou cessar o tabagismo? Vou assistir à Rede Globo e à Veja e continuar aceitando a alienação e bonnerismos enjoativos? Vou buscar na mídia alternativa a informação real sobre os fatos da atualidade? Hoje, mídia é ficção. É tão boa literatura quanto uma revista com 40% de suas páginas repletas de publicidade que dizem ao corpo editorial como devem se manifestar. Hoje, o ouvido dos telespectadores e dos radiouvintes é penico, e seu olhos uma latrina, onde são despejados urina e merda na forma de informação distorcida emocionalmente para criar um espetáculo que não alimenta, pelo contrário, é o mais puro excremento das elites alienantes. Falta à mídia uma “antimídia” poderosa, capaz de lhe fazer frente e anunciar, aos brados, cada vez que se perpetrar infâmias como as que vemos TODOS OS DIAS na tela daquela caixa de raios catódicos (ou LCD, ou plasma…). Guy Debord já nos avisa há tempos e, mesmo assim, parece que – como grupo, como coletivo – somos incapazes de aprender. Achei que nunca iria dizer isso, mas vamos aprender com a canção do Caetano e, se quiser fazer algo mais “material”, você pode ajudar com dinheiro: * Cruz Vermelha: Está recebendo doações em dinheiro feitas por depósito bancário e via celular. Doações materiais ainda não estão sendo aceitas, devido a dificuldade de chegar e estocar os materiais no pais. As informações seguem abaixo: Nome: Comitê Internacional da Cruz Vermelha Banco: HSBC Agência: 1276 CC: 14526-84 CNPJ: 04359688/0001-51 – Mensagens via celular: $10 enviando um SMS com a palavra “Haiti” para 90999 * Embaixada da República do Haiti: também está recebendo doações em dinheiro. – Nome: Embaixada da República do Haiti Banco: Banco do Brasil Agência: 1606-3 CC: 91000-7 CNPJ: 04170237/0001-71 * Viva Rio: A instituição está desde 2004 no Haiti, onde desenvolve projetos sociais ligados às áreas de segurança, desenvolvimento e meio ambiente, também abriu uma conta para quem quer fazer doações às vítimas do terremoto”. – Banco: Banco do Brasil Agência: 1769-8 CC: 5113-6 CNPJ: 00343941/0001-28 Finalmente, para doar para os Médicos Sem Fronteiras, visite à página deles e preencha o Formulário de Doação em http://www.msf.org.br/haiti/formulario/index.html Refletir é bom. Arregaçar as mangas e FAZER, mais ainda. Rafael Reinehr