Rotas Alteradas By Afonso Henrique Oliveira Félix / Share 0 Tweet Há muitos meses não escrevo nada aqui na minha coluna, e olhando agora para esse período parece que andei meio embriagado com as discografias de Van Morrisson e de Leonard Cohen, que venho aos poucos baixando, álbum por álbum, e dedicando longas horas no carro ou na minha cabeceira… Na verdade muitas coisas muito boas aconteceram em termos musicais em Porto Alegre, desde agosto, quando escrevi a última edição de Rotas Alteradas. A capital entrou mesmo de cabeça no circuito internacional, e não foi somente Porto Alegre, mas o Vale dos Sinos também ganhou o belíssimo Teatro da Feevale, o que resultou num upgrade irresistível na qualidade cultural da região. Tive a oportunidade de assistir ao show de Eric Clapton, que teria sido inesquecível se tivesse ocorrido num teatro, uma vez que era um repertório de clássicos, vestidos com arranjos irretocáveis, mas que não chegaram a aquecer os milhares de pessoas que se aglomeraram ao ar livre no estacionamento do SESI. Ficou aquela sensação de decepção misturada com adrenalina contida… A sensação que eu tenho mesmo é que teria sido melhor assistir ao DVD em casa, do que ficar vendo o cara por um telão a 200m de distância (e sem visibilidade nenhuma das pessoas que estavam no palco). Faz parte… Me fez vacilar na hora de decidir comprar o ingresso para The Wall de Roger Waters que deve acontecer em março próximo. (acho que não vou…) Ainda no final do inverno de Porto Alegre rolaram os shows imperdíveis de dois Argentinos em Porto Alegre. Soledade Villamil e Pedro Aznar. Villamil realmente se supera no palco, onde a grande atriz do filme vencedor do Oscar de 2010 “O segredo de seus olhos” interpreta grandes canções argentinas com vigor e grande sensibilidade. E Pedro Aznar, que eu conhecia antes somente de uma canção gravada em parceria com Vitor Ramil (Subte do álbum tambong), mostrou-se um perfeccionista em show solo no palco com arranjos impecáveis, tocando vários instrumentos, misturando a modernidade com canções tradicionais de autores de diversos estilos. Destaque para “While my guitar gently weeps” de George Harrison, “Calling you” do filme Bagdad Café, “Los hermanos” de Yupanki e outras pérolas. No teatro da Feevale, a inauguração em grande estilo ficou por conta de Jose Carreras, uma estréia internacional inédita e de um nível tal que o Vale dos Sinos não via há muitas décadas. E ainda a nova formação de Buena Vista Social Club, com seu son cubano cheio de ritmo, calor e novos talentos que são essenciais para a transmissão do estilo dos velhinhos para a nova geração. Grande espetáculo! Bem, quanto as minhas descobertas mais recentes, tenho ouvido muito o Sufjan Stevens, que é um jovem americano com grande sensibilidade (que não por acaso também é morador do Brooklyn em NY, o lugar onde quero estar), e com uma produção muito prolífica no início desse século. O disco Illinois de 2005 e o subseqüente Avalanche com os restos de estúdio do anterior, são incríveis. E Illinois está cotado entre os 10 melhores álbuns produzidos nos EUA na primeira década. Eu ouvi o Sufjan Stevens pela primeira vez na canção John Wayne Gacy jr., uma canção belíssima sobre um tema lúgubre: John Wayne Gacy foi um serial killer que matou 26 jovens americanos, após abusar sexualmente deles, e enterrou no porão de sua casa em Illinois. O cara era um andarilho muito conhecido na região que estava sempre vestido de palhaço, e era muito popular onde morava e muito querido da população e das crianças, que atraía com facilidade com seu carisma. O clipe que eu adiciono a seguir é uma forte reflexão sobre tudo isso… Beleza e melancolia combinadas de uma maneira sublime… http://www.youtube.com/watch?v=otx49Ko3fxw E deixo também uma outra canção que acho muito divertida, “The Henney Buggy Band”. Cola que nem chiclé! http://www.youtube.com/watch?v=ya8WTp_LbJ4