Zeitgeist Debate By Juliano Moreira / Share 0 Tweet É com um imenso prazer que inicio este primeiro texto para O Pensador Selvagem. A proposta aqui é debater livremente sobre as idéias acerca do Movimento Zeitgeist, o Projeto Venus, a economia baseada em recursos e tantos outros inúmeros assuntos direta e indiretamente envolvidos. Estarei aqui com vocês, semanalmente, pronto para produtivas conversas alimentadas por muitas dúvidas, exclamações e quebras de paradigma. Ok, admito que comecei sem muito contexto. Afinal, o que são aqueles nomes que acabei de citar? Zeitgeist? Venus? Que coisa de economia é essa? Alguns aqui podem já estar carecas de saber do que se tratam todos esses termos. Para aqueles que não sabem, coloquem em mente que serão nomes cada vez mais populares em suas vidas diárias. Curioso? Pois bem, é hora de explicar. Desde que recebi o convite de Rafael Reinehr para assumir como colunista do OPS!, tenho pensado na melhor maneira de introduzir o assunto aqui. E sabe em que eu pensei? Em nada! Ou melhor, nada é o que direi. Ao menos nada diretamente relacionado com o tema. Vou apresentar o assunto a você, meu querido leitor, de forma gradual, ao longo dos próximos textos. Para início de conversa, vamos refletir um pouco. Que tal abordamos um dos assuntos mais freqüentes do momento? Sustentabilidade. Quando falamos sobre este assunto, imagino que vem à sua cabeça algumas imagens de grandes montanhas de lixo, florestas em chamas, aquecimento global, reuso de água, entre muitas outras. É próxima a esta linha de raciocínio que quero discutir com você. Vamos ver um exemplo que pode ser encontrado em qualquer supermercado ou lojinha de bairro. Garrafas de Coca-Cola. Sorrisos à parte, temos mesmo o que comemorar? Esta imagem que você vê aí faz parte da campanha chamada Viva Positivamente. O anúncio feito na garrafa refere-se especificamente sobre o aspecto Embalagens Sustentáveis da campanha. 53,5 % de garrafas PET recicladas é um bom motivo para nós, amigos de um planeta sustentável, comemoramos, não? Não, não é. E mesmo que fosse 100 %, ainda não seria justificativa para termos um sorriso estampado em nossos rostos. “Como assim, Juliano?”. Pois é, lembre-se que lá em cima está escrito “produtivas conversas alimentadas por muitas dúvidas, exclamações e quebras de paradigma”. Já tivemos os três. Viva! Fritjof Capra, um físico brilhante a favor do desenvolvimento humano holístico, é também autor de vários livros. Um destes, As Conexões Ocultas, trata sobre sustentabilidade de forma muito esclarecedora. Em certo trecho, Capra definiu a sociedade sustentável como “aquela que é capaz de satisfazer suas necessidades sem comprometer as chances de sobrevivência das gerações futuras.” E ele segue dizendo que “entretanto, essa definição nada tem a nos dizer sobre como construir uma sociedade sustentável. É por isso que, mesmo dentro do movimento ambientalista, tem havido muita confusão sobre o sentido dessa ‘sustentabilidade’.” Dê mais importância para aquilo que te cerca. =) É neste momento, leitor, que pergunto: você, eu e a Coca-Cola, somos sustentáveis? Estamos garantindo nossas necessidades (e de toda a sociedade)? Não, não estamos. Por exemplo, de acordo com a ONU, cerca de 1,4 bilhão de pessoas “vivem” com menos de US$ 1,25 por dia, a linha internacional de pobreza definida pelo Banco Mundial. E segue definindo pobreza como “a falta de acesso a recursos, emprego e renda, resultando em um estado de privação material.” Quem tem privação material, não tem casa nem comida. Isso é uma não-garantia às necessidades. Isso é insustentabilidade. Se não garantimos no presente, não vale nem o esforço de refletirmos sobre o futuro. Ok, mas então o que seria uma sociedade sustentável na prática? Para resumir esta resposta, vamos nos manter apenas na perspectiva que as garrafas de refrigerante representam, a indústria. Capra diz que “todos os produtos e materiais fabricados pela indústria, bem como os subprodutos gerados no processo de manufatura, devem, em algum momento, servir para nutrir alguma outra coisa. Uma empresa sustentável estaria inserida numa ‘ecologia das empresas’, na qual os subprodutos de uma empresa seriam os recursos de outra. Num tal sistema industrial sustentável, a produção total de uma empresa – seus produtos e resíduos – seria considerada como um conjunto de recursos que circulam dentro do sistema.” Ou seja, se existe absolutamente qualquer forma de resíduo / lixo, há insustentabilidade. Pergunta-se então se 100 % daquelas garrafas fossem recicladas, o que acontece com a poluição emitida pelos caminhões que as transportam? O que acontece com o esgoto que sai da sede da empresa? O que acontece com os restos de comida que sobram no restaurante que vende as bebidas? O que acontece com o brinde que os funcionários da empresa ganharam no natal passado que está pegando pó esquecido em cima de um armário? Por não valer nada é tão valioso. Acho que você já entendeu a questão. Emissão zero. Zero total. Você já viu algum humano, seja indivíduo ou sociedade com zero emissão de resíduo? Com a palavra novamente, Fritjof Capra, “o princípio de emissão zero implica também, em última análise, um consumo material zero. À semelhança dos ecossistemas da natureza, uma comunidade humana sustentável usaria a energia que vem do Sol, mas não consumiria nenhum bem material sem depois reciclá-lo. Em outras palavras, não usaria nenhum material ‘novo’. Além disso, emissão zero significa poluição zero.” E vou parando por aqui neste primeiro texto. Espero que você tenha gostado. Há muito ainda sobre o que falarmos. Além disso, o assunto principal, que dá título a esta coluna, ainda está por vir. Até lá, leia, comente, grite por aí, vamos juntos fazer alguma coisa produtiva por nós mesmos. Até mais!