Lanterna de Diógenes By plamarques / Share 0 Tweet Inauguro hoje minha coluna mensal no OPS, que se chamará “Lanterna de Diógenes”. Como texto de abertura apresento o sentido do nome dado a este espaço de escrita. A metáfora desse título tem sua justificação na origem de uma das muitas mensagens criadas pelo filósofo grego Diógenes de Sínope, homem que viveu há mais de vinte e três séculos em Atenas. Esse homem que morava em um tonel e foi chamado de “O cão” por viver como e entre os cães e que, segundo o oráculo, teria como destino “adulterar a moeda”; declarou guerra ao mundo realizando exatamente isso, desfigurando a sua própria “moeda corrente”, ou seja, os valores e convenções correntes que orientavam a vida do povo. Sua missão: demolir o mundo dos homens, suas ficções, crenças, morais, costumes. Para isso sua filosofia de vida enquanto ethos era pautada por exercer sua própria verdade como comportamento. Buscava também encontrar a verdade das coisas existentes, da sociedade, dos seres humanos através da radicalização da ironia socrática, sendo por isso chamado de “Sócrates enlouquecido” . Passeava com sua lanterna acessa, durante o dia, pelas nas ruas de Atenas em busca de “ um homem virtuoso, um homem verdadeiro”. Um homem que não estivesse apenas representando as convenções, ficções e mentiras que sustentavam sua moral. Diógenes tinha um comprometimento com a honestidade, uma inquebrantável decisão de viver uma vida despojada, livre, devotado a autossuficiência, com um vínculo radical com a liberdade de expressão, uma incomum lucidez intelectual e fundamentalmente uma gigantesca coragem de viver segundo suas convicções. Diógenes, o primeiro anarquista?, o primeiro espírito livre?, o primeiro pensador selvagem? Talvez no Ocidente sim… precursor de uma linhagem de pensadores selvagens, tipos como um Rabelais, um Montaigne, um Stirner, um Nietzsche, um Cioran… Combustíveis de qualquer ethos libertário… Por isso, perigosos para muitos, sempre incômodos, sempre selvagens… Se, hoje em dia, nada parece mais ser o que realmente é. Ninguém mais parece ser o que é. Onde o “ser” ou o “algo” ou “alguém”, se resume a “ser autorizado a ser”: “bons cidadãos”, “homens de bem”, “patriotas”, “cidadãos”, “filantropo”, o “educador”, ideologos/sacerdotes/devotos das mais diversas crenças, partidos e igrejas, quem sabe a presença de um cão ladrando, um selvagem com uma lanterna acesa durante o dia não seja cada vez mais necessário, pelo menos para nos manter despertos, de olhos bem abertos… Talvez tenha sido essa a ideia de Foucault quando resgatava a ideia de Parrhesía de Diógenes e seus discípulos os Kínicós gregos, ou seja, a prática de falar a verdade de cada um, verdade singular de cada Único e não das convenções da moral de rebanho, dizê-la por inteiro e publicamente em qualquer circunstância. Uma necessidade de lucidez de chamar as coisas pelo seu nome. Ou criar outros nomes… Eis um pouco da ideia que penso para esse locus virtual, a ser usado uma vez por mês, como exercício de uma parrhesía anárkica. A escrita de um pensamento que irrompe da vontade de potência que só tem como sentido ideias, auto-criação…outras ficções…pessoais, individuais. Para quem quiser usá-las como matéria de sua própria verdade ou mentira, seja qual for esteja à vontade. Assim, acendo hoje essa primeira lanterna de Diógenes…