Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Um amigo de um grupo do WhatsApp me pergunta: “Somos prisioneiros da vida ou existe uma lógica a ser descoberta, uma chave, rumo à liberdade do “espírito”? Algo que permita a qualquer um, ao decifrar, evoluir? Já fizeste essa análise? Te interessa essa discussão?” Minha tentação natural é devolver com três outras perguntas: – o que é liberdade? – o que é espírito? – o que é evoluir? A palavra espírito já veio propositadamente grafada entre aspas porque havia uma conversa no grupo sobre a existência ou não do espírito ou da alma e quais seriam as diferenças entre ambos. Claro que, após citações de todas as espécies, de grandes teólogos a filósofos, além das tradicionais opiniões pessoais, a conversa restou inconclusa. Como era de se esperar. E era de se esperar porque, em geral, as pessoas não se preocupam, antes de um debate, em definir o conceito que está sendo debatido. Debater sobre a existência do espírito deveria passar, antes, pela aceitação de um conceito comum sobre o que seja espírito ou alma, vá lá. Alguns diziam: “eu não acredito em espírito”. Outros que “espíritos existem”. Mas em momento algum foi definido o que é espírito, para, ao depois, cada um expressar a sua crença. Não por outra razão pensei em devolver a pergunta, porque mesmo os conceitos de liberdade e evolução não são de comum entendimento. Contive-me, no entanto, e tentei fazer uma análise considerando que ele tenha partido dos conceitos mais usualmente aceitos para liberdade, espírito e evolução, ou seja, “liberdade” como pleno exercício da vontade, “espírito” como o sopro que dá vida a uma massa inerte chamada corpo e “evoluir” como melhorar, progredir, sair de um estágio inferior e ir a um estágio superior. Analisando sob a ótica das religiões de formação judaico-cristã e mesmo nas concepções ou filosofias orientais, a resposta imediata é: sim, existe uma lógica, uma chave que conduz à liberdade do espírito e essa liberdade é considerada como evolução para quem a descobre. Esse conceito, por sinal, é o cerne das religiões, isto é, oferecer a chave do paraíso ou do nirvana. O prêmio para a conduta conforme com os cânones. De salientar que todos esses conceitos são definições e definições são limitações e, portanto, excludentes. Quem define, delimita. E quem delimita o interior automaticamente exclui o exterior. E daí surge a grande necessidade da criação de um universo “superior”, “externo” à consciência humana. A ligação entre esses universos, interior e exterior, se dá pela criação do conceito de espírito como algo “dado” ao homem por um deus ou por vários deuses e, portanto, perene. A consciência tem necessidade de ser perene, pois não consegue, via de regra, elaborar a finitude. Mas e os absolutamente materialistas como ficam nessa história? Aqueles que conseguem elaborar a finitude sem traumas? Terão o pleno exercício da vontade (liberdade) tolhido? Não evoluem? Feitas essas breves considerações – e que jamais chegarão sequer a sola dos pés dos grandes pensadores do assunto – eu diria que não, não somos prisioneiros da vida, mas da morte, da finitude. É a finitude que nos faz ou aceitá-la ou criar religiões, filosofias, maconhas e milhares de soluções para ela. É a finitude que nos faz acumular riquezas materiais tanto quanto a busca pela riqueza espiritual. Por fim, devolvo uma pergunta que não uma das três que formulei no início, mas: liberdade, espírito e evolução não seriam conceitos intimamente derivados da incapacidade que temos em aceitar a finitude, considerando que (1) o que é finito não tem pleno exercício da vontade (pode desejar não morrer, mas morre assim mesmo) e (2) se é finito não tem espírito, posto que o conceito de espírito é de algo perene e (3) não havendo propagação depois da morte (finitude) não há evolução?