De liberdade, espíritos e evolução

Um amigo de um grupo do WhatsApp me pergunta:

“Somos prisioneiros da vida ou existe uma lógica a ser descoberta, uma chave, rumo à liberdade do “espírito”? Algo que permita a qualquer um, ao decifrar, evoluir? Já fizeste essa análise? Te interessa essa discussão?”

Minha tentação natural é devolver com três outras perguntas:

– o que é liberdade?

– o que é espírito?

– o que é evoluir?

A palavra espírito já veio propositadamente grafada entre aspas porque havia uma conversa no grupo sobre a existência ou não do espírito ou da alma e quais seriam as diferenças entre ambos.

Claro que, após citações de todas as espécies, de grandes teólogos a filósofos, além das tradicionais opiniões pessoais, a conversa restou inconclusa. Como era de se esperar.

E era de se esperar porque, em geral, as pessoas não se preocupam, antes de um debate, em definir o conceito que está sendo debatido. Debater sobre a existência do espírito deveria passar, antes, pela aceitação de um conceito comum sobre o que seja espírito ou alma, vá lá.

Alguns diziam: “eu não acredito em espírito”. Outros que “espíritos existem”. Mas em momento algum foi definido o que é espírito, para, ao depois, cada um expressar a sua crença.

Não por outra razão pensei em devolver a pergunta, porque mesmo os conceitos de liberdade e evolução não são de comum entendimento. Contive-me, no entanto,  e tentei fazer uma análise considerando que ele tenha partido dos conceitos mais usualmente aceitos para liberdade, espírito e evolução, ou seja, “liberdade” como pleno exercício da vontade, “espírito” como o sopro que dá vida a uma massa inerte chamada corpo e “evoluir” como melhorar, progredir, sair de um estágio inferior e ir a um estágio superior.

Analisando sob a ótica das religiões de formação judaico-cristã e mesmo nas concepções ou filosofias orientais, a resposta imediata é: sim, existe uma lógica, uma chave que conduz à liberdade do espírito e essa liberdade é considerada como evolução para quem a descobre. Esse conceito, por sinal, é o cerne das religiões, isto é, oferecer a chave do paraíso ou do nirvana. O prêmio para a conduta conforme com os cânones.

De salientar que todos esses conceitos são definições e definições são limitações e, portanto, excludentes. Quem define, delimita. E quem delimita o interior automaticamente exclui o exterior. E daí surge a grande necessidade da criação de um universo “superior”, “externo” à consciência humana.

A ligação entre esses universos, interior e exterior, se dá pela criação do conceito de espírito como algo “dado” ao homem por um deus ou por vários deuses e, portanto, perene. A consciência tem necessidade de ser perene, pois não consegue, via de regra, elaborar a finitude.

Mas e os absolutamente materialistas como ficam nessa história? Aqueles que conseguem elaborar a finitude sem traumas? Terão o pleno exercício da vontade (liberdade) tolhido? Não evoluem?

Feitas essas breves considerações – e que jamais chegarão sequer a sola dos pés dos grandes pensadores do assunto – eu diria que não, não somos prisioneiros da vida, mas da morte, da finitude.

É a finitude que nos faz ou aceitá-la ou criar religiões, filosofias, maconhas e milhares de soluções para ela. É a finitude que nos faz acumular riquezas materiais tanto quanto a busca pela riqueza espiritual.

Por fim, devolvo uma pergunta que não uma das três que formulei no início, mas: liberdade, espírito e evolução não seriam conceitos intimamente derivados da incapacidade que temos em aceitar a finitude, considerando que (1) o que é finito não tem pleno exercício da vontade (pode desejar não morrer, mas morre assim mesmo) e (2) se é finito não tem espírito, posto que o conceito de espírito é de algo perene e (3) não havendo propagação depois da morte (finitude) não há evolução?

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Luiz Afonso Alencastre Escosteguy

Apenas o que hoje chamam de um idoso. Parodiando Einstein, só uma coisa é infinita: a hipocrisia. E se você precisou saber meu "currículo" para gostar ou não do que eu escrevo, pense bem, você é sério candidato a ser mais um hipócrita!

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