Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Quem forma nossa opinião? Dito de outra forma: quem são os tais e famosos “formadores de opinião”? Não importa quem, ou quantos sejam, são pessoas inteligentes e amparadas por uma poderosa indústria que sabe que o comum dos mortais – a maioria, portanto – é presa fácil de ideias estereotipadas sobre tudo. Vivemos de pensamentos fáceis, que nos isentam da árdua tarefa de analisar e que nos permitem a reprodução em rodinhas de chop sem temer aquilo que todos tememos: não fazer parte da boiada. Tenho a impressão de um dos fatores de sucesso das “redes sociais”, até mesmo pelas limitações impostas pelas ferramentas, é justamente a fácil propagação desses “lugares comuns” que os formadores de opinião costumam espalhar. E um dos grandes estereótipos sociais de fácil propagação, mas de difícil contraposição (dado que nenhum formador de opinião faz questão de mudar) é o de que somente as mulheres têm dupla jornada. Homem quando ajuda nas tarefas domésticas não faz mais que a obrigação. Há tempos percebe-se o desenrolar de uma campanha para destruir o mito do homem. Tomo como exemplo, dentre milhares, duas novelas da Globo e a propaganda da Hope. Na propaganda da Hope, mais do que nos fazer parecer idiotas que tudo aceitam em troca de breves momentos de retorno ao local de nascimento, a propaganda queria trazer à tona dois conceitos que andavam meio esquecidos: sexismo e machismo. E conseguiu. Sexista e machista foram palavras mais usadas por tod@s quantos escreveram ou falaram sobre o comercial. Só que num viés reprovável, pois ainda associadas à figura do homem; reforçando o estereótipo existente, isto é, só homens são sexistas e machistas. Uma das personagens de maior relevo na novela Insensato Coração – Douglas, por Ricardo Tozzi – foi tudo quanto os formadores de opinião sonham para descontruir a imagem do homem: um boçal retardado, objeto, na sua ignorância musculosa, de uma ninfomaníaca. O fato de Bibi (Maria Clara Gueiros) ser uma ninfomaníaca soou até como elegia à independência sexual feminina, mas jamais como sexismo ou machismo. Na novela A Vida da Gente, a Globo arrisca tiro mais longo: inverte papéis. Temos um homem de profissão “do lar”. E como ele está travestido? De mulher. Não é um homem NO lar, mas um homem que só poderia ficar no lar se assumisse comportamentos e toda uma tipologia feminina: vai ao clube e se dá bem com todas as mães; fala manso e, pior de tudo, é cobrado pela mulher provedora. São essas as opiniões que queremos que se formem na sociedade? Nas crianças? A opinião de que quando os homens fazem algo não fazem mais que a obrigação? E para que possam fazer têm sempre que ser os femininos da hora? E por que também não é dito que estão formando mulheres tal qual o combatido rótulo do homem: sexistas e machistas? Não é possível que homens, ainda sendo homens, possam participar NO lar, nas relações, na sociedade, ainda como homens? E admitir que ao menos uma significativa parcela assume isso com naturalidade, sem que isso signifique submissão? Parece ser mais fácil para os tais e famosos formadores de opinião apostar nas presas fáceis que adoram ver homens cumprindo a sua obrigação.