– Preciso urgentemente de um médium.
– Para?
– Perdi meu celular.
– Nunca mais venho de bicicleta aqui.
– Como?
– Se eu tivesse três mães, queria que elas se chamassem Santa Maria, Pinta e Nina.
– Como?
– Ué, você tá falando frases sem sentido. Eu achei que era competição.
– Quando eu falei frases sem sentido?
– Primeiro falou do médium. Depois, que perdeu o celular. Achei que não houvesse ligação.
– Aí é que você se engana. Eu preciso de um médium justamente para que ele localize meu celular.
– Já pensou em ligar para ele?
– Pro médium? Como, se eu perdi o celular?
– Não, imbecil. Para seu celular. Vai que você ouve onde ele tá.
– Eu liguei, mas ninguém atendeu. Além do mais, lembrei de qu deixei ele no silencioso. Logo, vai ser difícil encontrá-lo.
– Lembra onde perdeu?
– Bom, eu tava com ele na mão durante o jogo do Corinthians. Daí, depois que saiu o gol do Gordo, comecei a pular e a gritar “oooo, o Gordão voltou!” e não o vi mais. Ele deve estar em algum lugar na sala de casa. Mas não acho nem por um capeta.
-E qual a teoria do médium?
– Ah, eu acho que se eu chamasse um paranormal, ele poderia mentalizar e dizer para mim onde está o celular. Não aguento mais perder celular. É o quinto em 3 anos. Sendo que esse é o mesmo que perdi no carnaval, que foi encontrado sob as areias de Copacabana, depois que um trator passou por cima.
– E, pelo que eu ouvi falar, não foi a única coisa que você perdeu no Carnaval, né?
– Não, não foi. Se eu não me engano muito, perdi também oito chapéus panamá, um óculos escuro, R$ 200, um chip de celular e duas camisetas.
– Rapaz…
– Pois é. Acho que pelos excessos, perdi também uns 7 anos de vida. De memória mesmo, perdi quase tudo o que rolou no Carnaval. Sobraram umas 30 horas dos seis dias de farra. E o que eu me lembro não é muito bom. As lembranças têm a ver com beber conhaque com idosos desconhecidos e visitas a Niterói, em companhia de mais desconhecidos.
– Certo. Mas voltando ao médium e ao seu celular. Será que daria certo?
– Bom, acho que pode ser. Não precisa ser um médium médium. Pode ser qualquer paranormal meia-boca mesmo, como a mãe Dinah. Só preciso de uma dica de onde está o telefone.
– Ela é bem meia-boca mesmo. É capaz de ela ficar meia hora mentalizando a sua sala e quando terminar dizer que não sabe onde está o celular, mas que tem certeza que um grande shopping no ABC paulista vai despencar. Ela fala isso há anos.
– Ou que um grande atentado de repercussão mundial irá acontecer em 2009. Ela é bem genérica nas previsões.
– Pois é. É capaz dela aparecer na sua sala, mentalizar – ou sei lá como ela faz as previsões – e dizer: ‘o seu celular está… no Brasil’.
– Já desisti dela. Talvez um tarólogo pudesse me ajudar. Ou mesmo algum astrólogo. O negócio vai ser apelar para o além, porque eu mesmo já desisti de procurar.
– Uma boa pedida seria usar um detector de metal. Ele poderia ajudar a localizar seu celular.
– A idéia é boa, mas muito científica. E eu não sei onde arrumar um detector de metais.
– Como não? Em banco, uai.
– E eu vou trazer um banco para cá?
– Não. Só o detector. A gente pode ir em qualquer agência do Bradesco e pedir para o gerente emprestar por alguns minutos. A gente pega, leva na sua casa e passa na sala. Ele detecta e a gente traz de volta.
– Sei não. Acho que vou tentar um paranormal. Se não der, apelo para um cão farejador. Se mesmo assim não der, daí vou a um banco de peço emprestado. Mas não pode ser Bradesco.
– Por que não?
– Eu nunca, nunca fui barrado em nenhuma porta de Bradesco. E eu sempre entro neles com chave, celular, guarda-chuva. Uma vez, numa agência aqui perto, entrei com patins de gelo e uma pistola na mala.
– E por que você tava andando com patins de gelo e uma pistola em uma mala?
– Eu não estava. Quando cheguei ao banco, do lado de fora, um estranho pediu para eu entrar com eles no banco e entregar para um amigo dele, que estava lá dentro. Eu, que sou muito gentil, assim o fiz. Parece que o banco foi assaltado coisa de minutos depois de eu sair. Mas acho que uma coisa não tem a ver com a outra.
– É mentira, né?
– É sim. Mas achei que a história ficaria boa. De qualquer forma, os detectores de metal do Bradesco são os piores. Acho que o ideal seria pedirmos para alguma agência da Caixa Econômica Federal.
– O detectores deles são mais fortes?
– Acho que já li em mais de uma reportagem de mulheres que tiveram de tirar a roupa do lado de fora do banco para poder passar no detector. Pensando bem, gostei da idéia do detector. Vou passá-la a frente dos paranormais e dos cães policiais.
– Só tem um problema: e se não emprestarem o detector?
– A gente pode roubar. Imagina que legal, roubar um banco e nem encostar no dinheiro. Somente roubar o detector de metal.
– Excelente. Vamos lá. E se tudo mais der errado, a gente ainda pode dar sorte de ver alguma peladona tentando entrar no banco.
– Demorou.
– Preciso urgentemente de um médium.
– Para?
– Perdi meu celular.
– Nunca mais venho de bicicleta aqui.
– Como?
– Se eu tivesse três mães, queria que elas se chamassem Santa Maria, Pinta e Nina.
– Como?
– Ué, você tá falando frases sem sentido. Eu achei que era competição.
– Quando eu falei frases sem sentido?
– Primeiro falou do médium. Depois, que perdeu o celular. Achei que não houvesse ligação.
– Aí é que você se engana. Eu preciso de um médium justamente para que ele localize meu celular.
– Já pensou em ligar para ele?
– Pro médium? Como, se eu perdi o celular?
– Não, imbecil. Para seu celular. Vai que você ouve onde ele tá.
– Eu liguei, mas ninguém atendeu. Além do mais, lembrei de qu deixei ele no silencioso. Logo, vai ser difícil encontrá-lo.
– Lembra onde perdeu?
– Bom, eu tava com ele na mão durante o jogo do Corinthians. Daí, depois que saiu o gol do Gordo, comecei a pular e a gritar “oooo, o Gordão voltou!” e não o vi mais. Ele deve estar em algum lugar na sala de casa. Mas não acho nem por um capeta.
-E qual a teoria do médium?
– Ah, eu acho que se eu chamasse um paranormal, ele poderia mentalizar e dizer para mim onde está o celular. Não aguento mais perder celular. É o quinto em 3 anos. Sendo que esse é o mesmo que perdi no carnaval, que foi encontrado sob as areias de Copacabana, depois que um trator passou por cima.
– E, pelo que eu ouvi falar, não foi a única coisa que você perdeu no Carnaval, né?
– Não, não foi. Se eu não me engano muito, perdi também oito chapéus panamá, um óculos escuro, R$ 200, um chip de celular e duas camisetas.
– Rapaz…
– Pois é. Acho que pelos excessos, perdi também uns 7 anos de vida. De memória mesmo, perdi quase tudo o que rolou no Carnaval. Sobraram umas 30 horas dos seis dias de farra. E o que eu me lembro não é muito bom. As lembranças têm a ver com beber conhaque com idosos desconhecidos e visitas a Niterói, em companhia de mais desconhecidos.
– Certo. Mas voltando ao médium e ao seu celular. Será que daria certo?
– Bom, acho que pode ser. Não precisa ser um médium médium. Pode ser qualquer paranormal meia-boca mesmo, como a mãe Dinah. Só preciso de uma dica de onde está o telefone.
– Ela é bem meia-boca mesmo. É capaz de ela ficar meia hora mentalizando a sua sala e quando terminar dizer que não sabe onde está o celular, mas que tem certeza que um grande shopping no ABC paulista vai despencar. Ela fala isso há anos.
– Ou que um grande atentado de repercussão mundial irá acontecer em 2009. Ela é bem genérica nas previsões.
– Pois é. É capaz dela aparecer na sua sala, mentalizar – ou sei lá como ela faz as previsões – e dizer: ‘o seu celular está… no Brasil’.
– Já desisti dela. Talvez um tarólogo pudesse me ajudar. Ou mesmo algum astrólogo. O negócio vai ser apelar para o além, porque eu mesmo já desisti de procurar.
– Uma boa pedida seria usar um detector de metal. Ele poderia ajudar a localizar seu celular.
– A idéia é boa, mas muito científica. E eu não sei onde arrumar um detector de metais.
– Como não? Em banco, uai.
– E eu vou trazer um banco para cá?
– Não. Só o detector. A gente pode ir em qualquer agência do Bradesco e pedir para o gerente emprestar por alguns minutos. A gente pega, leva na sua casa e passa na sala. Ele detecta e a gente traz de volta.
– Sei não. Acho que vou tentar um paranormal. Se não der, apelo para um cão farejador. Se mesmo assim não der, daí vou a um banco de peço emprestado. Mas não pode ser Bradesco.
– Por que não?
– Eu nunca, nunca fui barrado em nenhuma porta de Bradesco. E eu sempre entro neles com chave, celular, guarda-chuva. Uma vez, numa agência aqui perto, entrei com patins de gelo e uma pistola na mala.
– E por que você tava andando com patins de gelo e uma pistola em uma mala?
– Eu não estava. Quando cheguei ao banco, do lado de fora, um estranho pediu para eu entrar com eles no banco e entregar para um amigo dele, que estava lá dentro. Eu, que sou muito gentil, assim o fiz. Parece que o banco foi assaltado coisa de minutos depois de eu sair. Mas acho que uma coisa não tem a ver com a outra.
– É mentira, né?
– É sim. Mas achei que a história ficaria boa. De qualquer forma, os detectores de metal do Bradesco são os piores. Acho que o ideal seria pedirmos para alguma agência da Caixa Econômica Federal.
– O detectores deles são mais fortes?
– Acho que já li em mais de uma reportagem de mulheres que tiveram de tirar a roupa do lado de fora do banco para poder passar no detector. Pensando bem, gostei da idéia do detector. Vou passá-la a frente dos paranormais e dos cães policiais.
– Só tem um problema: e se não emprestarem o detector?
– A gente pode roubar. Imagina que legal, roubar um banco e nem encostar no dinheiro. Somente roubar o detector de metal.
– Excelente. Vamos lá. E se tudo mais der errado, a gente ainda pode dar sorte de ver alguma peladona tentando entrar no banco.
– Demorou.
Leia no blog de origem: Dois vezes Um