Valorização do Real e Populismo Cambial


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Diversos ciclos de crescimento econômico no Brasil foram interrompidos por crises externas e no balanço de pagamentos. Nestes momentos de crise são as camadas pobres da população que mais sofrem, assim como o sonho de construir um país mais justo e próspero.

Esta realidade histórica nos vem à lembrança neste momento em que o país projeta um crescimento do PIB acima de 5% para os anos de 2010 e 2011. Será que o Brasil vai entrar em um ciclo de crescimento econômico sustentado ou simplesmente passaremos por uma bolha e uma próxima “herança maldida”?

O economista Paulo Nogueira Batista Junior, grande estudioso das questões econômicas nacionais e atual diretor-executivo no FMI por indicação do governo brasileiro, escreveu um artigo recente sobre a supervalorização do real e o agravamendo das contas externas do Brasil. Ele indicou várias medidas que precisam ser implementadas e concluiu: “Em síntese, o Brasil não está condenado a recair no desequilíbrio externo e a conviver com um câmbio perigosamente sobrevalorizado. Pode e deve agir agora para impedir que o problema continue se agravando” (FSP, 21/01/2010).

De fato, o Brasil apresentou um deficit externo de US$ 24,3 bilhões em 2009, representando 1,5% do PIB. Este desequilíbrio foi contrabalançado pela entrada de US$ 70 bilhões de capitais externos em investimentos diretos e aplicações em ações da bolsa de valores. Aparentemente os resultados foram bons, pois com a sobra de US$ 46,7 bilhões, as reservas internacionais chegaram a mais de US$ 240 bilhões.

Contudo, a permanencia de um Real forte tem levado a uma projeção de um rombo próximo a US$ 50 bilhões em 2010 e outro ainda maior em 2011. A balança comercial brasileira apresentou um déficit de quase US$ 170 milhões em janeiro de 2010. Tais cifras podem ser entendidas como um sinal de alerta de que se estaria gerando uma nova “herança maldita” provocada pelo atual “populismo cambial”.

Os otimistas consideram que esta situação é “administrável”, pois os crescentes déficits estão sendo financiados, até o momento, por recursos que não são provenientes de novas dívidas, já que 75% do passivo externo brasileiro – que chegava a um montante próximo a US$ 1 trilhão em dezembro de 2009 – encontrava-se na forma de ações em bolsa e de investimentos diretos no capital das empresas.

Já os pessimistas consideram que deficits de 4% ou 5% do PIB em 2010 e 2011 não deveriam ser encarados como sinais de força do país, mas apresentam sim um “calcanhar de Aquiles” que aumenta a vulnerabilidade nacional, pois déficits externos elevados submetem o país à dinâmica econômica dos países credores e às oscilações dos fluxos de capitais que variam com as crises internacionais.

Outro problema da supervalorização do Real é o fenômeno da desindustrialização. As exportações brasileiras para a América do Norte e Europa estão diminuindo ou perdendo peso relativo ao mesmo tempo que crescem para a China, que passou a ser o nosso principal parceiro comercial. Aparentemente estamos apenas diversificando os nossos parceiros no comércio internacional. Porém, a perda das exportações para os dois primeiros blocos citados é predominantemente de produtos industriais, enquanto as exportações para a China são predominantemente de comodities (produtos básicos e de baixo valor agregrado). Se está tendência continua o Brasil voltará ao padrão de “exportador primário” típico da Primeira República (1989-1930), com um forte efeito negativo sobre a industria brasileira.

Está situação é muito prejudicial para o futuro do país e não vai ser solucionada com os recursos do pré-sal. Ao contrário, se o país ficar dependente das exportações de petróleo, além dos danos ambientais, estará entrando na fase de morbidade da chamada “doença holandesa”, que diz respeito aos problemas decorrentes de uma crescente dependência da exploração de recursos naturais, concomitantemente ao declínio do setor industrial (que é o local onde são gerados os empregos mais qualificados).

Por tudo isto cabem as seguintes perguntas: vale a pena manter a moeda brasileira supervalorizada? Vale a pena ficar contanto com os recursos do pré-sal para financiar os crescentes déficits externos? Ou o Brasil precisa mudar os rumos de sua política macroeconômica?

 

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José Eustáquio Diniz Alves