Sapere Aude!


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Sapere aude é uma expressão do latin que significa "ouse saber" ou "tenha coragem de usar seu próprio intelecto". A racionalidade e a inteligência são as mais genuinas características do seres humanos.

Os pensadores iluministas acreditavam na aplicação do conhecimento humano a todos os campos de atuação prática e no combate à ignorância, à tirania, às supertições e aos preconceitos. Os iluministas acreditavam na “perfectibilidade humana” e na racionalidade como contrapontos à Idade das Trevas. A idéia é que o indivíduo possa contribuir para o aperfeiçoamento social e – junto com as instituições da sociedade civil e do Estado – possa haver um esforço conjunto para preparar um futuro melhor para a humanidade.

Voltaire (1694-1778), no seu livro O século de Luís XIV, divide a história em quatro grandes séculos: o primeiro deles foi o século de Alexandre da Macedônia que produziu homens ilustres como Péricles, Demóstenes, Platão e Aristóteles. O segundo grande século foi o de Augusto que produziu filósofos, historiadores e poetas como Cícero, Tito Lívio, Horácio e Ovídio. O terceiro grande século foi o do Renascimento, marcado por figuras exponenciais como Ticiano, Michelangelo, Tasso, Ariosto e Da Vinci. Por último, mas não menos importante, o “Século das Luzes”, época de destaque na qual ocorreu uma revolução nas artes, nas ciências, nos costumes, na economia e nas formas de governo. A despeito de sua perspectiva eurocêntrica, Voltaire considerava a acumulação mundial do conhecimento o motor dinâmico da história, sendo que o predomínio da razão humana teria sido a responsável pelas eras de progresso e a predominância da ignorância e do preconceito a responsável pelas eras de  retrocesso.

O Marquês de Condorcet (1743-1794), inspirado em Voltaire e no pensamento iluminista, escreveu o livro Esboço de um quadro histórico dos progressos do espírito humano, em que defendia duas idéias fundamentais: o ser humano é um ser indefinidamente perfectível e a história, apesar de alguns reveses, possui um eixo marcado pelo progresso. Ele discordava, portanto, daqueles que defendiam a concepção de que a civilização é sempre acompanhada da degeneração progressiva do homem primitivo, representado na figura mítica do “Bom Selvagem”. Condorcet considerava que a pobreza, a miséria e a ignorância poderiam ser superadas por uma revolução social que modificasse as instituições humanas e libertasse o desenvolvimento das ciências, da cultura e das artes.

A idéia de “perfectibilidade humana” implica o predomínio da racionalidade e a valorização da razão como condições essenciais para o progresso humano e a melhoria da qualidade de vida no Planeta. A racionalidade é a base do iluminismo (ou ilustração). Para Immanuel Kant (1724 – 1804):

"A ilustração é a saída do homem de sua menoridade, da qual é o próprio culpado. A menoridade é a incapacidade de se servir de seu entendimento sem a direção de outrem. O homem é culpado por essa menoridade quando sua causa não reside numa deficiência intelectual, mas na falta de decisão e de coragem de usar a razão sem a tutela alheia. Sapere aude! Ousa servir-te de tua razão! Eis a divisa do Iluminismo”.

O Marques de Condorcet sempre acreditou que o atraso e a pobreza poderiam ser vencidos e defendeu a idéia de que semeando razão se colheria progresso e desenvolvimento humano. Contudo, em pleno século XXI, poderia parecer ultrapassado e anacrônico defender essas idéias de razão e progresso que foram apropriadas pelo capitalismo e por regimes autoritários e que, muitas vezes, serviram como agentes de opressão e não como órgãos de liberdade. Segundo Sérgio Paulo Rouanet (1934 -):

“O conceito clássico de razão deve efetivamente ser revisto. Depois de Marx e Freud, não podemos mais aceitar a idéia de uma razão soberana, livre de condicionamentos materiais e psíquicos. Depois de Weber, não há como ignorar a diferença entre uma razão substantiva, capaz de pensar fins e valores, e uma razão instrumental, cuja competência se esgota no ajustamento de meios e fins. Depois de Adorno, não é possível escamotear o lado repressivo da razão, a serviço de uma astúcia imemorial, de um projeto imemorial de dominação da natureza e sobre os homens. Depois de Foucault, não é licito fechar os olhos ao entrelaçamento do saber e do poder. Precisamos de um racionalismo novo, fundado numa nova razão”.

Esse novo racionalismo é que deve ser usado para resgatar a origem do pensamento iluminista e para iluminar as perspectivas de progresso humano no século XXI. Só a educação e a pesquisa científica podem superar os preconceitos e os fatalismos. Evidentemente a tecnologia não pode resolver todos os problemas da humanidade, mas a continuidade da revolução científica tecnológica é o caminho para superar a pobreza e preservar o meio ambiente. A humanidade já avançou muito e tem potencial para avançar ainda mais em termos quantitativos e qualitativos. Basta todos usarem todo o potencial dos seus cérebros. O futuro depende da mobilização das massas – “massas cinzentas”.

Ousa servir-te de tua razão – Sapere Aude!

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José Eustáquio Diniz Alves