Pra Começo de Conversa

Primeiro Filipetas

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Oi. Pega uma cadeira. Senta aí. Creio que a situação pede que eu me apresente.

Meu nome é Felipe. Tenho trinta e tantos anos. Moro no ABC Paulista. O lugar de onde saem Chevrolets, sabe? Fiz filmes. Histórias em quadrinhos. Escrevi contos.

Homem-Aranha 69. Onde tudo começou. Imagem retirada do Guia dos Quadrinhos.

E tive um blog, uma vez. Foi como cheguei aqui.

Ou talvez não, né. Talvez eu tenha chegado aqui por conta de uma tarde de dia de semana, em que entrei no carro do meu pai para ir em algum lugar, e tinha um gibi no banco. HOMEM-ARANHA nº 69. A primeira parte de uma história em que o Homem-Aranha enfrentava o Duende Macabro, roteiro de Roger Stern e arte de John Romita Jr…. embora isso não quisesse dizer nada para mim na época. O que tinha me encantado era a trama misteriosa, o enredo repleto de referências à personagens e fatos passados, e com ominosos prenúncios de ameaças futuras, que demonstravam que aquele pequeno calhamaço de papel era a porta de entrada para todo um universo ainda largamente ignorado de fenômenos fantásticos e feitos de heroísmo prodigiosos…

Não foi meu primeiro gibi, veja bem. Meu pai e minha tia compravam gibis para mim desde a mais tenra infância. Ainda lembro da capa de HERÓIS EM AÇÃO nº 01, que folheei com alegria muito antes de saber ler. Mas conseguiar ver as imagens, e, na falta de alguém para ler os balões para mim, inventava minha própria história e diálogos. Devido a falta de alfabetização, eu não sabia que a história se passava da esquerda para a direita, e lia o gibi de trás para frente. Mas não importava. A história na minha cabeça ficava até mais interessante.

Mas HOMEM-ARANHA nº 69 foi o primeiro gibi que li eu mesmo, sozinho, usufruindo os dotes concedidos pelas aulas de português do antigo Ensino Primário. E as coisas meio que descambaram a partir daí. Ao invés de exemplares avulsos vez ou outra, surgiu uma coleção de gibis comprada religiosamente toda semana. Surgiu também um arraigado hábito de leitura, que se espalhou para os livros, primeiro de Stephen King e Isaac Asimov, depois Dostoiévski, Tolstói, Elias Canetti, Tomas Mann…

E, sem que eu percebesse, também foi fomentada uma familiaridade com uma gramática visual, com os métodos para contar histórias através de imagens. Planos, contraplanos, panorâmicas, close-ups. Estava tudo lá. E, muitos anos depois, quando me encontrei controlando uma câmera de cinema pela primeira vez, descobri que não era um estrangeiro em território desconhecido. Era um expatriado, um oriundi talvez. Com muito a aprender, certamente. Mas que já falava a língua.

Houveram outros passos importantes também, e muito definitivos, nesse caminho até aqui. Até você. Teve um fanzine, pra onde escrevi meus primeiros contos e roteiros, organizado em animadas reuniões editoriais dentro da sala de aula do colégio. Teve um cineclube e um projeto de mostra de cinema, na faculdade, que me incentivaram a começar a pesquisar seriamente a história do cinema. E teve uma escola, onde aprendi a não só fazer filmes, mas a entendê-los. Mas são todas histórias para se contar em um outro dia.

Hoje é sobre porque estou aqui. E porque você está. E o que vamos fazer juntos.

E isso tem a ver com o blog. Com O Retrato do Artista Quando Tolo.

Que eu tocava na época em que blogs faziam sentido, em que não existia ainda Facebook, nem Whatsapp, e memes existiam apenas na áreas mais remotas da internet. Escrevia mais sobre literatura, com eventuais produções originais. Nunca foi um enorme sucesso, mas eu gostava de escrever lá. E o pequeno monstrinho tinha seus fãs. Um deles era o Rafael Reinehr, que acabou me convidando para integrar o rol de autores do OPS! em sua encarnação original. E que me convidou de novo agora.

Argh. E eu topei. Maldita hora.

Porque agora eu tenho que interessar você. Intrigar você. Instigar você. Tentar te levar pelos mesmos caminhos que despertaram em mim essa paixão pelas histórias… em quadrinhos, fotogramas, palavras ou qualquer outro modo… mas sem necessariamente retraçando meus passos. Embora, falar sobre por onde e como andei possa render um bom papo no futuro.

E me ocorre que não consigo fazer isso escrevendo crítica de cinema. Pelo menos não o que normalmente se entende como crítica.

GRANDE TANGENTE:

Termo complexo e carregado, esse, “crítica de cinema”. O primeiro crítico de cinema, na verdade, foi um juiz, William Mershon Lanning, que, lá pelos início do século XX, teve que definir o que afinal de contas era um filme, para resolver uma pendência judicial entre a produtora Biograph e o infame Thomas Edison (que remontava os longas da Biograph e distribuía como se fossem curtas-metragem de sua propriedade, alegando que o copyright da produtora não protegia cenas individuais ). A partir daí, e com a crescente popularização e sucesso comercial da nova forma de arte, surgiu uma “crítica especializada”… que essencialmente se dividia entre estudiosos acadêmicos como Sergei Eisenstein, Lev Kuleshov e toda a turma da escola russa… e repórteres de entretenimento, cujas matérias flertavam com o material de revistas de fofoca, e cujo foco da análise era simplesmente dirimir a questão para o leitor: esse filme merece ser visto?

Eu não tenho como dizer pra você se um filme merece ou não ser visto. Se qualquer filme merece ser visto. A experiência cinematográfica, como qualquer outra experiência artística, é condicionada a subjetividade de quem passa por ela. Só você sabe de que filmes você gosta, e isso é determinado por questões muito mais complexas do que técnicas de filmagem e estruturas de enredo. Eu posso dizer que um filme é ruim, que é falho, que fracassa em atingir os objetivos estabelecidos pelo seu enredo e pelos parâmetros de seu gênero. Mas nada disso impede que você aprecie enormemente assisti-lo. É perfeitamente normal gostar de um bom punhado de filmes ruins. Até porque, alguns deles são até muito bons. Só não foram bem entendidos, ainda.

FIM DA GRANDE TANGENTE

Então não, essa não vai ser uma coluna sobre crítica de cinema. Ou HQs, ou literatura, ou o que quer que seja meu assunto na semana.

Essa vai ser uma coluna sobre paixão pelo cinema e sua história. Pelos grandes filmes que assisti e que me inspiraram. Gibis que amei ler e ainda ressoam na minha mente. Narrativas que me assombram. Mundos fantásticos que me restam desvendar.

Eu não vou falar sobre os filmes que estão estreando no Cinemark (correndo o risco de parecer pedante, mas foda-se, o fato é que poucos filmes atuais me interessam). Também não vou te dizer o que deve ou não assistir (embora eu vá fazer sugestões veementes).

Eu vou, pra início de conversa, falar sobre a história do cinema. Inclusive sobre o que havia antes de ter cinema. E vou tentar mostrar como é possível observar essa história se desenvolver através dos grandes filmes do passado (ou filmes nem tão grandes assim). Nós vamos aos poucos, filme por filme, como exploradores abrindo caminho na densa floresta (tipo Humphrey Bogart em “Uma Aventura na Martinica”… que inclusive vai ser um dia assunto aqui).

E vou falar de gibis. Sem ordem cronológica, só afetiva. Gibis que amei ler e que vocês talvez amem também.

FILIPETAS vai ser sobre isso, até eu decidir que não vai ser mais. A única coisa que nunca muda é que tudo sempre muda.

Vai ser sobre as coisas que eu gosto e, ao falar delas, vai ser sobre mim também. E, talvez, ao descobrirem seus próprios caminhos pelo mundo das histórias, vai ser cada vez mais sobre vocês também.

Espero que deixem vocês interessados. Espero que vocês voltem toda semana aqui.

Até a próxima.

Põe a cadeira de volta no lugar antes de sair.

About the author

Felipe Damorim

Felipe Damorim se formou em uma faculdade, e desistiu de outras duas. Editou livros, publicou contos, manteve blogs e dirigiu filmes. As pessoas dizem que gostaram de tudo, pelo menos na cara dele.

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