Sobre invisibilidade e projeção


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“Há aqueles que tem a capacidade de fazer você se sentir invisível, como se sua existência fosse um empecilho no mundo da fantasia construído por tais pessoas. Ao passo que há pessoas que nos enxergam tão bem que dispensam explicações.”
Escrevi esse texto num dia em que me sentia assim: invisível. Desejava ser vista e ouvida, porém investia tal desejo nas pessoas erradas e, sobretudo, esquecia que a primeira pessoa que deveria me ver e ouvir era essa que anda sempre comigo – eu mesma. Não digo que me equivoquei ao afirmar que há pessoas que nos enxergam tão bem que dispensam explicações, mas sei que há um tanto de desejo mal administrado aí: é uma utopia acreditar que alguém me verá tão bem que decifrará todos os meus segredos. A partir do momento em que deixamos de nos fundir com o outro e estamos no processo de adquirir identidade, não há mais o alívio de sentir-se um livro aberto, tampouco o alívio de que nossas necessidades sejam satisfeitas sem que precisemos manifestá-las. É preciso encarar: já não somos “vossa majestade, o bebê”, como diria Freud.
Contudo, penso que quando um indivíduo está disposto a enxergar o outro com empatia ele o faz. Não é preciso que se demande isso o tempo todo. Pedir por atenção é uma demanda inglória, pois nunca será suprida por completo. ‘O pior cego é aquele que não quer ver’, já dizia o ditado. Mas pobre daquele que quer a todo custo ser visto por um cego e não consegue engolir a verdade: ninguém é um livro aberto; e mesmo que se tente ser, há páginas que o outro nunca saberá ler.
O cego para a própria humanidade não enxergará a humanidade alheia – desejar sua atenção é um impulso sádico e desesperado . Quem não enxerga a própria humanidade vê o outro como projeção. A projeção é um mecanismo de defesa do ego, de acordo com a teoria psicanalítica. Protejemo-nos de encarar nossos próprios defeitos projetando-os nos outros. O medo de cair na própria escuridão nos leva a acreditar que a escuridão está apenas no outro – sempre no outro. É verdade que isso nos protege, mas em contrapartida nos mantém na ignorância. Pois não reconhecendo e não iluminando nossa escuridão nunca podemos atingir de fato a auto-aceitação que nos salva de querer sempre estar fundido no outro ou fugindo das relações humanas. (E abro aqui um parêntesis para esclarecer que não falo de uma auto-aceitação pueril, aquela que afirma “sou assim e pronto”, mas um processo em que primeiramente reconhecemos nossas falhas, para depois aceitá-las, e se assim desejarmos, mudá-las).
Enquanto permanecemos entranhados em fantasias de perfeição estaremos mergulhados na escuridão. Escuridão essa escolhida inconscientemente para não ver a si mesmo – e quem não se vê, não vê o outro. Metaforicamente, é como se já não possuíssemos olhos. Pior do que um cego que não quer ver é aquele que insiste em se fazer enxergar pelos outros apenas por não conseguir enxergar a si mesmo. Portanto de nada adianta esperar empatia, se nem mesmo sabemos como dá-la a outrem.
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Juliana Dacoregio

Juliana Dacoregio é jornalista e escritora. Admiradora das artes, sobretudo cinema e literatura. E o resto é silêncio (ou muito barulho por nada e um pouco de som e fúria também).

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