Existe alguma coisa de errada nessa “justiça” – o caso Nardoni de um ponto de vista libertário

    O que é justiça? Prender uma pessoa por 13, ou 31 anos, por toda a vida ou condená-la à morte é “fazer justiça” quando uma pessoa tira a vida de outra?
    A impunidade gera insegurança e aumenta a chance de atos violentos? Da mesma forma, a impunidade favorece a corrupção? É o ser humano bom ou mau por natureza?
    É mais importante punir o bandido ou evitar que este acabe por se tornar criminoso? Quais são os fatores – sociais, econômicos, biológicos – que criam um assassino, um ladrão, um corrupto?

    Enquanto não tivermos condições de responder estas e algumas outras perguntas, estaremos sempre perdidos. Sempre precisaremos correr atrás e punir “malfeitores”. Veremos cenas em que, tal qual nas cerimônias de guilhotinagem da antiguidade, o povo se reunia e, eufórico, bradava ao ver a cabeça ser decapitada.

    Enquanto humanos, somos demasiado animais ao querer ver um outro ser humano antes punido do que educado.

    Se fôssemos educados, se fôssemos conviviais, se soubéssemos o que é uma vida em comunidade, se mantivéssemos uma vida em harmonia com os outros, sem precisar viver em favelas de ricos (conjuntos de apartamentos), se controlássemos a natalidade, tivéssemos melhor distribuição da riqueza (ou se nossa maior riqueza não fossem os bens materiais e sim a tranquilidade de espírito), não precisaríamos de cadeias, jaulas humanas nas quais o veneno social instilado em tenra idade acaba por se purificar e tornar mais poderoso e concentrado.

    E como fazer a transição de um mundo civilizado (doente) para um outro, menos opressor e mais de acordo com princípios humanos éticos e de justiça social?

    Tudo bem, este sistema que aí está é o melhor que temos (é o melhor que temos?). Mas é o melhor? O que fazer para tornar a justiça “justa”?

    Enquanto Alexandre Nardoni e Ana Jatobá apodrecem envelhecem na cadeia, vamos pensar em alguma forma de tornar menos necessário o uso de confinamentos compulsórios?

    Na minha visão, compartilhada por outros pensadores libertários, o crime é em grande parte uma produção social. À ausência dos constrangimentos e mascaramentos sociais derivados da divisão do trabalho, das contingências relacionadas ao culto narcísico ao ter e acumular bens materiais, e dos laços viciados que surgem a partir de relações desequilibradas de poder,  até mesmo patologias de cunho emocional teriam sua incidência diminuída sensivelmente, resultando em redução de surtos inexplicáveis de homicídios, estupros, pedofilia e outros crimes nefastos.

    Usemos este sistema caduco e injusto, mas não tardemos em encontrar vacinas. Pois bem sabe o médico e o bom paciente que a prevenção é o melhor remédio.

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Rafael Reinehr