Probabilidades

O cético duvida das nossas certezas. A vida para ele é uma seqüência ininterrupta de incertezas. Probabilidade é a pretensão de quantificar a incerteza, a avaliação do grau de variação da possibilidade de que algo aconteça em um determinado período de tempo. A essência da probabilidade é a incerteza. Não existe a certeza da incerteza, pois se assim fosse, a incerteza desapareceria e com ela a probabilidade. O grau de probabilidade varia entre dois extremos de certezas, 0 e 100 %. Se for zero, o que se espera nunca irá acontecer, se for cem porcento, o que se espera sempre acontecerá. Os extremos não são probabilidades, são certezas. Mas na pesquisa da opinião pública sobre as chances dos candidatos a uma eleição, o pesquisadores após apresentarem os resultados, dizem sempre “a margem de erro é de 3 pontos para cima ou para baixo”. Vocês poderão dizer: “Com esta informação as incertezas viraram certezas”. Não é verdade. A estatística, ramo da matemática que estuda os  procedimentos de obtenção, organização e análise de dados de uma consulta a uma parcela da população, sobre os resultados de uma eleição, tem por objetivo tirar conclusões e fazer ilações que possam ser extrapolados para a totalidade da população de eleitores. O que a “margem de erro” quer predizer é que se a mesma pesquisa fosse realizada novamente, os resultados ficariam dentro da variação indicada de 6 pontos. São portanto as pequenas mudanças, de quem opinou na 1ª pesquisa e não na 2ª e vise-versa, de quem mudou de opinião, etc. etc. Ou seja, se dois candidatos estão, na pesquisa, com as suas pontuações dentro da margem de erro, podemos dizer que estão tecnicamente empatados. Evidentemente, na eleição, os dois candidatos, certamente não ficarão empatados, mas pela pesquisa não dá para se saber qual seja.
O princípio de causa e efeito – as mesmas causas produzem os mesmos efeitos – lida com certezas e é o apanágio da Física, a essência dos fenômenos repetitivos da natureza. O conceito de probabilidade não se aplica neste caso. No entanto às vezes isso não acontece,  as causas podem ter uma multiplicidade elevada, produzindo várias alternativas de resultados. É assim na meteorologia, que leva em conta fatores globais, regionais e locais,  um conjunto que revela a grande complexidade do nosso planeta. Neste caso é impositiva a quantificação das incertezas em probabilidades. É claro que, no clima, podem ocorrer certezas no meio das incertezas. Por exemplo, com exceção de poucos dias por ano, é possível afirmar que não vai nevar no Brasil. Aqui convém fazer uma observação. As probabilidades que nos interessam, referem-se à possibilidade de ocorrência de eventos e não à possibilidade de eles não acontecerem. O exemplo não vale, o certo seria colocar o oposto, ou seja, a probabilidade de nevar em algum ponto do Brasil. Para encerrar, vejamos um detalhe freqüente nos boletins meteorológicos: “O dia de hoje foi o mais frio dos últimos dez anos”. Trata-se de simples constatação, resultante da comparação do registro histórico das temperaturas do posto local no “período de recorrência” de 10 anos. É óbvio que o período de recorrência pode ser maior se existir o correspondente registro histórico.

Fico por aqui. Até a próxima.    

 

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Henrique Cruz