A vida como potência

O Real é muito doloroso, por isso preferimos viver na fantasia. Preferir viver na fantasia, entretanto, não significa que o Real não nos tomará de assalto. Ele esta aí sempre pronto para te dar um “acorda!”. 

 
Lidar com o Real é muito doloroso, mas é também uma experiência interessante. Quando ele se apresenta imperioso não há como recuar, mas podemos significá-lo. A morte, por exemplo, quando ela acontece, não tem como fazer voltar. Mas, a partir dela podemos compreender melhor a vida.
 
Quando perdemos alguém querido o vazio se aprofunda. Mas se aprofunda tanto quanto nossa potência se acende. Perder alguém é, portanto, acentuar uma falta, mas é também o momento em que se compreende que a existência sobrevive a própria morte.
 
Os gestos, as imagens, as palavras, ficam. As marcas transmitidas por uma vida é o que vem ocupar esse vazio mais profundo como potência. Não são lições que nos sobram, não são exemplos, são apenas intensidades que podemos potencializar, habitar e fazer viver em nós.
 
É nesse ponto que a vida coincide com a morte. É nesse ponto que o Real se abre. É nesse ponto que podemos dar sentido a algumas coisas. É nesse ponto que entendemos profundamente o amor. É nesse ponto que podemos decidir eticamente sobre nossa existência. 
 
Mas dói. Muito.  
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Flávia Cera