Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Que a autoridade seja necessária nas organizações de trabalho, não se discute. Afirmo isso mesmo sabendo da quantidade de teorias que inventam todos os dias sobre coisas que na prática não funcionam; servem mais para vender livros e consultoria do que para ajudar as organizações: equipes auto gerenciáveis, trabalho online sem sair de casa etc., etc., etc. O mundo da Administração é muito parecido com o mundo da moda: todo ano aparece uma diferente, no mais das vezes apenas uma velha calça disfarçada de nova… Na família, no entanto, autoridade é o maior de todos os venenos. Grosso modo, poderia dizer que existem dois tipos de autoridade na família: a explícita e a implícita. A segunda é, literalmente, mortal, seja em que dose for. Relações familiares (casamentos principalmente) acabam, mais dia menos dia, pela aplicação diária de pequenas doses de autoridade implícita. Alguns chamam autoridade de poder. Me permito fazer, aqui, uma pequena, sutil, diferença entre poder e autoridade, naquilo que os conceitos se aplicam às relações familiares. Nem todo poder confere autoridade a quem o exercita. É o caso da Lei Maria da Penha, por exemplo. As mulheres adquiriram um poder nunca antes imaginado sobre os homens. Permite que elas contraponham o que de mais valioso o homem sempre teve: a força física e o poder de exercitar a violência, a agressão, a mutilação, o medo. Mas esse poder não dá às mulheres, necessariamente, autoridade na família. Todos somos “autoridades”. Boa parte de nós, inclusive, tem um comportamento familiar extremo: somos autoritários. Quem manda nessa casa sou eu, dizem, em geral, os homens. E, também em geral, com mulheres que aceitam a posição subalterna, seja por dependência econômica, seja pela ilusão reinventada pela mídia de que ser “dona de casa” é bom. Não é, nunca foi e nunca será. Ser dona de casa é o pior dos trabalhos; avilta a condição de ser humano da mulher e estabelece a relação de hierarquia e autoridade em uma relação que deveríamos supor de igualdade. Claro que ser apenas dona de casa, nas atuais condições econômicas em que vivemos, é uma das pontas dos extremos. Nesses casos, a autoridade é do tipo explícita. Poderíamos construir um modelo onde o fator econômico fosse preponderante na relação. Muita gente pensa que é assim que as relações funcionam. E na prática até tem sido, justamente por ser o lado mais visível. É comum a expressão, mais usada pelas mulheres, de que “eu não preciso de ti pra nada, tenho o meu trabalho!” (isso antes de ingressarem em juízo pedindo pensão, claro), quando casais brigam. Na verdade, o fator econômico é dependente do grau e da forma com que a autoridade implícita se manifesta. Claro que os conceitos e ideias aqui emitidos não são novidade e, inclusive, passíveis são de discordância. O importante é que sejam explicitados, pois são a base para que possamos entender quais técnicas podem ser aplicadas nas mais diversas situações. Apenas para citar um exemplo, que será desenvolvido mais adiante: conflitos. O conflito é a característica básica das relações familiares (e humanas em geral, diga-se de passagem). No entanto, e apesar de ser algo muito estudado e de existem diversas técnicas para enfrentá-lo, pouquíssimas pessoas e casais se utilizam dessas técnicas no seu dia a dia. Pois o equacionamento de um conflito, e sua eventual resolução, parte justamente de que as partes conheçam profundamente os papéis de autoridade que exercem. E principalmente da explicitação e reconhecimento da autoridade implícita exercida na relação. Por essa razão julgo importante colocar, previamente, esses conceitos. E o que é a autoridade implícita? Na sequência…