Tributo a Um Velho Amigo

 

  •    Folheando hoje uma velha edição das sonatas de Scarlatti, pude notar como estão amareladas e ásperas suas páginas. Quebradiças, impõem -nos forte obstáculo ao manuseá-las. Como dissessem, deixe-nos em paz, estamos cansadas e já muito fizemos.”Quedo el depósito que estabelece la Lei…” Este aviso havia no rodapé de todas as edições da velha Ricordi Americana da longínqua década de cinquenta, bons tempos…
  •    O piano, um velho Essenfelder outrora Vivace; Allegro risoluto ed enérgico; Maestoso; Expressivo, tocava Melancolie no modo maior, hoje Adágio; Com moto tranqüilo; uguale e dolce; soturno, amarga o cruel abandono num canto escuro de sala como mero adorno decorativo. Incapaz de levar a termo uma simples escala cromática, desafina logo no streto duma fuga qualquer, mas, pra que toca-las afinal? Certamente está farto de ouvi-las.
  •    O feltro rasgado insiste num crescendo em pleno pianíssimo. Suas teclas outrora ágeis, hoje vacilantes e vagarosas, com dificuldade retornam a posição, muitas vezes sequer ferem as cordas, como delas se apiedassem.  É, velhos andam e falam mansa e vagarosamente.
  •    Apesar de todo seu brilho no passado, de tantos sonhos que acalentou, tanta alegria graciosamente distribuída a todos ao seu redor, resta-lhe agora, somente o final. Não um “Grand Finalle”, não, apenas um senza rallentando.
  •    Senza rall…

 

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newton lobo