Hypocrisis By Luiz Afonso Alencastre Escosteguy / Share 0 Tweet Perdoem a petulância da total generalização do texto. Isso significa que farei intercambiáveis a terceira e a primeira pessoas. Quem sabe uma forma de aliviar a angústia seja essa: compartilhar; pensar que aquilo que sinto seja o mesmo que todo mundo sente. Se há uma palavra que defina 2011, mais que qualquer outro ano, essa palavra é angústia. Não sei o que dizem os dicionários, mas a mim parece ser algo indefinido. E é justamente essa indefinição que a distingue de outras sensações. Tenho eu o dever, por mais velho que sou, de compreender a ignorãncia? Não teria que, necessariamente, por mais velho que sou, aceitar o fato de que a ignorância (no bom sentido, claro) só aumenta com o passar do tempo, com a influência da mídia institucionalizada e com um sistema educacional cada vez mais raso? A angústia nasce da dúvida. “Se duvido, penso”, disse Descartes. Eu, se fosse ele, teria dito “se duvido, sinto!” E o que outra coisa nos foi oferecida no ano de 2011 senão dúvidas? E pensamos em 2011? Não creio! Tenho a impressão de que, para fugir da angústia, permanecemos atores da peça de sempre: reclamamos disso e daquilo, sabendo que, no fim, queremos mesmo é continuar a reclamar… Desde que não nos falte, claro, um bom Deus a nos salvar e uma gelada Cerveja a nos saciar… Que esteja líquida, não congelada! Assim foi 2011: terminanos sabedores de que ultrapassamos a Inglaterra; terminamos sabedores (daquilo que todos intuíamos) de que também somos um dos países mais corruptos (… e disso sempre soubemos). Deus? Filósofos? Antropólogos? Cientistas? O Escambau? Ninguém, mas ninguém mesmo, foi capaz de fazer o necessário: ruptura! Uma ruptura real com a “modernidade” e com todos os sistemas criados nela e por ela. Muito papo, muito livro, teorias, cada qual inventando a sua para “interpretar”… Muito encontro, congresso, muito “mais dos mesmos”. Saída, que é bom, nenhuma… Nunca a humanidade teve tanto guru como em 2011. Em todos os campos, principalmente os ligados aos temas da internet, ou da “era digital”. Não costumo ser do tipo que acha que existe “a verdade”, mas verdade seja dita: o que a humanidade produziu de 1456 pra cá foi só merda! E por favor não me venham com o argumento de que a ciência produziu qualidade de vida, aumento na expectativa de vida, mais saúde, etc. Basta uma simples pergunta: pra quem, cara pálida? Para os dois bilhões que vivem com fome e sede? Para os dois bilhões que mal e porcamente conseguem sobreviver e acreditam no rótulo de “classe média”? Para os 2 bilhões que vivem abaixo de uma linha imaginária – porém muito real – da “miséria”? Ou será que alguém aqui imagina que o mundo é feito das “redes”? Sim, a rede matou Bin Laden; matou Kadafi, matou palestinos, matou japoneses, matou peixes asfixiados em petróleo, nos mata a cada dia… E adoramos dizer que todo mundo agora tem celular, televisão… mas não tem saneamento básico, saúde, educação, segurança… E terminamos 2011 sem nada disso, ou para muito poucos…Chega a ser inacreditável que no ano de dois mil e onze estejamos no estágio que a humanidade se encontra. O fim do mundo virou meme. Os ismos se exacerbaram, atingindo o que poderia parecer o ápice, mas é tão somente o meio da subida. E por quê? Porque insistimos que colocar quem ainda não está no “consumismo”, no “individualismo”, no “capitalismo”, no “politiquismo”…. Escolham! Alternativas existem muitas sendo praticadas por aí. E por que não conseguem fazer a necessária ruptura? Porque são exatamente isso, alternativas. E alternativas, via de regra, carregam em si o germe de onde nascem. Não é por menos que tudo é absorvido pelo sistema e passa a ser sistema. Um exemplo paradigmático são os produtos ditos “orgânicos”. Para se tornarem mais baratos, precisam de escala (percebam que até o raciocínio é o do sistema); para terem escala vendem onde? Nos templos do consumimo: os super/hiper mercados. Ou seja, continuamos no mesmo modelo, sem rupturas… Nosso sistema político de representação; nosso sistema de tripartição de poderes do Estado, nosso sistema jurídico… Tudo velho e carcomido e não vemos possibilidade de rupturas… Talvez seja essa a angústia que toma conta das pessoas: percebem a necessidade de uma ruptura mas sentem-se impotentes para realizá-la. E cobrimos nossa angústia com a hipocrisia de achar que está tudo bem. Afinal, já somos a 6ª maior economia do mundo…