Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet A Arábia Saudita é o único território do mundo onde o nome do país é baseado no sobrenome de uma família. A família saudita manda e desmanda em toda a nação, que tem instituições democráticas frágeis e uma sociedade civil desempoderada e praticamente sem nenhuma liberdade de expressão, organização e manifestação. As mulheres sauditas carecem totalmente de autonomia e só participaram, pela primeira vez, das Olimpíadas de Londres porque o Comitê Internacional ameaçou excluir o país dos jogos de 2012. A peninsula arábica apresenta uma das maiores desigualdades de gênero do mundo. Embora a Arábia Saudita tenha uma densidade demográfica muito baixa é um dos países com menor biodiversidade e biocapacidade, tendo poucas áreas agricultáveis e pouca água, mas muito deserto no solo e muito petróleo no subsolo. Aproveitando a riqueza gerada pela exportação da energia fóssil acumulada durante milhões de anos, o país apresentou o maior crescimento demográfico relativo do mundo nos últimos 60 anos. A população era de 3,1 milhões de habitantes em 1950 e passou para 27,5 milhões de habitantes em 2010. Um crescimento de 9 vezes em 60 anos. A divisão de população da ONU estima um volume populacional, em 2050, de 51 milhões na hipótese alta, 45 milhões na média e 39 milhões na hipótese baixa. Para 2100, as 3 hipóteses são: 68 milhões, 42 milhões e 25 milhões de habitantes. A taxa de fecundidade total (TFT) saudita, no quinquênio 1950-55, era extremamente alta, estando em 7,2 filhos por mulher e ficou neste patamar até 1980-85. Da segunda metade dos anos noventa houve uma queda rápida da fecundidade e a TFT caiu para 3 filhos por mulher no quinquênio 2005-10. A ONU estima que as taxas de fecundidade vão ficar abaixo do nível de reposição no quinquênio 2045-50, devendo chegar a 1,7 filhos por mulher, podendo subir ligeiramente para 1,9 filhos por mulher em 2095-00. A redução da fecundidade contribui para a redução das taxas de mortalidade infantil e de mortalidade materna. As taxas de mortalidade infantil estavam em elevados 204 mil mortes para cada mil nascimentos no quinquênio 1950-55, passou para 19 por mil no quinquênio 2005-10 e deve atingir 9 por mil no quinquênio 2045-50 e 5 por em 2095-00. Já a esperança de vida subiu de 40 anos, para 73 anos, devendo atingir 79 anos e 83 anos, nos mesmos quinquênios. A queda da fecundidade leva a um rápido processo de envelhecimento. A idade mediana da população era de 19 anos em 1950, passou para 26 anos em 2010 e deve chegar a 39 anos em 2050 e a 49 anos em 2100. A pegada ecológica per capita do país era de 3,39 hectares globais (gha) em 2008, para uma biocapacidade per capita de apenas 0,65 gha, de acordo com o relatório Planeta Vivo, da WWF. Portanto, o país possui um dos maiores déficits ambientais do mundo. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) passou de 0,65 em 1980 para 0,77 em 2010. Portanto, os dados mostram que a Arabia Saudita teve um grande crescimento demográfico, mas também um grande crescimento econômico, pois houve grande queda da mortalidade infantil, rápido aumento da esperança de vida e melhoria geral do padrão de vida da população. Porém, este alto crescimento demográfico e econômico (demo-econômico) teve como base a riqueza acumulada no sub-solo durante milhões de anos, tanto em termos de petróleo, quanto de água acumulada nos aquíferos fósseis. Esta riqueza, contudo, é finita e já tem prazo para acabar. A sobreutilização dos aquíferos esgotou os estoques de água e a Arábia Saudita vai ter que abandonar seus projetos de irrigação, passando a comprar quase todo o alimento necessário do resto do mundo. Enquanto o país tiver riquezas advindas do petróleo a balança comercial pode ser negativa no item alimentos. Mas acontece que já existe uma previsão de que a Arábia Saudita deixe de exportar petróleo até 2030. O pico das exportações aconteceu em 2011 e nos próximos anos o volume exportado será ainda menor. Isto acontece porque as reservas e a exploração do óleo estão diminuindo e porque a demanda interna está aumentando. O governo utilizou a riqueza da exportação de petróleo para construir cidades altamente dependentes dos combustíveis fósseis. Por exemplo, a Cidade Econômica King Abdullah (nome inspirado no rei saudita) pretende abarcar 2 milhões de pessoas e tem conclusão prevista para 2020. Esta e outras cidades são totalmente dependentes do petróleo, do automóvel, do ar condicionado, etc. Quando o petróleo acabar vai ser dificil sustentar o padrão atual das cidades sauditas. É certo que o país está investindo em energia eólica e solar (com utilização de tecnologia chinesa), especialmente para as usinas de dessalinização da água do mar. Resta saber se as energias renováveis vão conseguir suprir as demandas internas de uma população e uma economia crescendo em ritmo acelerado. O mais provável é que a Arábia Saudita passe por enormes dificuldades quando a riqueza fóssil se esgotar, especialmente se não fizer os investimentos necessários para mudar sua base produtiva e educacional para uma situação pós-petróleo. Noventa por cento das exportações sauditas são de petróleo e produtos derivados e o país é totalmente dependente destas exportações fósseis para importar a maior parte dos alimentos e bens de consumo. Sem ter uma base produtiva eficiente e competitiva, como vão fazer quando for zerado as exportações de combustíveis fósseis? Em livro recente, On Saudi Arabia: Its People, Past, Religion, Fault Lines and Future, Karen Elliot House apresenta um quadro de crise econômica e política da monarquia absolutista da Arábia Saudita, com crescimento das tensões e frustações internas de uma população jovem que não encontra empregos e de uma país que depende da força de trabalho de imigrantes. A combinação do fim das exportações de petróleo com crise política pode ser um barril de pólvora para a Arábia Saudita e todo o Oriente Médio, com consequências imprevisíveis para o resto do mundo.