Deterioração das contas externas do Brasil

Acendeu a luz vermelha nas contas externas do Brasil. O déficit tem crescido de maneira não sustentável do ponto de vista econômico. As transações correntes (conta que inclui a balança comercial, de serviços e rendas – ou seja, a conta das transações com os demais países), apresentaram um déficit recorde de US$ 52 bilhões, segundo números divulgados, em janeiro, pelo Banco Central.

O aumento do déficit das contas externas brasileiras aconteceu, essencialmente, por conta do menor saldo comercial (valor das exportações menos importações), que atingiu, em 2012, o pior resultado em dez anos, pois o superávit da balança comercial brasileira atingiu a  cifra de US$ 19,4 bilhões, com queda de mais de US$ 10 bilhões diante do resultado de 2011, quando o superávit ficou em US$ 29,7 bilhões.

Um fator que agravou a conta em transações correntes foi o grande aumento do défict na conta turismo, que está relacionada com os gastos recordes de brasileiros no exterior ano passado. O resultado das contas externas só não foi pior devido a queda no volume de remessas de lucros e dividendos das multinacionais. Em 2012, as remessas ao exterior somaram US$ 24,11 bilhões, com queda de cerca de US$ 14 bilhões frente aos US$ 38,16 bilhões remetidos em 2011. Com menos lucro, as empresas também remetem menos ao exterior.

Embora o resultado das contas externas tenha atingido valores absolutos recordes, como proporção do PIB, a situação já esteve pior em outras épocas. Em 2012, o resultado negativo representou 2,4% do PIB, contra 2,12% do PIB em 2011. Entre 1997 e 2011, quando foram registrados os piores resultados relativos da conta de transações correntes, os valores negativos chegaram entre 3,5% e 4,19%. De qualquer forma, a situação é preocupante.

Para complicar, o resultado negativo recorde de US$ 52 bilhões das contas externas só não foi pior devido ao registro tardio das importações de petróleo e derivados realizadas pela Petrobras. De fato, o problema foi empurrado para 2013 e em janeiro, a balança comercial brasileira registrou o pior resultado mensal em 20 anos.

A balança comercial brasileira apresentou um déficit de US$ 4,03 bilhões no mês de janeiro de 2013, o maior desde o início da série histórica, em 1993, segundo dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic). Além do aumento das importações houve queda nas exportações. As exportações caíram 1,07%, de US$ 16,141 bilhões para US$ 15,968 bilhões. A entrada de produtos, por sua vez, cresceu 14,64%, de US$ 17,448 bilhões para US$ 20,003 bilhões.

O governo espera em fevereiro e março novos resultados negativos, decorrentes dos registros tardios da Petrobrás. Mas o superávit deve voltar a partir de abril, embora em menor montante. O fato é que o aumento de derivados de petróleo e a queda do preços das commodities está afetando bastante a economia brasileira.

Por enquanto, o Brasil ainda consegue administrar estes déficits crescentes, pois tem reservas acumuladas em decorrência dos investimentos estrangeiros no Brasil. Mas se por algum motivo estes investimentos diminuirem ou se reverterem a economia brasileira pode ficar em maus lençois.

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José Eustáquio Diniz Alves