Mulheres, o Bukowski de Mario Bortolotto


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 Eu sempre tive certeza sobre a impossibilidade – óbvias, talvez – de se fazer uma boa adaptação da obra do velho Bukowski. Elas sempre me pareceram caricatas, e a sensação era que nunca chegavam perto das possibilidades que a leitura proporcionava. Uma solidão terna, algo triste, simples, algo que te levava a sentir, provocava reações que iam do ódio mais puro à solidariedade mais singela. Naquelas tardes, na companhia do velho, nada era pequeno, mas tudo era.

 
O Mickey Rourke pra mim era o mais bem sucedido na tentativa de interpretar o velho Chinaski, talvez pela possibilidade inspiradora da presença do Buk nos sets. Nunca me dei bem com a interpretação do Matt Damon nem com a do Ben Gazarra. Enfim, todos são filmes dignos, cada um com seu momento maior.
 
bukowski
 
Quando vi que o Bortolotto iria adaptar – para o teatro – o Mulheres tive uma espécie de tensão, daquele mesmo tipo que sempre dá quando alguém vai chafurdar e “mexer” em algo extremamente íntimo da sua vida. Algo que alterou o seu caminho. Mulheres é sem duvida um dos melhores, senão o melhor livro em prosa do velho (aqui vale o agradecimento ao grande Reinaldo Moraes por traduzir essa pérola ainda nos anos 80). Porra, agente ia ver isso no teatro.
                                                                                                           
Finalmente fui ver a peça e durante bons minutos não consegui esboçar muitas reações, uma espécie de incômodo pairava por ali. Então tudo começa a vir numa crescente. Você vai se acostumando aos trejeitos do velho safado interpretado pelo Mário, trejeitos que cada um imaginou de uma forma ao ler os livros, uma forma de se movimentar que está no inconsciente individual. Um tipo de humor de quem sabe que rir de si mesmo talvez seja o melhor remédio. A mais dolorida das solidões, aquela povoada. Uma carência apavorada, uma coragem ingênua e descompromissada.
 
Ontem eu entendi que Bukowski só existe um. Não adianta buscar o sentido de um livro numa outra linguagem. E o Bortolotto, em cena por quase duas horas, em outra linguagem, faz o seu Chinaski, trôpego e sincero, que cresce muito ao longo da peça amparado por suas várias (e talentosas) mulheres.   
 
Demorei a entender, mas no fim existe uma certa libertação, uma tentativa que nada tem a ver com resignação. Apenas libertação. Talvez fosse isso mesmo.
 
Serviço:
 
“MULHERES”
DE CHARLES BUKOWSKI
HOJE 21H30

MULHERES
Adaptação Teatral do Livro de Charles Bukowski 

Adaptação: Mário Bortolotto 
Direção: Fernanda D´Umbra
Elenco: Mário Bortolotto, Erika Puga, Wanessa Rudmer, Danielle Cabral, Samya Enes, Débora Ester, Maria Tuca Fanchin, Pablo Perosa e Walter Figueiredo. 

Assistencia de Direção: Walter Figueiredo 
Iluminação: Pablo Perosa e Fernanda D´Umbra
Sonoplastia: Mário Bortolotto 
Cenário: Leopoldo Ponce
Figurinos: Ofelia Lott
Fotos e cartaz: Gisela Schlögel
Operação Técnica: Fernanda Rudmer
Cenotécnico: Régis “Negadete” dos Santos
Gravação dos offs: Diego Basanelli
Offs: Diego Basanelli, Maria Tuca Fanchin, Linn Jardim e Mário Bortolotto. 
Direção de Produção: Wanessa Rudmer
Produção Executiva: Danielle Cabral 

Hoje 
21h30

Teatro Cemitério de Automóveis
Rua Frei Caneca, 384

Quarta a sábado: 21h30
Domingos: 20h30

Até 17/02 

Esquema “pague quanto puder”.

                                                     
About the author

Diogo Brunner