Tetro – A Volta do Poderoso Chefão


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Era um fim de tarde paulistano e a chuva ia diminuindo. Começo de 2011. Começo de ano normalmente não é tão bom para o cinema. Dessa vez, porém, eu criava grandes expectativas na minha cabeça – o que não dá muito certo normalmente – afinal, era a volta de Copolla, a grande cabeça por trás de O Poderoso Chefão, em um filme que prometia mais intimismo, menos grandiosidade, uma forma quase independente e minimalista de fazer cinema que me agrada muito. Copolla hoje banca quase 100% do dinheiro investido em seus filmes, principalmente com o dinheiro ganho com sua vinícola. Ou seja, Copolla além de tudo, goza de uma liberdade rara para filmar, sem produtores para lhe dizer o que fazer e o que cortar. 

 
Buenos Aires, local escolhido para as filmagens não podia ser uma escolha mais acertada. Ali está a América do Sul, e ali está o país que tem hoje uma das melhores cinematografias recentes do mundo. Estão ali, na arquitetura da cidade, nas ruas de La Boca, nos tangos um tanto contemporâneos, o cenário ideal para uma história cheia de beleza violenta, melancolia transbordante, e uma espécie de dor, que é a dor dos que sentem demais, dos que não endureceram o coração diante desse mundo em vias de perder sua alma.
 
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Logo no inicio do filme a câmera capta uma pichação pelas ruas de Buenos Aires: Não solte a corda que me amarra à tua alma.
 
Vincent Gallo, como sempre um ator ao menos muito expressivo, e perfeito no papel, faz um escritor fracassado que some de casa por problemas com o pai. Se instala em Buenos Aires quase com uma nova identidade. Algum tempo depois recebe a inesperada visita de seu irmão e as coisas começam a mudar. Vemos Copolla voltar ao tema da família, mas vemos Copolla construir um personagem de uma complexidade que eu poucas vezes vi: o personagem de Vicent Gallo, homônimo do filme, Tetro. Tetro sofreu a violência familiar em graus extremos, viu a mesquinhez que vem do sucesso, viu a podridão a que se pode chegar o relacionamento entre seres humanos. Tetro viu no isolamento em um outro país uma possibilidade de não enlouquecer. Espécie de reconstrução, de exílio. Mas Tetro não é um niilista, como vemos no violento amor que ele sente por sua mulher. Uma cumplicidade tanto dolorosa quanto bela. Um companheirismo incondicional.
 
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Além do personagem de Tetro, o que mais impressiona no filme é a beleza fotográfica do preto e branco ( o curioso é que os flashbacks do filme são coloridos, uma inversão que dá o que pensar). Buenos Aires em preto e branco e a melancolia violenta de Tetro se fundem numa visão onírica que não sairá da minha cabeça tão cedo, e dessa forma cumpre um papel fundamental que é o da comunicação que cria experiência, que fica, que não tem essa coisa rarefeita do pós-moderno. O cinema realmente como arte. Não solte a corda que me amarra à tua alma. Piegas? Então de alguma forma eu ainda acredito nessa coisa de pieguice.
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Diogo Brunner