E o velho safado descobre John Fante.


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Na primeira coluna por aqui achei por bem tratar do velho Bukowski, o eterno safado daquele submundo fétido. Naquela ocasião explicava o nome da coluna. Aqui é diferente. Uma história que sempre me intrigou, me fazendo às vezes, até mesmo duvidar se o Velho dizia a verdade ou não. Disse que ele voltaria, como outras referências voltarão. Meus fantasmas que serão compartilhados.

 Quando jovem Bukowski era um vagabundo que fugia do trabalho e passava os dias na biblioteca pública de L.A. Às noites bebia e escrevia, e os dias e as noites passava fome. Em suas imersões pelas estantes da biblioteca de Los Angeles, Bukowski reclamava do que encontrava: escritores estéreis retratando a vida da alta classe média. Algo que durava muito pouco no seu inconsciente.
 
Numa revirada qualquer Bukowski finalmente encontra pelo que tanto esperava, alguém que mostrasse “a risada vencedora da dor”, da tristeza, da loucura. Era John Fante. O cara que havia escrito Pergunte ao Pó era um total desconhecido até ali. Foi uma influência definitiva na escrita do Velho, como disse o próprio: Fante escrevia sobre um escritor que passava fome. Foi um grande choque para alguém entediado com a literatura muito bem acabadinha.
 
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Anos depois com Bukowski já descoberto pela Black Sparrow do editor John Martin, vivendo como um escritor profissional numa casa tranqüila em San Pedro é que ele consegue, quase sem querer, “ajudar o mestre”. John Martin lê em uma entrevista que a maior referência do velho Buk era “um tal de John Fante”. Resolve republicá-lo e encomenda o prefácio ao Velho. Era uma espécie de redenção. Enfim, as pessoas poderiam conhecer aquele sobre o qual dissera palavras duramente derradeiras: Eis aqui, finalmente, um homem que não tem medo das emoções.
 
Bukowski acaba se tornando amigo de seu grande mestre e ídolo já no fim da vida deste. Fante sofria de diabetes e foi – nas palavras dele – todo podado pelos médicos. As pernas principalmente. Também estava cego, e seu último livro foi ditado à sua esposa. Tiveram encontros memoráveis e diálogos deliciosos, como quando Bukowski pergunta à Fante se de fato Camila (personagem de Pergunte ao Pó) havia desaparecido no deserto (desculpe quem ainda não leu o livro). Segue abaixo o trecho.
 
– Mas escute, andei pensando sobre uma coisa…
– O quê? – pergunta Fante.
– O que aconteceu com aquela maravilhosa Camila em Pergunte ao Pó? Ela realmente desapareceu no deserto?
– Não. Ela voltou. Depois acabou se revelando uma desgraçada duma lésbica. – ele riu.
– Puta que pariu!
 
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Curiosidades, comicidades e certos preconceitos momentâneos à parte, Bukowski trata toda a história com uma melancolia inerente aos fatos. Esta história está publicada no livro de contos de Bukowski recém publicado pela LP&M “Pedaços de um caderno manchado de vinho”. E é extremamente recomendada a leitura do prefácio de 1979 escrito para a reedição de Pergunte ao Pó, que aqui está publicado, assim como os outros livros de Fante, pela Editora José Olympo. Leiam Fante.
 
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Que venham as férias, leituras e a distância das páginas em branco. Por algum tempo apenas. E que a volta seja nova. Simples assim.
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Diogo Brunner