Xeque-mate: Conversando Sobre Xadrez By Lucas e Fatima / Share 0 Tweet É SETEMBRO… Primavera no Brasil, Olimpíada em Batumi, é renovação, inovação, conhecimento, aprendizado e AMARELO!!!! Vamos conversar um pouquinho sobre algumas maravilhas deste setembro? É na primavera que desabrocham, reflorescem s as mais belas flores, após intenso e rigoroso inverno. Tudo pode ser renovado. Batumi, na Geórgia, recebe com encantamento e orgulho o melhor do mundo para a 43ª Olimpíada de Xadrez. Os nossos melhores estão lá. Em OUTUBRO vem mais Olimpíada, aguardem… É sobre alguns dos melhores do mundo que trouxemos uns, FATOS CURIOSOS! Paul Morphy – O mate da Ópera Paul Morphy Paul Morphy ficou mundialmente conhecido como um exímio enxadrista durante a segunda metade do século XIX. Para muitos, Morphy era muito mais que um simples jogador das 64 casas, mas sim um artista, alguém que era capaz de criar obras primas. A história do mate da Ópera começa com um convite a Paul Morphy feito pelo Duque Karl para assistir um apresentação em uma casa de Ópera. Chegando no local, Paul, na realidade, teve que jogar contra o Duque que o convidou e um Conde, sim, Paul ia jogar uma partida de 2 contra 1. Como a história é contada, a dupla para discutir os lances, constantemente, trocava o idioma pelo qual se comunicava, enquanto Morphy estava mais preocupado em assistir ao belíssimo espetáculo que acontecia no palco. Deixamos, agora, aos interessados, um diagrama (fragmento de partida) lances antes de Paul Morphy vencer a partida. Inclusive, tal diagrama está na camiseta que confeccionamos para nossa Oficina de Xadrez. O mate da Ópera Antonio Rocha – O solitário Raros seres humanos se mantiveram em tamanha solidão quanto este gaúcho e poucos enxadristas se igualaram a seu talento, pelo grande poder estratégico e imensa capacidade de cálculo. Foi campeão brasileiro e representou o pais em inúmeras Olimpíadas de Xadrez. Quando se isolava suas atitudes reforçavam o estigma de que todo o enxadrista é meio louco. Suas histórias são tragicômicas, um exemplo foi o Campeonato Brasileiro de 1977 de Curitiba, julho, inverno rigoroso. Colocaram Rocha e outro enxadrista em um quarto considerado muito gelado e ele suspeitou que não era por acaso, queriam sim que eles morressem de frio para se livrarem dele. Se vestiu e a meia noite saiu, voltando ao amanhecer e ao chegar no hotel do “Quarto Matador”, agrediu com uma máquina de escrever, uma recepcionista. Foi preso, antes resistiu, foi necessário vários homens para levá-lo. Na hora do jogo, como iniciar sem o Mestre e um dos Favoritos? Entra em ação o enxadrista do Distrito Federal e procurador da república, Olício Gadia para conversar com o delegado do caso. Tudo que foi argumentado sobre Rocha foi colocado em dúvida devido sua extrema violência. Gadia explicou todo o estresse de uma partida de xadrez e então o delegado pergunta: quantos mestres tem neste torneio? Uns cinquenta, porquê? Retruca Gadia. Para reforçar o policiamento por lá. Imagine se esses loucos todos saem por Curitiba, quebrando bares e restaurantes?? Bobby Fischer – A sequência histórica: 20 vitórias seguidas Bobby Fischer Imortalizado por muitos como o melhor jogador de todos os tempos, Robert James Fischer ficou conhecido pela precisão extrema em seus lances durante os anos 50, 60, 70, movimentos que analisados pelas mais avançadas “engines”(programas de análise), agora durante o século XXI, foram considerados o único movimento vencedor possível. Sendo o auge da habilidade de Bobby compravada durante o torneio Interzonal de Palma de Mallorca em 1970, no qual Fischer jogou 23 jogos e perdeu apenas 1, sendo 7 vitórias seguidas nas últimas rodadas. Como se não bastasse Fischer, no Torneio dos Candidatos de 1971, derrota o Grande Mestre russo Taimanov com 6 vitórias e nenhuma derrota e em seguida faz o mesmo com o Grande Mestre dinamarquês Bent Larsen, 6 vitórias, nenhuma derrota. Por fim, Bobby ganhou o primeiro jogo contra o antigo campeão mundial, o russo Petrosian, mas infelizmente sua sequência lendária teria fim com uma derrota para o Russo na partida subsequente. Tal derrota seria a única para o ex-campeão visto que Fischer empataria 3 partidas e depois teria 4 vitórias. Em resumo, foram 20 vitórias seguidas e ao todo, dentre 44 jogos, Fischer havia ganho 32 vitórias, 2 derrotas e 10 empates. Machado de Assis – O Bruxo do Cosme Velho/ Escritor e Enxadrista! Sua obra é conhecida por muitos, no Brasil e fora dele. Porém pouquíssimos sabem que este bruxo era um enxadrista apaixonado: “Meu bom Xadrez, meu querido xadrez, tu és O Jogo dos Silênciosos…” Silencioso, se mantinha frequentando os círculos enxadrísticos do Império, extraindo do jogo as infinitas possibilidades estratégicas onde o homem pode “ ELEVAR SEU RACIOCÍNIO AOS DOMÍNIOS DA CRIAÇÃO ESTÉTICA”, segundo o enxadrista Wagner Martins Madeira. Foi autor do Primeiro Problema genuinamente brasileiro, originalmente publicado na Revista de llustrações Brasileiras em 1877. Participou do Primeiro Torneio de xadrez realizado no Brasil em 1880. A influência do pensamento enxadrístico estaria em toda a obra de Machado, segundo Claudio Soares autor de “ Machado de Assis- O Enxadrista” publicado pela academia de letra. Sua provável iniciação no jogo de xadrez foi fruto da influência de Artur Napoleão, grande pianista português. A discrição e obstinação de machado, eram características de um grande enxadrista. Infelizmente marcado pelo preconceito de cor, em uma sociedade escravocrata, retraído, encontrava no tabuleiro de Xadrez, refúgio para fugir da dor diante da mesquinharia do corte. Diagrama elaborado por Machado de Assis Marshall guardou sua famosa arma durante 8 anos antes de usar contra Capablanca Capablanca No ano de 1918, no campeonato de Nova Iorque, já na primeira rodada, enfrentavam- se José Raúl Capablanca e Frank James Marshall e como é contada a história, Marshall havia preparado um ataque especial contra um oponente digno, ou seja, ninguém mais digno que a Máquina do Xadrez. Na época, tal sequência de movimentos não havia sido estudada e cada lance de Capablanca tinha que ser extremamente preciso para que não perdesse a partida. No fim, para espanto de Marshall, José jogou os melhores e únicos lances que possibilitavam uma virada na partida. O grande Ataque Marshall havia sido usado pela primeira vez pelo próprio criador e acabou por ser freado pela grande Máquina do Xadrez. Marshall . Helder Câmara – Boêmio/Poeta! Hélder Câmara Mestre Internacional, título Vitalício outorgado pela FIDE, federação internacional de xadrez. Único mestre brasileiro a criar uma nova defesa para as pretas: Defesa Câmara. Sobrinho e homônimo do cardeal de Olinda e Recife, resolve ir ao cinema. Fumava demais, não esperou o fim do filme e alí mesmo, no escuro, acendeu um Continental sem filtro com seu isqueiro Zippo. Encharcado de fluído o isqueiro produziu enorme chama e já gritaram: “fogo, fogo no cinema!” Todos saíram desesperados da sala de cinema com excessão do calmíssimo mestre de xadrez. No tabuleiro ou não, sempre seguia o conselho do grande Capablanca: “Sangue-frio vale uma peça.” Não é de conhecimento público sua veia poética e parceria em músicas da MPB. Vejam que obra prima, este poema rimado, sobre xadrez: Na caixa dos meus trebelhos dormitam sonhos de glória, alguns amargos conselhos, uma partida… uma história… Ali, trinta e dois espelhos refletem – viva a memória – anseios gastos, já velhos, de alguma quase vitória E o meu tabuleiro a um canto, cheio de poeira e traços, conserva-se em mudo espanto, Talvez por ver que ilusões, depois dos nossos fracassos, se perdem como peões. Mikhail Tal e os pensamentos de um enxadrista incrível Mikhail Tal O russo Mikhail Tal ficou mundialmente conhecido por seus lances extremamente agressivos, o que gerou a expressão “movimento de Tal” ou “Tal’s move” a qual se refere a uma jogada extremamente arriscada e agressiva. Porém, Tal era conhecido por não ser um enxadrista ortodoxo e por isso conquista diversos fãs de hoje. Para se ter uma noção do que falamos, Mikhail em um das partidas que valia o título mundial de xadrez no ano de 1960, mais precisamente no jogo de número 17, Mikhail conta que antes de fazer um movimento decisivo pensou durante, aproximadamente, 10 minutos e nesse tempo estava extremamente preocupado se conseguiria ir uma sessão de cinema com sua esposa após a partida. Isso, resultou em um lance que, segundo o próprio enxadrista em seu livro, era “Terrível, Antiposicional, Incrível”. Outra história famosa de Tal aconteceu durante o campeonato da URSS em 1964/65. O russo, em determinado momento da partida, estava novamente em situação crítica, deveria ele sacrificar uma peça ou buscar outro plano. Segundo Tal, ele demorou 40 minutos para fazer o lance e inicialmente pensava se a jogada era boa, entretanto, lembrou-se de uma famosa história russa para crianças que fala de um hipopótamo se afogando em um pântano. Diversas maneiras de salvar o animal passaram pela cabeça de Tal, Helicóptero, cordas, carros e com isso concluiu que se ele não conseguia calcular todas as variantes do lance, seu adversário também não o faria. A vitória, no fim, foi do salvador do hipopótamo. É muito interessante constatarmos que em conversas sobre o jogo de Xadrez, todo o assunto é tão infinito quanto o próprio jogo. Sempre ficamos surpresos com tantas possibilidades que se torna difícil a escolha do que abordarmos com quem nos dá a alegria e o privilégio da leitura. Neste setembro não foi diferente. Tentamos trazer um mínimo dos infindáveis fatos curiosos sobre inesquecíveis enxadristas brasileiros ou não. Foi difícil, queríamos nos expandir, contar muito mais por ser incrível às vezes inacreditável. Mas acreditamos que instigue alguma busca. Se possível, nos retornem. Muito obrigada!!! Boa leitura !