O intrincado caso dos títulos trocados e a confusão que isso causa

Uma das coisas mais inúteis em uma revista desse nível é uma seção de humor. Se voce não tiver absolutamente nada melhor a fazer, vá em frente.

A seção de humor é a menos importante da revista, porém, ironicamente é onde mais pessoas trabalham. Teremos milhares de colaboradores semanalmente e até diariamente e porque não dizer, horalmente. Temos tanta gente trabalhando na redação de humor que começamos a ter problemas de espaço. Outro dia abri a gaveta da escrivaninha e estavam fazendo uma reunião lá. Fechei rapidamente sob o protesto de um coro de loiras. Levantei-me tentando não bater a cabeça nos bagos do camelo que trouxeram especialmente para as piadas de deserto e beduínos. Esquivei-me por entre um mar de índios canibais que trocavam umas idéias com um grupo de bêbados. Não quero nem mencionar o número de putas que ocuparam o banheiro e quando vou lá…bem, deixa pra lá.

O fato é que precisaríamos organizar melhor tudo por aqui, mas na prática não se pode, senão perde a graça. A confusão é grande, mas tem que ser assim. Ainda esta manhã tivemos que usar da violência (mas com muito respeito ao ser humano) para poder conter a fúria dos loucos que se abateram sobre os nossos redatores Joaquim e Manuel, que tentavam desesperadamente escapar de uma piada de hospício onde caíram por acidente. Quer dizer, não foi bem acidente. Eles ouviram um louco contando do outro lado do muro: vinte e três, vinte e três…e ficaram curiosos.

Na nossa redação tudo pode acontecer. E dentro desse tudo que se pode acontecer é que iremos navegar circunstanciados pela convergência dos pensamentos colimados em uma lógica ilógica de intensa emoção e fervor, dosados com a orgânica febre do bem querer fazer de tudo para a perfeita consecução do que nos propomos como objetivo alvo e tal.

Para começar a seção de humor, iremos fazer um percurso didático. Sabemos o quanto os leitores na internet são inteligentes e por essa razão temos que começar com a matéria que nossos testes com chimpanzés determinaram como adequado.

Comecemos pela história. O humor foi inaugurado em 24 de março de 1254 em Florença na Itália, a cidade dos Médicis. Todos os Médicis a partir de então tornaram-se conhecidos pelo enorme senso da ironia e pelo sorriso fácil. No Brasil vieram emigrados muitos descendentes dos Médicis originais e todos sem exceção ficaram famosos pela grande alegria e nonchalance. Quando o Brasil ganhou a copa de 70, todos os rapazes do tri foram mostrar a estatuinha para um Médici que morava no palácio do planalto, que ele tinha alugado para passar um período antes da aposentadoria. Ficou famoso na época o diálogo do Médici com Zagallo, outro exemplar raro conhecido pela finesse e elegância.
Quando perguntado pelo velho Médici como estava se sentindo naquele momento, Zagallo disse:

-Me sinto como um comunista no dops, sofro com o regime.

O anfitrião arregalou os olhos e o Zaga nacional continuou:

-Sofro, mas o que importa é que já perdi alguns quilos. Também pudera, fazem três dias que não como, maldito regime. hahaha. Igual comunista no dops! hahaha. Já viu como eles saem da lá magrinhos? hahaha

Médici quase fez xixi nas fardas pela risada.

Zagallo se animou:

-Sabe doutor, eu descobri o que o senhor faz quando vai na sauna e fica olhando pra aquela rapaziada.

-Como assim, o que é que eu faço?

-Médici. Hahahaha

-HAHAHAHA!

-E me diga, como vai a saúde publica no Brasil?

-Ah, estamos trabalhando para que todos tenham assistência, porque?

-O senhor deveria se preocupar com medicina privada, hahaha.

-Porque ?

-Não sacou? preocupar-se com Médici…na privada. Hahaha

-HAHAHAHAHA!

Ah, bons tempos aqueles, quanto se ria! Pena que o que é bom, como diz a Dita, dura pouco. Que deus os tenha em bom lugar, todos os dois.

Mas voltemos ao momento mágico, ao momento da criação. Segundo os historiadores, todos eles, incluindo os que mentem e os que falam a verdade, o humor foi inventado por acaso em uma bodega de Florença por Alfredino Mastrogambiso Polegatto. Como todas as boas invenções, o acaso fez das suas. Estava lá o Polegatto, macambúzio como sempre, até porque naqueles tempos todos os seres humanos eram macambúzios. Todos, desde os tempos de Adão, não conheciam os prazeres da boa risada desopilante que o humor proporciona. Não é por outro motivo que os filmes que são ambientados nos tempos pré Polegatto, tem aquele ar triste, modorrento, ninguém ri. Já viu filme de Jesus Cristo com gente se despregando as dentaduras pela gargalhada? É todo mundo com cara de, sei la, como se alguém estivesse sendo crucificado ali, uma loucura.

Bem, estamos desviando demais do assunto que é o momento da invenção do humor. Como dizia, o italiano estava lá, triste triste martelando os sapatos quando lhe veio uma vontade louca de falar bobagem.

Destrambelhou a disparar bobagens sem fim, mexia com todo mundo, passava gente ele imitava, inventava palavrões, trocadilhos, piadas à metralhadas que no final de uma semana foi preso e condenado à prisão, ainda que todo o povo de Florença tenha protestado muito, porque era mesmo divertido. Ficou na cadeia manicômio por oito anos, ao final dos quais tinha mudado de nome e escrito um livro. O livro veio a se chamar simplesmente A comédia. Todos correram comprar o livro pensando em algo super engraçado, formando-se filas diante dos shoppings centers. Qual não foi a decepção dessa gente toda quando constataram que o Polegatto não tinha somente mudado de nome, agora assinava Dante Alighieri, mas também estava horrivelmente chato, falando de céu, inferno, essas bobagens todas que de comédia tinha só o nome.

Enfim, aqui no nosso espaço do POS, SOP, OPS, sei lá, vamos publicar a partir da semana que vem, os textos secretos de Polegatto. Aqueles que ele escreveu antes de ir em cana. São de uma qualidade infinitamente superior àquela baboseira, ou melhor, à lenga lenga de passeio no purgatório que o pobre, já com as faculdades comprometidas conseguiu produzir.

About the author

Flavio Prada

Flavio Prada, brasileiro vivendo na Itália se se olha do norte para o sul ou italiano nascido no Brasil se, ao contrario, se se olha vice versa. Duas culturas, que no final são meio a mesma coisa, idênticas ainda que muito diferentes. As espirais concêntricas de múltiplos raios das contradições e paradoxos dessa sua vida medíocre e surpreendente. Arquiteto, designer, quase músico, meio desenhista, um pouco pintor, contador de histórias em horas vagas, ex-publicitário, ex-fumante, ex-magro, ex-patriado. Visionário de pés no chão, não sabe até hoje o que fazer da vida, nunca havia vivido antes. Diz sempre que trocaria tudo para ir se dedicar à terra, mentindo de forma deslavada, mas todos acreditam e concordam, ninguém sabe o porque. Suas únicas publicações foram caricaturas e tirinhas para jornais do interior de São Paulo e Florianópolis, tanto tempo faz que é melhor não tocar nesse assunto. Hoje, entre projetos de loteamentos, casas e edifícios, se dedica a escrever. Seu estilo é indecifrável, muda com o vento, mas tem sempre a ironia a permear tudo, um traço de italianidade que a brasilidade só veio reforçar. Procura sempre esconder suas verdades sob camadas de banalidades e consegue sempre, até hoje não foi descoberto. Nem pelos seus poucos leitores do defunto blog “Lixo Tipo Especial”, que aliás continua on line e abandonado. Flavio pensou em deleta-lo muitas vezes e se ainda não o fez, foi só pra provar a si mesmo que não tem caráter. Como se fosse necessário ter que provar isso…para si mesmo. Para o futuro faz planos muito modestos, como continuar respirando, por exemplo. Pretende viver desse modo até o dia que morrer, então deverá parar. Paciência.