Os extremos do preconceito

Homossexual espancado

A nuvem do nazismo foi suplantada no século XX pelo desenvolvimento econômico, contudo no Brasil e no resto do mundo vê-se atualmente a radicalização política e a formação de grupos xenófobos. Notícias como o espancamento da empregada Sirley Dias na Barra da Tijuca, além do espancamento de jovens homossexuais em Niterói são exemplares da contemporaneidade desse tema que urge por ser debatido.

O Rio de Janeiro, assim como todo o Brasil, vive uma barbárie sem precedentes. As mudanças socioeconômicas decorrentes da política distributiva do governo Lula têm acarretado a radicalização das opiniões políticas e dos preconceitos.Homossexual espancado

Vive-se num país que desde sempre é marcado pelo preconceito racial (fato inegável, tendo-se em vista que 1 em cada 5 mulheres negras ativas no mercado de trabalho são empregadas domésticas) e que agora tem em suas diversas vertentes sociais a ampliação do preconceito relacionado à renda e também à opção sexual.

A notícia do gay agredido em Niterói suscitou uma questão delicada da sociedade brasileira: a homofobia. A homofobia pode ser considerada uma expressão dos grupos neonazistas no país, uma vez que nazismo e preconceito são intrinsecamente relacionados. Essa afirmação possui ainda mais veracidade quando se observa o perfil dos jovens agressores, os quais explanam suas diretrizes publicamente no site de relacionamentos Orkut e, além disso, ofendem homossexuais e outras minorias sociais.

Humilhação de homossexuais

As tais liberdades individuais tão valorizadas por qualquer democracia felizmente asseguram a liberdade de expressão, contudo elas são vedadas a qualquer fim que destitua terceiros de suas próprias liberdades. Essa parte do liberalismo de John Locke, porém, parece ter sido menosprezada por esses grupos homofóbicos ou neonazistas. Não deram relevância alguma também ao artigo 5° da Constituição:“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”.

Ferrúcio Silvestre, de 19 anos, que foi agredido após sair de uma boate gay em Niterói é mais uma vítima da intolerância que vem sendo disseminada no Brasil. Um país com um povo que não consegue tolerar a perda de influência e aonde a classe média vem perdendo privilégios em favor das classes populares tem sido, portanto, palco da ampliação da discriminação e do ódio, que se estende desde as diferenças econômicas até as sociais e sexuais.

Enquete: Qual a pior raça do mundo?

No entanto, esse embate social não é uma exclusividade nacional. Na Europa, após a integração socioeconômica promovida pela União Européia, a disputa no mercado de trabalho se acirrou e ocorreram quedas na média salarial da população. Explica-se tal fato através da análise das populações recentemente integradas ao bloco: populações qualificadas e sem hábitos consumistas, acostumadas aos baixos salários típicos do modelo socialista. Denomina-se popularmente crise do encanador polonês.Pôster do partido ultraconservador suíço

A crise do encanador polonês acarretou a formação de diversos grupos xenófobos na Europa, além de influenciar na ascensão política de partidos de extrema-direita, como no caso francês do Nicolas Sarkozy e também no caso suíço o qual foi ainda mais explícito já que, na campanha eleitoral, o cartaz principal do partido ultraconservador exibia uma ovelha branca que expulsava à patada uma ovelha negra, indicando a institucionalização da xenofobia e do preconceito como um todo.

Chegou ao Brasil, enfim, uma tendência econômica nada agradável acompanhada da intolerância que estava adormecida, sob os panos da sociedade, e que agora figura nas capas dos jornais de todo o país. A questão é: como esse traumático drama social pode ser solucionado antes do massacre de todas as minorias?

No momento tenho uma única certeza: "é essa paz que eu não quero seguir admitindo"

 

About the author

Paulo Henrique Guerra