Lana Del Rey e “esse tal” de Norman Rockwell

Lana Del Rey é uma cantora norte-americana, considerada pela crítica e pelo público como parte do cenário “indie”. Ela teria todas as características para ser apenas mais uma cantora pop, mas de fato, não é esse o caso. Não há coreografias em seus shows, e quando há, são simples e despretensiosas (ela realmente não nasceu para dançar), suas canções são, em geral, melancólicas e ela não se vale de figurinos, vídeos ou performances hipersexualizadas.  

Elementos muito marcantes nas letras e nos vídeos de Lana são as referências à história dos Estados Unidos e ao “sonho americano”. A poesia de Walt Whitman, a opulência e tragédia dos Kennedy, o parque um tanto quanto decadente de Coney Island, sua suposta experiência como uma pobre moradora de trailer, o famoso e misterioso Chelsea Hotel, James Dean, Elvis Presley, Marylin Monroe, o Grand Ole Opry, palco da música country, e até mesmo um simples refrigerante americano chamado Diet Moutain Dew; isso e tantos outros símbolos estadunidenses estão presentes em sua discografia, que já conta com 6 álbuns “oficiais”, excluindo os produzidos com seu próprio nome, Lizzy Grant e sob o pseudônimo de May Jailer.

Chelsea Hotel, citado numa das músicas de LDR, foi onde moraram Charles Bukowski, Patti Smith, Iggy Pop, Leonard Cohen e outros artistas, além de ser o local da morte do escritor Dylan Thomas

Seu último álbum, lançado em 2019, leva o título de Norman Fucking Rockwell, considerado pela crítica como um de seus trabalhos mais bem elaborados. Quanto aos fãs? Bem, os fãs se deliciam com tudo que Lana faz, mesmo quando não fazem a menor ideia das fontes em que ela bebe para escrever suas letras e compor sua imagem.

Lana e seu Diet Mountain Dew, refrigerante americano e título de um de seus primeiros sucessos

A última sacada evoca o artista e retratista Norman Rockwell – outro ícone norte-americano utilizado na música e estética da cantora. Porém, de fato muitos fãs não sabem de onde vem ou quem são essas inspirações.

Percebi esse fato com maior clareza quando uma amiga de 20 e poucos anos disse que tinha amado o novo álbum de Lana Del Rey, mas comentou com uma colega de trabalho (da mesma faixa etária), “quem é esse tal de Norman Rockwell?!” – pergunta que a colega, intrigada, também não soube responder. (Isso não é uma crítica, afinal quem nunca veio a conhecer o trabalho de grandes artistas através da cultura pop?) Já que conheço e admiro o trabalho de Rockwell há muitos anos, veio o desejo de descortinar o mistério.

Norman Rockwell, The Saturday Evening Post

Pode-se dizer que Norman Rockwell foi o retratista da América. Nascido em 1894, desejou ser artista desde os 14 anos. Estudou na New York Schooll of Art, National Academy of Design e The Art Students League e aos 22 anos iniciou sua carreira como desenhista das capas do The Saturday Evening Post, que resultaram em centenas de editoriais, publicados ao longo de 50 anos.

Boy and Girl gazing at the moon, Norman Rockwell 1926

Rockwell representou com maestria o Sonho Americano. Retratou, a pedido, os Presidentes Kennedy, Nixon e Eisenhower, além de ser contratado por vários políticos, como o ex-presidente egípicio Gamal Abdel Nasser.

Porém Rockwell nunca foi uma unanimidade. Era criticado justamente por uma das características que abrilhantavam seu trabalho, como a inocência e o patriotismo. Também foi acusado de decadente, idealista e burguês. Vladmir Nabokov, autor de Lolita, foi um de seus críticos mais ferrenhos, comparando, de forma irônica, Rockwell a Salvador Dalí. Se bem que uma crítica do controverso Nabokov é pouco diante da vasta obra de Rockwell.

Man on the Moon, Norman Rockwell 1967
The problem we all live with, Norman Rockwell, 1963/64

Fato é que ele foi de um perfeccionismo brilhante. Impossível olhar um desenho de Rockwell pela primeira vez e não examinar com mais atenção para ver se não se está diante de uma fotografia.

Esse, afinal, é um breve relato de mais uma das inspirações de Del Rey para suas canções. Segundo ela, a faixa que dá nome ao álbum “é sobre um homem que é um artista genial, que se acha o cara e não para de falar sobre isso”, declarou em entrevista à rádio Beats.

Triple Self-Portrait, Norman Rockwell

Eis aí a resposta: quem, afinal, foi “esse tal” de Norman Rockwell?

About the author

Juliana Dacoregio

Juliana Dacoregio é jornalista e escritora. Admiradora das artes, sobretudo cinema e literatura. E o resto é silêncio (ou muito barulho por nada e um pouco de som e fúria também).

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