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O Dia em que um Jegue Incendiou a Casa Branca: Os Bastidores Explosivos do Tarifaço de Trump

O Dia em que um Jegue Incendiou a Casa Branca: Os Bastidores Explosivos do Tarifaço de Trump

Trump Jegue

O dia em que a retórica devorou a razão

Há eventos que se tornam parte do folclore político antes mesmo de seus efeitos econômicos se materializarem. O “Tarifaço” de Donald J. Trump é um desses episódios. ­Anunciado com pompa e triunfalismo, o pacote tarifário foi apresentado como a libertação do trabalhador americano. Nos dias seguintes, a realidade bateu à porta: os mercados globais despencaram, aliados históricos ficaram boquiabertos e analistas de todos os espectros ideológicos — do liberal progressista ao conservador libertário — rasgaram véus de perplexidade.

A trégua diplomática que pairava sobre as relações comerciais internacionais ruiu como um castelo de cartas. O presidente, em vez de recuar, apertou mais o passo, marchando obstinadamente para frente como quem, assustado com a própria sombra, resolve atacá-la. Nada mais emblemático do que a metáfora do jegue: cabeça baixa, focinho obstinado, passo curto e ruidoso, alheio aos próprios tropeços.

Ao longo destas páginas, seguimos três trilhas: (1) a construção do “Tarifaço” como narrativa política; (2) o balanço econômico imediato e já quantificável; (3) o horizonte geopolítico de médio prazo — o momento em que, mantida a rota, o império poderá ser obrigado a conhecer a palavra “subjugação” nas mãos de potências emergentes do BRICS, possivelmente encorajadas por um Velho Mundo cansado e ressentido.

A gênese do Tarifaço: política de palanque e cálculo tosco

Não é segredo para ninguém que Trump se elegeu surfando a onda do descontentamento na Rust Belt, prometendo revigorar a indústria e trazer empregos “roubados” por chineses e mexicanos. A retórica protecionista deu votos — principalmente entre eleitores que nunca receberam um contracheque da Apple nem um dividendo da Boeing. O problema começou quando a retórica saiu do palanque para a prancheta de políticas públicas.

Os bastidores, como revelado por jornalistas investigativos, expõem um processo decisório que lembra o anedotário das repúblicas bananeiras: auxiliares usaram planilhas mal formatadas, projeções de demanda calcadas em dados desatualizados e curvas de oferta copiadas às pressas de artigos acadêmicos de 1995. Em poucas semanas, um documento volumoso — carimbado como “estratégia nacional” — foi levado a Trump, que não leu mais do que três páginas, mas assinou a ordem executiva.

É aqui que a acusação de “amadorismo comparável ao planejamento de guerra via aplicativo de mensagens” encontra solo fértil. Se alguém achou exagerado relacionar a peleja tarifária aos planos secretos divulgados no Discord, convém lembrar que ambos os casos compartilham o mesmo pecado original: improviso irresponsável.

Por que os mercados reagiram com pânico

O sinal-alarme do custo de oportunidade

Mercados detestam incerteza; preferem até más notícias a zonas cinzentas. O Tarifaço, ao impor sobretaxas de até 60 % em insumos eletrônicos, siderúrgicos e de energia renovável, criou um vácuo de previsibilidade: investidores passaram a recalcular cadeias de suprimentos enquanto CEOs acionavam departamentos jurídicos para descobrir se continuariam elegíveis a benefícios tributários estaduais.

Medo de represálias

A história econômica mostra que nenhum país, por mais poderoso, aumenta tarifas sem colher retaliações. Em 1930, o Smoot-Hawley Act contribuiu para travar o comércio e, segundo muitos historiadores, aprofundou a Grande Depressão. Hoje, com supply chains integradas, o efeito pode ser ainda mais letal. Basta um contrapeso da China nos setores de semicondutores ou terras raras para as montadoras de Detroit travarem a produção.

A evidência de um presidente “jeguiano”

Quando o ocupante do Salão Oval chama o presidente do banco central de incompetente, desqualifica relatórios de agências independentes e tuita ameaças de confisco a empresas que ousarem produzir fora da “América profunda”, o mercado interpreta: é hora de vender. O jegue, afinal, não sabe que se arrastar os estribos pode derrubar o próprio cavaleiro.

O impacto interno: tiro no pé, soco no estômago

Economistas de tendências diversas — do Instituto Peterson ao American Enterprise Institute — convergem em pelo menos três previsões sombrias:

  1. Queda da poupança doméstica: tarifas encarecem bens importados; consumidores gastam mais para obter o mesmo, sobrando menos para a previdência ou aplicações.

  2. Inflação de custos: setores que dependem de insumos externos repassam aumentos ao consumidor final. Em 12 meses, estima-se um salto de 2 % no CPI.

  3. Desaceleração da produtividade: fábricas que perderem acesso a peças asiáticas de alta precisão recorrerão a alternativas domésticas inferiores ou mais caras, atrasando cronogramas e minguando margens de lucro.

Para um presidente que se gabava de “economia turbo”, essas previsões equivalem a arrancar as rédeas do jegue e deixá-lo correr em círculos até desmaiar de exaustão.

A fratura das alianças: quando amigos se cansam de apanhar

A OTAN, a União Europeia e o G-7 vêm engolindo sapos desde 2017: insultos em cúpulas, saques simbólicos a acordos ambientais, chantagens para ampliar gastos militares. O Tarifaço foi a gota d’água. Diplomatas franceses e alemães, em conversas privadas, passaram a falar abertamente em “diversificação estratégica”, eufemismo para “buscar outros parceiros, nem que seja em Xangai”.

A lógica é simples: se o hegemon prioriza a própria lógica de curtíssimo prazo, por que aliados deveriam confiar nele para conflitos de longo prazo? Nós, brasileiros, historicamente sabemos o que significa viver sob a sombra de parceiros voláteis; basta lembrar quantas vezes acordos de alumínio ou etanol naufragaram por pressão de lobbies domésticos ianques.

BRICS: de clube de “emer­gentes” a bloco revanchista

A década passada testemunhou profundas transformações. A China consolidou sua Nova Rota da Seda; a Índia investiu pesado em tecnologia de satélites e vacinação em massa; o Brasil, mesmo amid crises políticas, manteve reservas cambiais robustas; a Rússia afastou-se do Ocidente pós-sanções e estreitou laços energéticos com Pequim. Em 2024, o BRICS expandiu-se para incluir Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Etiópia, formando um cinturão Sul-Sul com influência sobre produção de petróleo, minério e alimentos.

Sob Trump, Washington transformou rivais pontuais em antagonistas existenciais. Ao lançar tarifas seletivas, ofereceu combustível retórico a Pequim, Moscou e Nova Délhi: “Unam-se contra a tirania tarifária!”. E o Velho Mundo, saturado da figura do “jênio” (para usar a grafia trapalhona dos tweets presidenciais), começou a paquerar projetos de infraestrutura financiados pelo Banco de Desenvolvimento do BRICS.

O Velho Mundo hesitante: entre o Atlântico e a Eurásia

A Europa Ocidental vive um dilema. Por um lado, a segurança militar ainda depende do guarda-chuva nuclear norte-americano. Por outro, as empresas alemãs e francesas precisam de matéria-prima russa, chips taiwaneses e consumidores chineses. Diante de tarifas que inviabilizam margens de lucro, cresce o coro para criar uma “almofada” entre Washington e Pequim — espaço onde a UE possa negociar livremente, mesmo que signifique, em última instância, abandonar a órbita norte-americana.

Em Bruxelas, ganhou força a noção de “autonomia estratégica”. Não é difícil imaginar um cenário em que França e Alemanha, cansadas da instabilidade trumpista, assinem tratados de livre comércio paralelos ao Atlântico, aproximando-se do BRICS + . É aqui que a previsão tosca do Tarifaço — estimular indústrias domésticas — colide com a realidade de cadeias produtivas transnacionais.

O jegue e o abismo: metáfora de uma Casa em chamas

Lembremos da imagem iconográfica criada neste próprio artigo: Trump, de orelhas de jegue, à frente da Casa Branca em chamas. A Casa simboliza a economia americana; o fogo, as consequências autoimpostas; o jegue, a obstinação irracional. Não se trata de zombaria barata, mas de recurso retórico para ilustrar um ponto: quando a sede do poder adota táticas incendiárias contra seu próprio celeiro industrial, o desastre deixa de ser hipótese.

Assim como Nero é lembrado por tocar lira enquanto Roma ardia, Trump pode ser lembrado como o presidente que tuitava enquanto fábricas demitiam, portos acumulavam contêineres e diplomatas adversários desenhavam mapas de uma ordem mundial pós-americana.

“Talvez as tarifas não sejam um plano à prova de incêndio.”

Projeções macroeconômicas: o relógio da decadência

Modelos do Federal Reserve sugerem que um choque tarifário de 40 % em bens de capital reduz o PIB em 1–1,5 p.p. ao ano, passados dois anos. Adicione a isso:

  • Retaliações equivalentes a 0,5 p.p.;

  • Aumento dos custos de financiamento (spread de crédito soberano + 75 bps);

  • Queda de produtividade calculada pela TFP (Total Factor Productivity) em –0,3 %.

O acúmulo, num horizonte de cinco anos, projeta-se em uma perda potencial entre 6 % e 8 % do PIB — o suficiente para empurrar os EUA de volta à participação relativa que tinham nos anos 1970, quando Japão e Alemanha Ocidental despontavam.

O fator dólar: hegemonia ameaçada

Enquanto o dólar for moeda-reserva, Washington pode imprimir papel verde e pagar importações. Mas o Tarifaço puxa um fio perigoso: se a confiança global trincar, bancos centrais podem aumentar gradualmente a cesta de divisas com yuan digital, rúpia, real ou até criptoativos lastreados em commodities. Basta que 10 % das reservas globais migrem para fora da órbita do Federal Reserve para o Tesouro americano pagar mais caro por cada leilão de bonds.

Um ciclo vicioso se forma: dívidas mais caras impõem cortes orçamentários ou inflação; cortes afetam despesas em defesa; menos defesa reduz soft power; menos soft power abre espaço a rivais — e, de repente, o império encontra-se num beco estratégico.

Síndrome de Tordesilhas ao contrário

Portugal assinou o Tratado de Tordesilhas para dividir terras recém-descobertas, confiando que o mapa do mundo era imutável. Séculos depois, viu-se relegado à periferia da história. Trump repete o erro na chave oposta: tenta, a golpes de tarifa, redesenhar esferas de influência sem perceber que as fronteiras comerciais hoje são digitais, instantâneas e movediças.

Ao elevar barreiras, ele não redesenha; apenas se exclui da nova cartografia. É uma Tordesilhas invertida: em vez de linha no Atlântico, cria-se um muro de tributos atrás do qual o jegue se isola, sem perceber que o mundo já comercia por rotas alternativas — na nuvem, via stablecoins paneurasiáticas ou pela faixa ferroviária Pequim-Moscou-Roterdã.

As vozes dissonantes dentro dos EUA

Nem todos aplaudem a cavalgada do jegue. Governadores republicanos de estados agrícolas temem perder o mercado chinês de soja; prefeitos democratas de portos californianos veem diminuir o fluxo de contêineres; até lobistas das indústrias de painéis solares (ironicamente, votantes de Trump contra o “green deal”) reclamam que tarifas sobre silício de grau fotovoltaico encarecem projetos rurais.

As tensões internas alimentam a possibilidade de um “congresso de resgate”: a união improvável de moderados de ambos os partidos para restabelecer diálogo multilateral. Mas enquanto isso não acontece, investidores estacionam capital em Singapura, Zurique, São Paulo — qualquer lugar menos volátil que a política de Washington.

Narrativas rivais: o jegue contra o dragão

Pequim não perdeu a chance de vestir o figurino de guardiã do livre-comércio. Discursos cuidadosos em Davos, anúncios de tax cuts para multinacionais que transferirem P&D para Xangai, promessas de financiamento verde para infraestrutura no Sul Global — tudo isso ecoa como contraponto ao protecionismo trumpista.

No tabuleiro da influência, símbolos contam. O dragão oferece seda digital; o jegue, cacetadas tarifárias. Quando países da África ou do Sudeste Asiático precisarem escolher a quem confiar futuros portos de água profunda ou data centers 5G, a memória desse contraste pesará.

Cenários de médio prazo: três estradas divergentes

  1. Recuo estratégico
    O Congresso, pressionado por lobbies industriais, força revisões graduais nas tarifas. Trump tenta salvar a face declarando “vitória parcial”, mas restabelece quotas negociadas bilateralmente. Danos ainda existem, mas a sangria é contida.

  2. Conflito tarifário prolongado
    Nenhum lado cede. Retaliações se intensificam; cadeias produtivas reconfiguram-se longe dos EUA; BRICS amplia influência em organismos de governança global. PIB americano desacelera consistentemente; Europa acelera “autonomia estratégica”.

  3. Choque sistêmico
    Algum gatilho (crise financeira asiática, conflito no Estreito de Taiwan) colide com mercados já fragilizados. A fuga de capitais atinge o dólar; Washington é forçada a adotar controle de danos drástico, inclusive estimulando corte de gastos militares. O império, ferido, entra numa trajetória clara de rebaixamento geoeconômico.

Embora seja tentador apostar na primeira via, o temperamento impulsivo do presidente — e o histórico de dobrar a aposta — torna os dois cenários restantes perigosamente plausíveis.

O papel do Brasil e do Sul Global

Para países como o Brasil, o Tarifaço abre janelas de oportunidade: vender soja, milho e minério a quem antes comprava dos EUA; captar indústria automotiva que busca fugir de sobretaxas; negociar acordos bilaterais com a UE, sedenta por acesso a commodities fora da órbita trumpista. Mas há armadilhas: alinhar-se abertamente a um bloco anti-EUA pode atrair sanções; permanecer neutro exige diplomacia fina.

O Itamaraty deve lembrar da lição de 2003, quando o boom das commodities chinesas impulsionou o PIB brasileiro, mas também gerou dependência. Diversificar parceiros continua sendo a única vacina antijegue: não colocar todas as ferraduras no mesmo animal.

O crepúsculo da jumentologia imperial

Há algo quase shakespeariano na tragédia em construção. Um império que ascendeu defendendo mercados abertos agora cava sua própria cova econômica em nome de proteger empregos que desapareceram não por concorrência externa, mas por automação e mudança estrutural. Ao brandir tarifas, Trump atira flechas imaginárias contra moinhos de vento globais — e acaba ferindo seu próprio estômago.

A história ensina que impérios caem tão depressa quanto demoram a subir. Roma levou séculos para ruir. A Grã-Bretanha perdeu a hegemonia em poucas décadas. Os Estados Unidos, armados até os dentes mas vulneráveis em cabos de rede e rotas de contêiner, podem acelerar sua descida se insistirem em políticas que isolam, empobrecem e inflamam aliados.

O jegue ainda trota nos jardins da Casa Branca, indiferente às labaredas que lambem as colunas brancas. Resta saber se alguém conseguirá puxá-lo pelas rédeas antes que o teto desabe — ou se, num futuro não tão distante, historiadores estudarão o Tarifaço como o início oficial do Crepúsculo do Império Dólar.

E, caso chegue esse tempo, será inevitável lembrar com ironia: o império não foi tragado por uma força externa, mas pela própria teimosia jumentológica de quem cavalgava sobre as ruínas em chamas de sua outrora admirada Casa.

*Texto criado por com auxílio de IA inspirado no editorial de William Waack em 10/07/2025
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