Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Uma propaganda de cerveja pode ser entendida como direito de expressão, direito à liberdade de iniciativa e direito de livre escolha do consumidor? Se sim, por que então não liberar também a propaganda ilimitada de cigarros e da maconha? Qual é a ética e a lógica da legislação que proíbe a segunda e libera a primeira? O fato é que o crescente investimento em publicidade de cerveja e chopp tem como objetivo conquistar as pessoas em geral, e os jovens em particular, para um estilo de vida aparentemente glamoroso, mas que tem como única meta aumentar as vendas e os lucros das empresas capitalistas do setor. O Ministério Público Federal já ajuizou diversas ações civis públicas contra as cervejarias com pedido de indenização pelos danos causados pelo consumo de cerveja e outras bebidas alcoólicas, tais como o aumento de mortes violentas e de homicídios, de problemas de saúde em geral, de dependência química, de acidentes de trânsito, de problemas profissionais, de violência urbana e doméstica, etc. A questão da publicidade de cerveja no Brasil não se encaixa na questão do moralismo, mas sim na questão de saúde pública em decorrência do aumento da mortalidade e de luta contra o sexismo e o machismo veiculado nas propagandas das “louras que matam a sede”. Neste sentido, a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) e o CONAR (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) abriram três processos éticos contra a campanha de lançamento da cerveja Devassa Bem Loura, da Schincariol, protagonizada pela socialite americana Paris Hilton (contratada a peso de ouro, ops, a peso de dólares). A SPM considerou a campanha sexista e desrespeitosa para a mulher. Um outro processo, aberto após denúncias de consumidores, vai avaliar se o comercial faz um apelo exagerado à sensualidade, contrariando o código de ética, que condena o apelo erótico em propagandas de bebidas alcoólicas e também o tratamento de modelos como objeto sexual. O Ministério da Saúde, por meio da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) tem tentado implementar propostas de restrições à publicidade deste bilionário mercado das cervejas, pois associa o consumo de álcool a acidentes de trânsito com vítimas, má-formação de bebês e até ao abuso sexual e episódios de violência de todo tipo. O ministro José Gomes Temporão chegou a criticar artistas famosos como Zeca Pagodinho e Ivete Sangalo (e também jogadores de futebol) pela participação – também a peso de ouro – nas campanhas publicitárias de cerveja no Brasil. Os anúncios da Devassa são mais um exemplo de propaganda enganosa que associa o prazer e o poder fálico ao consumo de cerveja, como se sexo e gozo fossem subprodutos da embriaguez. Aliás, os fabricantes de bebidas alcoólicas contribuíram para transformar a grande festa popular do carnaval em um grande porre alienado de embriaguez. O melhor para a saúde do Brasil seria fazer uma devassa nas contas e nas práticas das empresas de bebidas alcoólicas e avaliar os prejuízos que elas causam à saúde e a educação do país, dos jovens e das pessoas de todas as idades. Sexo é uma coisa boa para homens e mulheres, mas não da maneira que mostra e sugere a cerveja Devassa.