Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet A convivência pacifica de dois Estados soberanos, com acordo mútuo de fronteiras internacionalmente reconhecidas, é a única solução para o milenar conflito palestino. A Palestina, conhecida como Terra Santa – berço das religiões judaica, cristã e muçulmana – é um foco de conflito internacional permanente, pois israelitas e palestinos vivem em disputa sangrenta. A história desta região é complexa e marcada por grandes reviravoltas. Por volta do ano 1250 antes de Cristo, o patriarca Moisés conduz a migração do povo hebreu do Egito para a Palestina (Êxodo). Por volta do ano 1000 a. C. as tribos judaicas se unificam sob o comando de Saul, sendo sucedido pelo rei Davi. O “Estado” judeu alcançou seu apogeu no reinado de Salomão entre 966 e 926 a. C. Após a morte de Salomão as tribos dividem-se nos reinos de Israel e Judá, no chamado Cisma Hebreu. A nova estrutura enfraquece a unidade hebraica. No ano de 586 a. C. os hebreus foram dominados, deportados e escravizados pelo império de Nabucodonosor, no episódio conhecido como Cativeiro da Babilônia (início da diáspora judaica). No ano de 70 depois de Cristo, já sob o domínio romano, os judeus foram expulsos da região e se dispersaram por vários países (2ª diáspora). Mais de cinco séculos depois, em torno do ano de 635, os árabes ocuparam a Palestina e converteram a maioria dos seus habitantes ao Islã. Entre 1517 e 1917 a Palestina é incorporada ao Império Turco Otomano. Com o fim da Primeira Guerra Mundial e a desintegração otomana, a Palestina passa a ser administrada pela Grã-Bretanha, com mandato da Liga das Nações. Neste meio tempo crescem as migrações de judeus para a Palestina, principalmente a partir do movimento sionista do fim do século XIX que pregava a criação de um país onde os judeus pudessem viver livres das perseguições. Com o Holocausto hitlerista, a partir de 1933, cresceu a presença dos judeus na Palestina. Em 1947, com o fim da Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) vota a favor da divisão da Palestina em dois Estados: um para os judeus e outro para os árabes palestinos. O plano de partilha é rejeitado pelos países árabes, mas os líderes judeus proclamam o Estado de Israel em 1948. Os países árabes (Egito, Iraque, Síria e Jordânia) enviam tropas para impedir a criação do Estado judeu. A guerra termina em 1949, com a vitória de Israel que fica com o controle de 75% do território da Palestina, um terço a mais do que previsto no plano de partilha da ONU. O restante do território palestino passa a se chamar Cisjordânia e é incorporado à Jordânia. Sucessivas guerras só aumentaram o poderio militar e territorial do Estado de Israel. Em 1967, com a vitória na Guerra dos Seis Dias, Israel conquista o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e a parte oriental de Jerusalém, que é anexada. Em 1973 eclode a Guerra do Yom Kippur e que teve como uma das suas consequências a primeira grande crise do petróleo. Em 1978 foram assinados os acordos de Camp David estabelecendo a paz entre Israel e Egito e um compromisso israelense de negociar a autonomia dos territórios palestinos. A península do Sinai é devolvida ao Egito em 1982. A partir de 1991, Israel recebe grande quantidade de migrantes judeus provenientes da antiga União Soviética. Em 1964 foi criada a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) como legítima representante do povo palestino. Em 1968 Yasser Arafat assume a presidência da OLP que passou a ser reconhecida pela ONU no ano de 1974. Nos anos 70 a luta palestina se intensifica quando a OLP instala as suas bases no sul do Líbano. Em 1982, Israel invade o Líbano e o quartel-general da OLP se transfere para a Tunísia. No mês de setembro de 1982 milicianos cristãos libaneses, aliados de Israel, massacram centenas de palestinos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, em Beirute. Em 1987, eclode a primeira grande rebelião palestina dos territórios ocupados, conhecida como Intifada. Devido à pressão internacional e depois da vitória do partido trabalhista de Israel, liderado por Itzhak Rabin, o governo de Israel e a OLP assinam o tratado de paz, batizado de Oslo, no qual se reconhecem mutuamente. O tratado prevê a devolução de grande parte dos territórios ocupados e a autonomia palestina. O maior ponto de discórdia continua sendo a resistência de Israel em devolver a parte oriental de Jerusalém aos palestinos. Em 1996, com a autonomia plena na Faixa de Gaza e em Jericó, Yasser Arafat vence a primeira eleição e se torna presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Contudo, o processo de paz foi interrompido devido à intolerância recíproca. Em 1995 o primeiro ministro Yitzhak Rabin, depois de liderar um grande ato pela paz, foi assinado por um extremista judeu de direita, Yigal Amir. O assassinato de Rabin foi mais um capítulo da luta dos grupos ultranacionalistas e radicais ortodoxos judeus contra a devolução de territórios aos palestinos. O fortalecimento dos partidos fundamentalistas e a vitória do partido direitista, Likud interrompeu o processo de paz. No dia 28 de setembro de 2000, a visita do líder do Likud, Ariel Sharon, à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, um local considerado sagrado tanto para muçulmanos quanto para judeus, provoca a explosão da Intifada de Al-Aqsa. Em fevereiro de 2001, Ariel Sharon ganha as eleições para primeiro-ministro e se recusa a devolver novos territórios aos palestinos. A luta se acirra com a Autoridade Nacional Palestina perdendo o controle sobre os grupos extremistas que promovem as ações dos homens-bomba contra alvos israelenses. Em outubro de 2001 o conflito cresce ainda mais depois que membros da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) assassinam o ministro do turismo israelense, Rehavan Zeevi, e o governo de Israel revida com novas retaliações aos palestinos. Evidentemente, a questão Palestina precisa ser resolvida e não ampliada. A solução dos conflitos não passa pela via militar, mas sim pela via da diplomacia e da política. É preciso encontrar um ponto de convergência que torne viável a convivência pacífica entre o Alcorão, a Bíblia e a Torá, respeitando-se as diferenças e a autodeterminação de cada povo. Os fundamentalismos judaico e palestino precisam ser contidos. Como disse o escritor palestino Edward Said: “Venho dizendo a anos que nossas principais armas, como árabes, não são militares, e sim morais, e que a única razão pela qual a luta palestina pela autodeterminação ainda não cativou a imaginação do mundo é que parece que não temos claros quais devem ser nossos objetivos e métodos e que ainda não definimos de maneira inequívoca que nosso objetivo é a convivência e a inclusão, não o exclusivismo e o retorno a algum passado mítico e idílico” (FSP, 5/10/2001). Em dezembro de 2001 foi acertado um cessar-fogo entre israelenses e palestinos. Os atentados com homens-bomba contra alvos israelenses foram suspensos temporariamente. Mas o governo de Israel mantém o cerco a Arafat, que ficou impedido de sair da cidade de Ramallah e não pôde ir à Belém no dia 25 de dezembro (natal) e nem no dia 06 de janeiro de 2002 (natal para a Igreja Ortodoxa). A prisão de um navio com 50 toneladas de armas no inicio de janeiro, que o governo de Israel diz serem destinadas a ANP, acirrou o conflito e dificultou o processo de paz na região. No dia 09 de janeiro de 2002 o grupo Movimento de Resistência Islâmica – Hamas – assume o atentado que matou quatro militares israelenses no Kibutz de Kerem Shalon no sul de Israel, próximo da Faixa de Gaza, rompendo com um mês de cessar-fogo. Em retaliação, Israel destrói casas palestinas e bombardeia alvos da ANP. Desde o início da Intifada, em setembro de 2000, ao menos 806 palestinos e 240 israelenses morreram devido à violência na região. Em 2005, após 38 anos de ocupação, as tropas israelenses e os colonos deixaram a Faixa de Gaza. Em janeiro de 2006 o Hamas vence as eleições palestinianas, o que não chegou a ser novidade pois existiam muitas denuncias contra o grupo Fatah, enquanto o Hamas vinha apresentando uma folha de serviços comunitários e uma imagem de modéstia e relativa probidade. Porém, depois de um ano de conflitos internos, em junho de 2007, a Autoridade Nacional Palestina se divide de forma inconciliável entre os partidos Hamas e Fatah, sendo que o primeiro passou a controlar a Faixa de Gaza e a Cisjordania se manteve sob o governo do Fatah, do presidente Mahmoud Abbas. No início de 2009, após oito dias de intensos bombardeios aéreos, Israel invadiu a Faixa de Gaza, com o objetivo de ocupar as áreas de onde militantes do Hamas disparam foguetes contra território israelense. No dia 19 de janeiro, um dia antes da posse de Barack Obama nos Estados Unidos e três semanas depois do início de mais uma guerra que deixou cerca de 1.300 palestinos e 13 israelenses mortos, o exército israelense começou a desocupar suas posições no território da Faixa de Gaza. Em peregrinação pela Terra Santa, em maio de 2009, o papa Bento XVI disse que existe tanto o "reconhecimento universal que o Estado de Israel tem direito a existir, e a gozar de paz e segurança em fronteiras internacionalmente reconhecidas", como o "direito do povo palestino a um lar nacional soberano e independente, a viver com dignidade e a viajar livremente". Em discurso na Universidade do Cairo, em 04/06/2009, o presidente Obama se comprometeu com a criação do Estado palestino dizendo: "Os israelenses devem reconhecer que da mesma maneira que não se pode negar a Israel o direito de existir, tampouco se pode aos palestinos". Como disse Clausewitz, o famoso general e estrategista prussiano, "a guerra é a continuação da política por outros meios". Só a política e a diplomacia podem evitar a guerra. Em teoria, a resolução do conflito palestino é relativamente simples: basta que Israel desocupe os territórios ocupados (trocando terra por paz) e haja um reconhecimento mútuo do Estado de Israel e do Estado Palestino. A dificuldade está em fazer os dois lados abandonarem seus ódios recíprocos, aprendendo a ser tolerantes, respeitando as diferenças e se comprometendo com a paz, a liberdade religiosa e a pluralidade de idéias.