Crescimento econômico e populacional de longo prazo


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A despeito da crise econômica atual, as projeções indicam que haverá crescimento da renda per capita ao longo do século XX. O grande desafio será manter o crescimento econômico e populacional de longo prazo com a defesa do meio ambiente.

Os pensadores iluministas do século XVIII acreditavam na noção de progresso e achavam que a melhoria das condições de vida aconteceria paralelamente à redução do ritmo de crescimento da população. Já o pastor e economista inglês Thomas Malthus considerava ser impossível acabar com a pobreza, pois com maior renda os casais teriam maior número de filhos sobreviventes e a população tenderia a crescer em ritmo superior ao crescimento dos meios de subsistência. Para o pensamento malthusiano, a incapacidade da Terra de fornecer os recursos para uma crescente população levaria, cedo ou tarde, a um ajuste via aumento das taxas de mortalidade. A experiência concreta dos últimos 200 anos se encarregou de mostrar uma história diferente. O crescimento da renda per capita não só aumentou ao longo do período, como se acelerou com o tempo. Na segunda metade do século XX a população mundial teve o maior crescimento de todos os tempos, passando de 2,5 bilhões, em 1950, para 6,1 bilhões no ano 2000. Houve um crescimento da população de quase duas vezes e meia, mas também o PIB mundial não ficou para trás e cresceu cerca de sete vezes, representando, também, um crescimento econômico inigualável.

Esse alto crescimento da população e da economia foi acompanhado pela melhoria de dois importantes indicadores de saúde. A mortalidade infantil no mundo caiu de quase 160 por mil, em 1950, para 57 por mil em 2000. A esperança de vida mundial passou de 47 anos para 65 anos em 2000. Segundo as projeções da ONU, estas tendências de declínio da mortalidade vão continuar na primeira metade do século XXI. No ano de 2050 espera-se que a mortalidade infantil caia para 24 mortes para cada mil nascimentos, enquanto a esperança de vida ao nascer média da população mundial deverá atingir 75 anos.

Porém, o fato de a economia e os meios de subsistência terem crescido mais do que a população nos últimos 200 anos não significa que o mesmo vá ocorrer nas décadas vindouras. De fato, as taxas de mortalidade caíram e as disponibilidades de recursos cresceram, mas os ambientalistas argumentam que isto se deu às custas de uma degradação ambiental e que, se não houver modificação no modo de produção e no ritmo de crescimento populacional, o futuro da humanidade estará em perigo e os avanços do passado poderiam se converter em retrocesso.

As projeções demográficas da ONU mostram que a população mundial vai crescer na primeira metade do século XXI, qualquer que seja a variante adotada sobre as tendências da fecundidade. No caso das taxas de fecundidade permanecerem constantes, ao mesmo nível da década de 1990, a população mundial chegaria a 11,7 bilhões de habitantes em 2050. No caso da variante alta – que considera uma queda lenta da fecundidade – a população mundial chegaria a 10,6 bilhões. No caso da variante média a população chegaria a 9,1 bilhões. E no caso da variante baixa – que considera uma redução mais rápida da fecundidade – a população mundial chegaria a 7,7 bilhões de habitantes em 2050. Em qualquer destes cenários futuros, o ritmo de crescimento anual da população será menor do que aquele que ocorreu no século XX.

Diante destes cenários demográficos, como ficaria o crescimento econômico? O crescimento do PIB também se desaceleraria? Evidentemente é muito difícil se fazer previsões sobre os próximos cinqüenta anos. Porém, segundo projeções do professor Maddison – que é um dos maiores estudiosos sobre tendências econômicas de longo prazo –, o crescimento do PIB per capita do mundo na primeira metade do século XXI seria um pouco maior do que na segunda metade do século passado. Além disso, nos próximos cinqüenta anos o crescimento per capita deverá ser maior nas regiões em desenvolvimento, ao contrário do passado, quando as regiões desenvolvidas tiveram um desempenho melhor.

Evidentemente, a possibilidade da renda per capita dos países em desenvolvimento crescer duas vezes mais rápido do que a renda per capita dos países desenvolvidos é uma hipótese otimista adotada pelo professor Maddison para as próximas décadas. Esta não foi a realidade do século passado. Porém, não é uma hipótese irreal se considerarmos os dados do crescimento mundial recente. Os dados dos relatórios semestrais do World Economic Outlook do International Monetary Fund, mostram que a renda per capita do mundo entre 2000 e 2006 cresceu a um ritmo maior do que a média do século passado, e que a renda dos países em desenvolvimento cresceu duas vezes mais rápido do que a renda dos países desenvolvidos. A crise econômica de 2008 mostra que foram os países desenvolvidos os mais afetados e que os países emergentes continuam apresentando melhor desempenho.

Nessa possibilidade ímpar, o mundo estará diante de um processo de redução das desigualdades internacionais de renda se for confirmada esta tendência de maior crescimento econômico dos países mais pobres. Esta possibilidade pode ser real devido ao fato dos países mais pobres possuírem mão-de-obra barata e abundante, taxas de câmbio competitivas e poderem usufruir da importação de tecnologias modernas para acelerar os ganhos de produtividade.

Existe um fator populacional que pode contribuir para o melhor desempenho econômico dos países menos desenvolvidos nas próximas décadas, que é a existência de menores taxas de dependência demográfica. De fato, os países desenvolvidos se aproveitaram de menores taxas de dependência na segunda metade do século XX. Nas próximas décadas estes países vão passar por um rápido processo de envelhecimento e de redução da população em idade economicamente ativa. Provavelmente esta nova situação demográfica dos países ricos deve aumentar a demanda por produtos dos países em desenvolvimento.

Já os países de menor renda, tendo altas taxas de fecundidade, pagaram o ônus de altas taxas de dependência nas décadas passadas. Contudo, nos próximos cinqüenta anos devem se beneficiar das novas configurações das suas estruturas etárias, podendo aumentar sua produção interna para atender suas próprias demandas domésticas e a demanda global por bens e serviços. Esta janela de oportunidade que se avizinha pode ser desperdiçada se não houver políticas macroeconômicas adequadas ou se houver um agravamento das condições ambientais do mundo.

O desafio está colocado e é preciso ter grandeza de pensamento e de propósitos para enfrentar as dificuldades que a humanidade terá neste século XXI.

 

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José Eustáquio Diniz Alves