A população da Espanha em 2100

Em suas origens, há cerca de 2 mil anos, a Espanha foi uma colônia Romana. Ela deve aos Romanos a língua de origem latina e boa parte da cultura. Porém, no século VIII, quase todo o país foi conquistado (711-718) pelos exércitos dos  mouros muçulmanos do norte da África. A luta pela reconquista começou em seguida e durou séculos. A resistência se expandiu pelo norte e pelo sul da Espanha e resultou na conquista de Granada e a expulsão dos últimos mouros em 1492. A união do reinos de Castela e Aragão (por meio do casamento em 1469 da Rainha Isabel I de Castela e o Rei Fernando II de Aragão) fez surgir o Reino da Espanha.

Com as grandes navegações de Cristovão Colombo, a Espanha se tornou uma potência mundial. Nos séculos XVI e XVII os espanhois dominaram quase toda a América do Sul (com exceção do Brasil) e praticamente toda América Central, além do México e parte dos Estados Unidos atuais (como a Califórnia, o Texas e a Flórida). Também tinha colônias na África e na Ásia. O espanhol se tornou um dos idiomas mais falados no mundo (muito mais do que o italiano, o francês ou o português).

Contudo, a Espanha foi entrando em decadência depois da Revolução Industrial e das mundaças ocorridas na Europa e no mundo no século XIX. Em primeiro lugar, a Espanha foi dominada pelos exércitos de Napoleão, que impôs seu irmão José Bonaparte no governo da Espanha. Depois, se viu bastante diminuida após a independência de suas colônias nas Américas. A expansão para o oeste das Colônias dos Estados Unidos reduziu o espaço espanhol e a Guerra Hispano-Americana, em 1898, provocou a perda do restante das colônias do Novo Mundo.

Em 1936, teve início a Guerra Civil Espanhola (1936-39) que levou à ditadura do general Francisco Franco (1939-1975) e a uma grande decadência econômica, política e cultural. Com a morte de Franco, em  1975, Juan Carlos assumiu o cargo de Rei de Espanha e, após o Pacto de Moncloa, houve a redemocratização do país e aprovação da Constituição de 1978. Em 1982 a Espanha aderiu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), em 1986 aderiu à União Europeia (UE) e, em 2002, deixou de usar a peseta e aderiu ao Euro,  moeda comum européia.

A Espanha passou por um grande crescimento econômico após a entrada na União Européia. Todavia, foi um dos países mais atingidos pela crise econômica que teve início em 2008 e ainda não tem data para terminar. Além da queda da renda per capita dos últimos anos, 2012 e 2013 serão marcados por recessão e desemprego acima de 25%. Atualmente o desemprego entre jovens já ultrapassou a impressionante marca de 50%. O jornalista espanhol Ramón Muñoz escreveu o livro “Espanha, Destino Terceiro Mundo” apontando, além dos aumento dos movimentos separatistas, a redução econômica e demográfica do país.

A Espanha tinha uma população de 28 milhões de habitantes em 1950, passando para 46 milhões em 2010. A ONU estima, para o ano de 2050, uma população espanhola de 57,3 milhões na hipótese alta, de 51,4 milhões na hipótese média e de 45,9 milhões, na hipótese baixa. Para o final do século as hipóteses são: 69 milhões de habitantes na hipótese alta, de 45 milhões, na média, e somente 27,7 milhões na hipótese baixa. Porém, estas projeções foram feitas antes da crise atual e o mais provável é que a população espanhola fique mais próxima das estimativas baixas. Ou seja, a população da Espanha em 2100 deve ficar próxima daquela que tinha em 1950. Portanto, a densidade demográfica que era de 55 habitantes por quilômetro quadrado (km2) em 1950 subiu para 91 hab/km2 em 2010 e deve voltar para o mesmo nível de meados do século XX.

A taxa de fecundidade na Espanha era de 2,53  filhos por mulher no quinquênio 1950-55 e caiu para o recorde de baixa de 1,2 filhos em 1995-2000. Com o crescimento econômico da primeira década do século XXI a fecundidade subiu um pouco para 1,4 filhos por mulher no quinquênio 2005-10. As projeções da ONU apontam para uma recuperação atingindo 1,9 filhos no quinquênio 2045-50 e 2,05 filhos por mulher em 2095-2100. Porém, os últimos dados apontam para uma queda e não para um recuperação do número médio de filhos.

A idade mediana da população espanhola estava em 27,5 anos em 1950, passou para 40 anos em 2010 e deve chegar a 49 anos na segunda metade do século XXI. O processo conjunto de queda da fecundidade e de envelhecimento da população reduziu a percentagem de mulheres em idade reprodutiva e fez o número de nascimentos na Espanha cair drasticamente. No quinquênio 1950-55 nasceram em média 588 mil bebês por ano. Este número passou para 486 mil crianças e deve cair ligeiramente ao longo do atual século.

Paralelamente à transição da fecundidade houve redução da mortalidade infantil e aumento da esperança de vida. A mortalidade infantil era de 64 por mil no quinquênio 1950-55, caiu para apenas 3,8 por mil em 2005-10 e deve abaixo de 3 por mil entre 2050 e 2100.

Em termos ambientais, a pegada ecológica per capita dos espanhois estava, em 2008, em 4,74 hectares globais (gha) para uma biocapacidade per capita de 1,46 gha. Portanto, o país, mesmo apresentando níveis médios de produção e consumo, possui um déficit ambiental, pois os recursos naturais do país não são abundantes e precisa importar energia e alimentos para manter seu padrão de vida.

Portanto, além da crise do Euro e da União Europeia, a Espanha vai ter que enfrentar, ao mesmo tempo, uma crise econômica, social e ambiental. Para complicar, as eleições regionais da Catalunha (região mais próspera), em novembro de 2012, deram vitória para o partido nacionalista Convergência e União (CiU) e o Esquerda Republicana Catalã (ERC), abrindo  caminho para um referendo sobre a independência catalã.

Portanto, pode ser que, nos próximos anos, a Espanha, além do decrescimento populacional e econômico, deixe de existir como um Estado unificado, conforme se consolidou há 550 anos, desde a união do reinos de Castela e Aragão.

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José Eustáquio Diniz Alves