A sociedade brasileira avança e a igreja Católica fica presa no passado

A igreja Católica chegou ao Brasil junto com Pedro Álvares Cabral. A primeira missa foi rezada por Frei Henrique Coimbra, no sul da Bahia, no dia 26 de abril de 1500. Nos 4 séculos seguintes, a igreja manteve um monopólio de quase 100% sobre a população brasileira.

A igreja Católica reinou no Brasil quando o país era rural, de economia agrária e de subsistência, as famílias eram numerosas e havia baixa mobilidade social e baixo nível de consumo. A família católica típica era formada a partir do matrimônio de mulher virgem com um homem que já tinha alguma experiência sexual (geralmente com prostitutas), os casamentos eram para sempre, pois havia baixo índice de separações e divórcios, o homem trabalha fora e possuia renda, a mulher era apenas dona de casa e tinha como função cuidar dos filhos e do marido. As taxas de fecundidade eram altas, a esperança de vida era baixa, o percentual de pessoas morando sozinhas era pequeno, praticamente não havia aposentadoria e sistemas públicos de proteção social, o índice de analfabetismo era muito elevado, os canais de informação e comunicação eram restritos e a mobilidade espacial e social era limitada. Era forte a ligação da família extensa com a igreja e os padres eram uma referência importante das comunidades.

Porém, este Brasil tradicional ficou para trás na medida em que ia se urbanizando, industrializando e avançando em termos de estrutura produtiva, de padrão de consumo e de qualidade de vida. As taxas de fecundidade cairam, a esperança de vida aumentou, houve quase universalização da educação básica (e laica), o sistema de aposentadoria se genaralizou, cresceram as políticas públicas de proteção social, como o Bolsa Família, além de haver uma ampliação do processo de diversificação familiar. O Brasil tem passado por um processo de laicização e a população se sente menos inclinada a se manter fiél a uma igreja específica ou a uma determinada corrente religiosa. A presença da televisão e de atores e atrizes, nos mais diversos campos da cultura, são referências mais fortes para os jovens do que os padres e pastores.

Nas últimas décadas houve redução da idade inicial da primeira relação sexual tanto para os meninos quanto para as meninas. É crescente o número de jovens que fazem sexo antes do casamento. É crescente também o uso de métodos contraceptivos modernos e o uso da camisinha para o sexo seguro. Um maior número de casamentos terminam em divórcio. Crescem os recasamentos. As mulheres reduziram o número médio de filhos e aumentaram a participação no mercado de trabalho. Aumenta a demanda por maior equidade de gênero na família e na sociedade. Cresce o número de pessoas que assumem os relacionamentos homossexuais. É cada vez mais diversificado e elevado o padrão de consumo médio da população, assim como os níveis de informação. As famílias ficaram menores, mas com maiores níveis de migração e mobilidade na estrutura ocupacional.

Mas a igreja Católica continuou com a mesma doutrina de proibir o sexo de jovens antes do casamento, de negar as separações, de não fazer recasamentos, de defender o papel doméstico das mulheres, de não aceitar os meios de regulação da fecundidade e os preservativos, de condenar a homossexualidade, etc. Os ritos litúrgicos são antigos e pouco atraentes, especialmente para os jovens. E a igreja tem uma relação de antagonismo com a sociedade de consumo de massa, ao contrário da teologia da prosperidade. O crescimento das camadas médias e liberais em termos de costumes tende a reduzir ainda mais o rebanho católico. O trabalho de evangelização é frágil e a igreja Católica não está conseguindo deter a concorrência de outras correntes religiosas e do secularismo.

O resultado é que o número de fiéis ligados ao catolicismo está diminuindo de maneira muito rápida e a igreja mantém um discurso e uma pratica voltada para a família e a sociedade tradicional, enquanto o Brasil caminha para ser um país pós-moderno, mesmo que muito desigual e injusto socialmente. O fato é que, para o bem ou para o mal, a sociedade brasileira tem avançado, mas a igreja Católica não consegue superar as limitações do seu passado concreto, muito menos consegue se adaptar ao processo de modernidade líquida, que acelera o ritmo de vida e transforma tudo o tempo todo.

About the author

José Eustáquio Diniz Alves