Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet A África, a despeito das suas diferenças regionais, deve apresentar um crescimento de quase 10 vezes no número de habitantes entre 1950 e 2050, criando desafios e oportunidades para as próximas décadas. Entre os dias 27 de setembro e 02 de outubro aconteceu a 26ª Conferência da União Internacional de Demografia em Marrakech, no Marrocos, norte da África. Participaram cerca de 2.300 pesquisadores de todo o mundo e os papers apresentados podem ser acessados na página “The XXVI International Population Conference of the IUSSP” disponível no link: http://iussp2009.princeton.edu/ Este artigo é dedicado ao continente que apresenta a maior dinâmica populacional da atualidade. O rápido crescimento no número de habitantes decorre da fase da transição demográfica em que se encontra a África. No quinquenio 1950-55 a taxa de mortalidade infantil era de 177 por mil e a esperança de vida era de 39 anos. No quinquenio 2000-05 a mortalidade infantil tinha caido para 88 por mil e a esperança de vida subido para 53 anos. Evidentemente, o continente continua distante dos níveis alcançados no resto do mundo, mas está em progresso, mostrando que apesar das epidemias e das guerras, a mortalidade média está em declínio no continente. A conjugação de taxas de mortalidade em queda e a manutenção de taxas de fecundidade ainda elevadas faz da África a região do mundo que apresenta as maiores taxas de crescimento vegetativo. Em 1950, a África possuia uma população de 227 milhões de habitantes e passou para 819 milhões no ano 2000. A população quase quadruplicou em 50 anos, apresentando taxas anuais de crescimento de cerca de 2,5% ao ano. Em 1950 a população africana compunha 9% da população mundial e, no ano 2000, já representava 13,4% do total do Planeta. A população africana vai continuar crescendo nos próximos 50 anos, variando conforme os cenários das projeções. Para o ano 2050, na projeção baixa da ONU a população da África ficará em 1,7 bihão de habitantes; na projeção média chegará a 2 bilhões; na projeção alta atingirá 2,3 bilhões e, na projeção que considera a fecundidade constante tal com se encontra no início do atual século, a população africana poderia chegar a 3 bilhões de habitantes em 2050. No caso da projeção média, a população africana representaria 22% da população mundial em meados do atual século . O alto crescimento demográfico na África não é uniforme entre as suas regiões. Parafraseando Guimarães Rosa, a África são muitas. O Norte e o Sul apresentam as menores taxas e o meio do continente (sub-Saara) as maiores taxas de aumento. Portanto, um continente de tal dimensão não pode ser analisado de maneira uniforme, pois existem muitas heterogeneidades na África. Considerando 5 regiões africanas, constatamos que em 1950 a população da África setentrional era de 52,8 milhões e deve chegar a 321 milhões em 2050 (crescimento de cerca de 6 vezes). O menor crescimento (cerca de 4 vezes) aconteceu na África meridional que tinha 16 milhões de habitantes em 1950 e deve ficar em 67 milhões em 2050. A África ocidental possuia uma população de 68 milhões em 1950 e deverá atingir 626 milhões em 2050 (mais de 9 vezes de crescimento). A África central tinha 26 milhões em 1950 e deve atingir 273 milhões em 2050 (mais de 10 vezes de crescimento). Crescimento da mesma magnitude aconteceu na África oriental que tinha 65 milhões de habitantes em 1950 e deverá alcançar 711 milhões em 2050. As diferenças no ritmo de crescimento da população entre as regiões africanas se devem ao comportamento diferenciado das taxas de fecundidade. A região Meridional apresentou o menor crescimento populacional porque foi a região que iniciou mais cedo a transição demográfica, pois tinha uma taxa de 6,2 filhos por mulher em 1950, chegou a 2,9 filhos em 2000 e deverá ter uma taxa de abaixo do nível de reposição em 2050. A região Setrentrional teve uma transição da fecundidade um pouco mais atrasada em relação à região Meridional, mas também deve apresentar taxas abaixo do nível de reposição em 2050. Já as regiões Central, Oriental e Ocidental ainda tinham taxas de fecundidade acima de 6 filhos por mulher na década de 1980 e só iniciaram a transição na década de 1990 e ainda devem apresentar taxas de fecundidade acima do nível de reposição em 2050. A revista britânica The Economist apresentou uma matéria sobre a dinâmica demográfica na África mostrando os desafios e oportunidades que existem no continente e a possibilidade de se aproveitar o dividendo demográfico nas próximas décadas: “Demography needs to be put in perspective. It is not destiny. Africa needs a green revolution; more efficient cities; more female education; honest governments; better economic policies. Without those things, Africa will not reap its demographic dividend. But without the transition that Africa has started upon, the continent’s chances of achieving those good things would be even lower than they are. Demography is a start” . A transição demográfica é apenas o desafio inicial da África. O alto crescimento populacional pode ser uma grande oportunidade se o continente mantiver altas taxas de crescimento econômico, avançar na universalização da educação, emprego e saúde, especialmente para as mulheres, respeitar e proteger o meio ambiente e manter condições institucionais estáveis, democráticas e com respeito ao Estado de direito. Referências: Dados da Divisão de População da ONU: World Population Prospects: 2008 Revision, http://esa.un.org/unpp The Economist, Aug 27th 2009. Africa’s population and demographic dividend. Disponível em: http://www.economist.com/opinion/displayStory.cfm?story_id=14302837&source=hptextfeature