Os Sem Filhos


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Tem crescido o número de mulheres, homens e casais que optam por não ter filhos. Este fenômeno da retirada da procriação tem crescido especialmente entre a população jovem que privilegia a carreira profissional, o consumo e o lazer ao invés da filiação.

Desde a chegada dos portugueses, sempre houve uma política prónatalista no Brasil. O lema dos colonizadores era: “governar é povoar”. Até meados do século XX, o país possuia ampla disponibilidade de terras e, na típica sociedade agrária e rural, a norma instituida era a mesma do lema biblico: “Crescei e multiplicai-vos”.

Alguns fatores de ocupação do território e outros econômicos contribuiram para adoção de uma mentalidade prónatalista no país. Nas sociedades escravocrata ou do capitalismo primário-exportador ter muitos filhos sempre foi uma forma dos donos dos meios de produção conseguirem mão-de-obra barata. Como mostra a literatura, o tipo de organização da atividade econômica prevalecente no Brasil até meados do século XX (economia de subsistência, colonato e parcerias agrícolas) favorecia um padrão de casamento precoce e a adoção de famílias numerosas, onde todos os membros atuavam em conjunto na atividade agrícola. Este padrão demográfico brasileiro era apoiado pela ideologia das Igrejas – que pretendiam aumentar o número de seus fiéis – e do Estado – que via no alto crescimento demográfico o caminho para a afirmação nacional e a defesa do território contra ameaças externas.

Além disto, na família patriarcal as desigualdades geracionais e de gênero vinham em função de garantir os privilégios dos pais e maridos, isto é, dos homens que se apropriavam dos benefícios dos filhos e das esposas. Neste ambiente, ter muitos filhos não tinha nada a ver com altruísmo, mas sim com a obtenção de vantagens provenientes da dominação masculina. Na história do Brasil, a harmonia geracional e de gênero sempre foi mais a exceção do que a regra.

Contudo, o Brasil e o mundo mudaram muito nas últimas décadas. A transição urbana, a diversificação econômica, os avanços educativos e a democratização política e religiosa do país, especialmente após a Constituição de 1988, propiciaram o aprofundamento da transição demográfica, a maior diversificação familiar e o crescimento do número de pessoas que vivem sozinhas, inclusive do número de pessoas sem filhos. O declínio do patriarcado, a mudança na relação entre as novas e velhas gerações (com a reversão do fluxo intergeracional de riquezas) e a maior equidade de gênero, defendida pelo movimento feminista, reforçaram estas novas tendências.

Assim, além da queda geral da fecundidade, tem crescido o número de pessoas que não procriam e não deixam herdeiros. Existem pessoas sem filhos que vivem sozinhas em domicílios unipessoais, existem os casais sem filhos e existem pessoas sem filhos que moram em outros arranjos familiares.

Os dados do IBGE mostram que, enquanto o total de domicílios do Brasil passou de 39,7 milhões para 54,6 milhões, representando um crescimento de 37,4% entre 1996 e 2006, os domicílios com pessoas morando sozinhas passou de 3,2 milhões para 6 milhões, representando um crescimento de 86%, no período.

O crescimento maior aconteceu entre os domicílios unipessoais masculinos que apresentou um crescimento de 101%, contra 73,5% de crescimento dos domicílios unipessoais femininos, entre 1996 e 2006. Ao contrário do que se divulga regularmente, o maior crescimento de pessoas vivendo sozinhas não aconteceu no grupo dos idosos, mas em outros grupos etários. Para os “homens só”, o crescimento foi maior nos grupos 30-44 anos (97%) e 45-59 anos (131,6%), enquanto, para as “mulheres só” os maiores aumentos foram para aquelas dos grupos etários 15-29 anos (97,5%) e 45-59 anos (90,6%).

Um outro tipo de arranjo domiciliar que apresentou grande crescimento no período foi o dos domicílios com casais sem filho, que apresentou um crescimento de 65,5% entre 1996 e 2006. Também neste caso, não foram os domicílios de idosos, isto é, do chamado “ninho vazio” que apresentaram o maior crescimento. Expressivamente, foram os domicílios cujos chefes pertenciam ao grupo etário 45-59 anos que apresentaram o maior aumento (103,3%). Embora as causas para deste fato sejam múltiplas, uma das explicações pode decorrer do aumento dos casais que decidem não ter filhos. Mesmo nos grupos etários 15-29 anos e 30-44 anos o aumento dos domicílios com casais sem filhos, no período, foi superior ao aumento do total de domicílios no Brasil (37,4%). Isto indica que, ou os filhos estão saindo mais cedo e em maior quantidade de casa, ou está crescendo o número de casais que nunca tiveram filhos no Brasil. Esta segunda hipótese parece ser a mais verdadeira, mas carece ainda de mais estudos para a sua comprovação.

Sem dúvida, as transformações sociais e econômicas de uma sociedade pós-industrial e pós-fordista tiveram um impacto muito grande na dinâmica familiar mundial e brasileira. A estrutura familiar está ficando mais heterogênea e diversificada. Neste processo, cresce o número de homens, mulheres e casais que optam por não ter filhos. Os domicílios unipessoais estão aumentando no Brasil e não somente entre a população idosa. Mais pesquisas são necessárias para se compreender as características das pessoas que optam por não ter herdeiros. Mas este fenômeno está se ampliando especialmente entre a população adulta e em idade economicamente ativa.

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José Eustáquio Diniz Alves