Desglobalização e Pós-globalização

A crise econômica mundial está colocando em xeque os pilares da globalização. Mas os desdobramentos da crise apontam para um mundo pós-globalizado ou desglobalizado?

A globalização é um conceito amplo e difuso, pois é usado para caracterizar vários fenômenos sociais, econômicos e culturais contemporâneos. Segundo Tavares e Fiori: “Não há dúvida de que a palavra globalização foi cunhada no campo próprio das ideologias transformando-se, nesta última década, num lugar-comum de enorme conotação positiva, apesar de sua visível imprecisão conceitual. É provável, inclusive, que esta palavra passe à história dos modismos sem jamais adquirir um verdadeiro estatuto teórico, mantendo-se como um conceito inacabado. Mas também não há dúvida de que, apesar de tudo isto, poucas palavras possuem tamanha força política neste final de século XX, o que já seria razão suficiente para submete-la a um exame rigoroso e crítico” (Des-ajuste global e modernização conservadora. RJ, Paz e Terra, 1993 p. 7).

Além de servir de base para a ideologia neoliberal, uma outra característica da globalização ocorreu em função da aceleração do crescimento do comércio internacional. Depois da queda do Muro de Berlim, do fim da União Soviética (e do Comecom) e a entrada da China como grande protagonista do comércio mundial, as trocas de bens e serviços avançaram em um ritmo elevado nas duas últimas décadas. Com o avanço do comércio houve avanço dos investimentos diretos, internacionalização da produção e aumento da migração (inclusive “circulação de cérebros”) e das trocas culturais, impulsionadas pelas novas tecnologias, especialmente a Internet. Tudo isto fortaleceu a noção de globalização.

Contudo, a crise econômica que se espalhou pelo mundo, no segundo semestre de 2008, a partir da inadiplência do setor imobiliário dos EUA, tem feito retroceder o comércio internacional e feito crescer o protecionismo e o nacionalismo por toda parte. No Fórum Econômico Mundial de Davos, em 2009, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, cunhou o neologismo "desglobalização" referindo-se aos recuos e prejuízos provocados pela crise econômica global.

A desregulamentação financeira que propiciou uma enorme liquidez e avanço do crédito – especialmente para o consumo nos EUA, foi responsável pela deblaque atual. Mas o sumiço do crédito, especialmente para investimento e obras em infra-estrutura pode simplesmente gerar um crescimento exponencial do desemprego e o consequente aumento da pobreza no mundo.

O Fundo Monetario Internacional – FMI – projeta um crescimento de apenas 0,5% para a economial mundial em 2009, com as economias avançadas recuando 2,0%. O lado menos ruim é o crescimento do PIB da Índia (5,1%) e da China (6,7%), os dois países mais populosos do mundo. O FMI projeta também queda no comércio internacional em 2009.

O fim da ideologia do neoliberalismo é uma boa noticia para o mundo. Porém, o fim da globalização não pode ser marcado por uma volta ao passado. O fortalecimento do protecionismo e o avanço da xenofobia é uma péssima notícia para quem sonha com um mundo pós-moderno e pós-globalizado, com justiça, equidade e sem barreiras econômicas e culturais.

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José Eustáquio Diniz Alves