Dilma Rousseff: Lula + Mandela?

O Partido dos Trabalhadores (PT) levou ao ar o seu programa no horário eleitoral gratuito, nesta quinta-feira. O dia 13 de maio de 2010 foi escolhido a dedo, pois coincide com o número do PT e com o aniversário da chamada “Lei Áurea”, que promoveu (sem inclusão social) a libertação dos escravos, há 122 anos.

A legislação eleitoral brasileira não permite, neste momento, que se faça propaganda eleitoral antecipada para as candidaturas de 2010, embora todos saibam quem são os candidatos que já se afastaram de seus cargos para concorrer nas eleições de outubro. Contudo, como era de se esperar, com propaganda ou não, a grande estrela do programa do PT foi a ex-ministra Dilma Rousseff.

Tecnicamente o programa foi muito bem elaborado e buscou mostrar de maneira positiva a candidata do partido. Dilma foi apresentada como uma mulher competente e que está preparada para a Presidência do Brasil. O presidente Lula ressaltou os laços de Dilma com Minas Gerais – onde ela nasceu e cresceu e é o segundo maior colégio eleitoral do país – e com o Rio Grande do Sul – onde ela formou família e seguiu carreira profissional. Nestas duas Unidades da Federação quem está à frente das intenções de voto é o candidato do PSDB, José Serra.

Na parte das realizações, o programa deu mais ênfase ao Minha Casa Minha Vida e ao  Luz para Todos, ao invés do PAC. Em vez de falar da usina de Belo Monte, preferiu mostra o parque eólico de Osório, no Rio Grande do Sul, mostrando a preocupação com a energia renovável, ao invés de se vangloriar do petróleo do pré-sal.

O programa buscou criar empatia entre Dilma e o eleitorado. Embora a candidata seja inexperiente como protagonista em campanhas eleitorais, ela tem se esforçado para demonstrar espontaneidade e capacidade de superação, como quando disse que sua vida “sempre foi enfrentar e vencer desafios”. Evidentemente, Dilma ainda não conseguiu desenvolver o seu carisma, mas fica evidente que ela está se esforçando e que pode ter um bom desempenho na fase decisiva da campanha, que começa em agosto de 2010.

A estratégia do programa do PT foi “encher a bola” da candidata Dilma, comparando-a com o presidente Lula e com Nelson Mandela. Foi uma aposta ousada.

A comparação com Lula, evidentemente, é exagerada, pois Lula tem uma trajetória de vida iniqualável, como retirante nordestino, operário de chão de fábrica, líder sindical, líder das mobilizações do ABC paulista que abalaram a ditadura no final do anos 70, um dos líderes da campanha das Diretas Já, deputado constituinte, candidato derrotado por três vezes à Presidência da República e líder de um governo que tem cerca de 80% de aprovação popular e grande reconhecimento internacional. Acontece que foi o próprio Lula que deu o aval e dividiu os louros do governo com a sua ministra. Dificilmente um governante se mostra tão pródigo e aceita compartilhar o sucesso de um governo com seus ministros. Provavelmente isto não aconteceria com Hugo Chávez, que é uma figura mais centralizadora e egocêntrica.

A comparação com Mandela, também, é exagerada, pois o líder da luta contra o apartheid ficou 27 anos preso (a ditadura militar no Brasil durou 21 anos) e liderou uma revolução sem igual no mundo, inclusive ganhando o prêmio Nobel da Paz. Evidentemente a comparação com o grande líder sul-africano teve o objetivo de se contrapor aos críticos e as campanhas difamatórias que associam Dilma ao terrorismo e como uma ameaça à democracia brasileira. Neste sentido, o programa mostrou uma Dilma defensora da liberdade e que usou os meios disponíveis, em sua época de militante, para defender os valores da democracia e do progresso do país.

Já existem pesquisas de opinião em campo para colher a intenção de voto do eleitorado. Provavelmente estas pesquisas vão captar qual foi o efeito do programa do PT do dia 13 de maio. Não se sabe, ainda, quanto o eleitorado vai ser acessível à esta comparação de Dilma com Lula e Mandela.

O fato alvissareiro é que Dilma e sua equipe pensam grande. Para os próximos 15 anos, o Brasil tem uma boa perspectiva de desenvolvimento sustentado, com redução da pobreza e respeito ao meio ambiente. Caso Dilma vença as eleições de 2010, mesmo sendo novata na política, é bom que ela se compare com grande líderes, como Lula e Mandela, mesmo que haja exagero nesta comparação. De fato, o Brasil precisa de uma liderança que seja capaz de aproveitar as potencialidades da nação e coloque o país de pé, em parceria com outras grandes nações do mundo, e não como um gigante “deitado eternamente em berço esplêndido”.

 

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José Eustáquio Diniz Alves