Endividamento, inflação e desindustrialização no Brasil

O Brasil apresentou o melhor desempenho econômico da sua história, nos chamados anos dourados (1950-1980). Porém, os anos 80 foram marcos pela recessão e pelo aumento da pobreza – período compreendido como a “década perdida”. Nos anos 90 houve crescimento, mas em ritmo lento. O novo século não começou bem nos primeiros anos. Porém, o Brasil viveu um ciclo de crescimento econômico no período 2004-2008, que ficou abaixo do desempenho dos 30 anos dourados, mas acima do desempenho das duas últimas décadas do século XX. A crise de 2009 foi curta e a recuperação veio com força em 2010. O Brasil está maduro para apresentar boas taxas de crescimento econômico e a redução da pobreza, até 2015, cumprindo com os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio.

Porém, existem tendências preocupantes. Dados divulgados pelo Banco Central mostram uma piora nas contas externas brasileiras. O déficit em transações correntes acumulado no primeiro trimestre somou US$ 12,145 bilhões, o pior resultado desde o início da série em 1947. No primeiro trimestre de 2009, o déficit em transações correntes era quase três vezes menor (US$ 4,938 bilhões), o correspondente a 1,74% do PIB. Em 12 meses até março, o déficit em transações correntes subiu para US$ 31,509 bilhões, ou 1,79% do PIB. Em março de 2010, o balanço de pagamentos do Brasil com o exterior apresentou um déficit na conta de transações correntes de US$ 5,067 bilhões. O resultado negativo é bastante superior ao déficit de US$ 1,559 bilhão, registrado em março do ano passado.

Algumas pessoas já perguntam se o Brasil não está caminhando para uma situação como a da Grécia (tragédia grega)?

O câmbio valorizado tem provocado a redução dos saldos da balança comercial, além de prejudicar a industria nacional. Segundo o embaixador Rubens Ricupero, o câmbio já está estrangulando o setor de maior tecnologia e valor agregado de nossa indústria (eletrônica, farmacêutica, química, automobilística e maquinaria). Apenas nos três primeiros meses do ano esse setor teve um déficit de US$ 13,6 bilhões, maior do que em todo o ano de 2006 e superior em 42% ao do mesmo período do ano passado. Parecem estar contados os dias de saldo comercial, uma vez que as importações estão crescendo em ritmo quase duas vezes maior do que as exportações (65% ante 23%).

Segundo o economista Paulo Nogueira Batista Junior, indicado pelo governo brasileiro para representar um grupo de nove países no FMI, o déficit em conta-corrente deve ficar em torno de 2,5% do PIB neste ano e a expectativa é que continue crescendo em 2011. Ele já considera a situação preocupante e diz: “um pouco mais de cuidado com o déficit das contas externas não nos fará mal algum”.

A elevação dos juros, para combater a inflação, agrava a sobrevalorização cambial. Por outro lado, o descontrole fiscal agrava as pressões sobre o aumento dos preços. Neste sentido, é correta a atitude do Ministério da Fazenda que anunciou um corte adicional de R$ 10 bilhões em despesas de custeio, que poderá ajudar a União a superar a meta de 3,3% do PIB para o superavit primário. Estes cortes são pequenos, mas sinalizam preocupação com o superaquecimento da economia em 2010. O Congresso Nacional também deveria estar atento com a generosidade excessiva que eleva gastos, mas não as fontes de receita.

A elevação das taxas de juros também prejudica o aumento dos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo, que é financiada pela poupança interna ou externa, é fundamental para aumentar a oferta de bens e serviços na sociedade e para evitar que a demanda seja maior do que a oferta (o que levaria ao aumento dos preços). O aumento dos investimentos é que gera emprego e incorporação de novas tecnologias, possibilitando a elevação da renda per capita e a redução da pobreza. Também gera capacidade de exportação e melhor desempenho das contas externas do país.

Taí um bom tema para ser debatido pelos/as candidatos/as à Presidência da República em 2010: como aproveitar as boas perspectivas da economia brasileira para os próximos anos, sem comprometer a estabilidade monetária e garantindo o processo de industrialização, sem aumentar o endividamento externo e promovendo uma inserção soberana no processo de integração internacional.

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José Eustáquio Diniz Alves