Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Marina vai mobilizar as “forças vivas” da nação? Ela vai romper com a bipolaridade na política brasileira? A política ficou dividida por mais de 20 anos entre a família Bush e a família Clinton, nos Estados Unidos da América (EUA). Nas eleições de 2008, havia a possibilidade de uma eleição plebiscitária entre McCain (apoiado por Bush) e Hillary Clinton. Mas a entrada de Barack Obama na disputa mudou o quadro das eleições, atraindo uma grande parte do eleitorado que estava cansada da polaridade entre os Bush e os Clinton. Efetivamente, Obama mobilizou os jovens, as mulheres, os negros e os verdes (ambientalistas) para reconfigurar a cena política dos EUA. Haverá também uma surpresa no Brasil? Em Terra Tupiniquim, nas duas últimas décadas, a política tem sido polarizada entre Fernando Henrique Cardoso (FHC), do PSDB, e Luis Inácio da Silva (Lula), do PT. O primeiro se gaba de ter dado um novo rumo ao país, acabando com a inflação, garantindo a estabilidade financeira e avançando em programas sociais. O segundo se gaba de ter melhorado o quadro externo do país (com redução da dívida externa e se tornado credor do FMI), aumentado o crescimento do emprego formal e do salário mínimo, reduzido a pobreza e a desigualdade e melhorado a inserção internacional do país. PSDB e PT têm dominado as últimas eleições presidenciais e contituído um sistema que pode ser classificado como “bipartidarismo de coalizão”, pois ambos tem se altenado no poder, mas não possuem força suficiente para comandar o país sem uma ampla aliança partidária no Congresso Nacional. No palco das eleições presidenciais, os dois partidos são os protagonistas e os demais são coadjuvantes, embora possa acontecer o contrário na gestão do dia a dia da política. A ida da senadora Marina Silva do PT para o Partido Verde (PV) e sua candidatura para a presidência da República colocaria um fator novo ao “bipartidarismo de coalizão” e abriria portas para uma ampla reforma das estruturas políticas no país, caso houvesse um realinhamento de forças e um novo projeto de futuro. De imediato, a presença da senadora Marina na corrida presidencial abalaria a disputa maniqueísta entre os partidários de FHC e de Lula e lançaria luz sobre novas alternativas e rumos para o país. A ministra Dilma Rousseff (PT) tem se apresentado como “mãe do PAC” e uma desenvolvimentista que defende o crescimento econômico com forte presença do Estado. O governador de São Paulo, José Serra (PSDB), também é identificado como desenvolvimentista, mas com maior apoio da elite industrial nacional e, especialmente, paulista. Seriam dois projetos de desenvolvimento, um mais ancorado na força estatal e o outro mais ancorado na inciativa privada. Dilma teria o apoio de caciques da política brasileira como Sarney, Collor e Renan Calheiros. José Serra teria o apoio dos caciques do DEM (antigo PFL), como ACM Neto, etc. Ou seja, os velhos atores do patrimonialismo brasileiro se acomodariam neste processo de escolha entre duas alternativas já experimentadas. A entrada do Partido Verde na disputa eleitoral pode fortalecer o projeto de desenvolvimento com sustentabilidade ambiental e romper com o “bipartidarismo de coalizão”. Novos alinhamentos políticos poderão ser formados. Mesmo o PT e o PSDB vão ter que se esforçar para ultrapassar um pouco suas rivalidades históricas e pensar em novas perspectivas para o Brasil. A candidatura de Marina colocaria um fim à “estratégia plebiscitária”, de conflito direto entre apenas um nome de situação e um de oposição. Outras propostas e outras alternativas teriam de ser consideradas, como uma economia de baixo carbono e o ecodesenvolvimento. Por tudo isto, podemos dizer que a democracia brasileira sai ganhando com a candidatura de Marina Silva em 2010. Ela ajudou a derrubar o regime autoritário, participou da reconstrução nacional nos últimos 20 anos e não esteve envolvidas nos divesos escândalos de corrupção surgidos no período. No mínimo, o eleitorado do país terá maiores opções de escolha. Mas, principalmente, o Brasil deixará de simplesmente discutir se o período 1995-2002 é melhor ou pior do que o período 2003-2010 e se somos pró FHC ou pró Lula. Marina pode ser a renovação da utopia. A grande dificuldade será arrejar a estrutura partidária brasileira e transformar o PV em um partido capaz de liderar uma coalizão de forças políticas comprometida com a ética, a capacidade de governança e o bem-estar da população. O Partido Verde terá que combater o CO2 e oxiginar as práticas políticas nacionais. Qualquer que seja o resultado do pleito de 2010, o importante é que o país consolide os seus mecanismos democráticos e aproveite a renovação de forças para promover o desenvolvimento humano e ambiental, com qualidade de vida e redução das desigualdades regionais e de renda, cor, genero e geração. Espera-se uma fase sem personalismos, pós Lula e FHC.