Mulheres nas eleições presidenciais: indecisas ou alijadas e exigentes?

Uma tendência recorrente nas eleições presidenciais do Brasil, durante a Nova República, é o maior percentual de intenção de votos brancos, nulos, nenhum e não sabe entre as mulheres. As pesquisas eleitorais ocorridas em 2010 mostram que as mulheres superam os homens quando se trata de intenção de voto branco, nulo, nenhum ou não sabe. Isto é, as mulheres são menos propensas a definir o voto nas candidaturas presidenciais, pelo menos antes da decisão final no segundo turno.

Na pesquisa Datafolha, realizada nos dias 15 e 16 de abril de 2010 as mulheres apresentavam 8% de intenção de voto em “branco/nulo/nenhum”, contra 6% dos homens; e 11% de “Não sabe”, contra 5% dos homens.

Alguns políticos e analistas interpretam este fenômeno como fazendo parte de um processo de fraqueza feminina, pois as mulheres seriam mais indecisas e, de certa forma alienadas da política. Elas acompanhariam menos os noticiários políticos e tenderiam a seguir os homens (pais, maridos, colegas de trabalho, vizinhos, etc.) na hora de definir o voto. Por isto, elas estão sempre atrás no processo de definição do voto e apresentam maiores taxas de indecisão. Desta forma, a candidatura que conquistasse os homens, levaria as mulheres a reboque.

Contudo, gostaria de apresentar uma outra interpretação. A recusa em definir o voto com rapidez pode ser uma reação feminina ao fato da maioria das mulheres estar alijada dos cargos de direção dos partidos e do governo. Pode ser uma reação também à linguagem da política, que é muito machista e dominada por um discurso falocêntrico e que privilegia a agenda masculina. Desta perspectiva, as mulheres resistem em definir o voto em função do seu alijamento do processo político e da falta de uma liderança que seja capaz de tocar o “coração e mente” do eleitorado feminino. Ao invés de serem indecisas, as mulheres, na realidade, são exigentes e não seguem integralmente o caminho apontado pelos homens.

Um exemplo de como as mulheres são alijadas da política pode ser ilustrado pelo baixo número de mulheres nas direções dos partidos e pela pouca divulgação dos temas relacionados às desigualdades de gênero nos programas eleitorais e no cotidiano das práticas políticas. Além de tudo, os constantes escândalos de corrupção e a má gestão da coisa pública afastam o interesse das pessoas, em geral, e das mulheres, em particular, com o acompanhamento da ações governamentais e o processo legislativo.

Desta forma, não é de se surpreender com o fato das mulheres terem menor interesse com a política, esta política tal como é feita hoje no Brasil. De fato, as mulheres são excluídas das instâncias de decisão dos partidos e dos espaços do poder e depois são acusadas de serem eleitoras alienadas da política.

Assim como Barack Obama ganhou as eleições ao mobilizar e conquistar o eleitorado independente dos Estados Unidos, o Brasil precisa de uma liderança que compreenda as aspirações das mulheres brasileiras e seja capaz de mobilizar a força feminina – maioria do eleitorado – superando as desigualdades de gênero ainda existentes e indicando uma alternativa para o futuro, em sintonia com a manutenção e a recriação das utopias.

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José Eustáquio Diniz Alves