Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet O processo de desenvolvimento econômico aconteceu nos últimos 200 anos com base na mobilidade social ascendente. Isto foi possível porque enquanto a população passou de 1 bilhão de habitantes para 7 bilhões de habitantes em 2011 – crescimento de 7 vezes – a economia cresceu 60 vezes. Portanto, a despeito das desigualdades, houve um grande aumento da renda per capita. Desta forma, cada nova geração, na média, conseguia um nível de bem-estar superior em relação à geração mais velha. É o processo do novo substituindo e avançando em relação ao velho. Em geral, cada nova geração conquistava melhores níveis de renda e educação, maior acesso aos bens de consumo e maior esperança de vida. Porém duas grandes transformações estão mudando este quadro. Uma é a transição demográfica que mudou a estrutura etária da população e acelerou o processo de envelhecimento populacional. O percentual de idosos cresce muito em relação ao percentual de pessoas em idade ativa, alterando o cálculo atuarial que sustentava o regime de repartição simples da previdência. Isto quer dizer que as gerações mais novas vão ter que pagar mais para sustentar as aposentadorias e pensões e não terão os mesmo beneficios no futuro. A outra grande transformação é a redução das taxas de crescimento econômico, especialmente nos países desenvolvidos e que possuem um sistema de proteção social (Welfare state) avançado e caro. Os Estados Unidos (EUA) é um exemplo de país que viveu o sonho da mobilidade social ascendente, mas que nos últimos anos perdeu competitividade econômica (especialmente para a China), elevou muito o nível de endividamento das famílias e do governo e aumentou a desigualdade social. O resultado é que existe um processo de mobilidade social descendente (downward mobility) nos EUA, com pessoas da classe média engrossando as fileiras da pobreza. Por conta disto, as taxas de fecundidade americanas caiu de 2008 para 2011 e a perspectiva é que continuem caindo por falta de oportunidades para os jovens. A crise grega está deixando claro um alto nível de conflito intergeracional. No caso da Grécia toda a população está regredindo e empobrecendo. Mas este processo é mais acentuado entre os jovens que não vêem perspectiva pela frente e já enfretam taxas de desemprego de 50%. Ou seja, em cada dois jovens gregos, um está desempregado. E não há luz no fim do túnel. Nos protestos ocorridos em fevereiro, um rapaz, do lado de fora do Parlamento gritava para um senhor mais idoso do outro lado da cerca: “É a sua geração que nos trouxe a este ponto, mas é a minha que vai ter de pagar. Vocês têm que se responsabilizar pelo que está acontecendo”. Esta é uma clara situação de conflito intergeracional. Na mitologia grega, o Deus kronos, representado por um homem idoso e de longos cabelos, é famoso por ter devorado os seus próprios filhos. Em pleno século XXI a política e a economia estão devorando os sonhos da juventude da Grécia. No Brasil, cresce o número de idosos que são arrimos de família e cresce a transferência de recursos das velhas para as jovens gerações. Esta mudança no fluxo intergeracional de riqueza é um dos motores da queda das taxas de fecundidade, que por sua vez, aumentam o processo de envelhecimento populacional. A transferência de recursos públicos para as pessoas idosas no Brasil, em comparação com o gasto per capita para a infância e a juventude, possibilitou que, em geral, os mais velhos ajudem mais os filhos e netos com recursos da aposentadoria pública. Mas se os idosos estão ajudando os jovens é porque os segundos estão em pior situação social do que os primeiros. Significa que os jovens estão tendo dificuldades de conseguir o mesmo padrão de vida dos seus pais e avós. Isto pode gerar um grande conflito intergeracional quando o Estado não mais conseguir manter os gastos previdenciários e da assistência social e não oferecer oportunidades adequadas de emprego para os jovens. Mas o fato é que a mudança do fluxo intergeracional de riqueza, na definição de John Caldwell, deve pressionar ainda mais para baixo as taxas de fecundidade que, por sua vez, vai provocar o aumento do processo de envelhecimento populacional. Não vai ser fácil reverter novamente as relações intergeracionais e criar esperança e mobilidade ascendente para as jovens gerações.