Vencendo o racismo e o sexismo?


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A candidatura de Barack Obama é uma resposta progressista contra a ascensão neoconservadora nos anos 80, ocorrida com a eleição de Ronald Reagan. Sua vitória seria um passo importante rumo à superação do racismo. Mas é preciso também vencer o sexismo.

As primárias do Partido Democrata, em 2008, foram um marco histórico nas eleições dos EUA e reforçaram as noções de Tocqueville sobre a Democracia na América. Mesmo havendo uma intenção de centrar a discussão nos temas nacionais e internacionais, a disputa entre Hillary Clinton e Barack Obama não deixou de ser marcada pelo debate das questões raciais e de gênero e, em vários graus, o racismo e o sexismo estiveram presentes.

Nunca uma mulher chegou tão longe na disputa pela nomeação partidária, mesmo com a existência da discriminação sexista. As contribuições e a determinação da senadora Hillary foram fundamentais para combater as discriminações, ressaltar as questões de gênero e para mobilizar as mulheres, lembrando que ainda existe um déficit de gênero na política americana. Nunca houve tanta mobilização feminina em torno de uma candidatura e nunca se criou tantas esperanças de rompimento com a ordem patriarcal e misógina da politica. Contudo, as mulheres que são maioria da população dos EUA vão continuar fora do comando da Casa Branca.

Em parte a derrota de Hillary se deveu ao sexismo, pois uma parcela do eleitorado ainda vê com má vontade uma “Comandante em Chefe” no domínio da política americana. Mas, felizmente, não se pode atribuir a maior parte da derrota de Hillary ao sexismo, mas sim às posições políticas da senadora, aos seus laços com o establishment de Washington e principalmente ao sucesso da organização da campanha e da capacidade pessoal do outro candidato.

Barack Obama, por seu turno, conseguiu uma vitória que parecia impensável até pouco tempo atrás, pois se acreditava que o racismo impediria a chegada de um candidato negro com reais chances de vitória nas eleições de novembro. O mais impressionante é que Obama tem pouca experiência na política, não faz parte da elite econômica ou política, é filho de um homem negro do Quênia e de religião muçulmana e não contava com o apoio da máquina partidária. Sua vitória nas primárias do partido Democrata foi uma grande surpresa e contribuiu para vencer os preconceitos de cor.

Mas como ficará a chapa Democrata para as eleições de novembro? Acredito que uma chapa Barack Obama e Hillary Clinton representaria uma grande oportunidade dos Estados Unidos darem um passo à frente para começar a se vencer, de uma só vez, o racismo e o sexismo e dar um ótimo exemplo para o mundo. É uma chance em dose dupla para superar os dois desastrados (para dizer o mínimo) mandados de George Bush.

Eu sei que um mandato apenas não vai mudar toda a política americana e as características “imperiais” (no dizer de HARDT, M. NEGRI, A. Império) ou, de modo tradicional, “imperialista” dos Estados Unidos. Nem quero entrar em uma discussão de quem é melhor para o Brasil, especificamente para o comércio e as relações bilaterais, se os Democratas ou os Republicanos.

O fato é que os EUA têm a chance de eleger um presidente negro com, provavelmente, uma mulher na vice-presidência. Ou seja, os EUA podem colocar as questões de cor/raça/etnia e gênero em outro e melhor patamar. Vai ser uma oportunidade para mudarem e alternarem seus dirigentes WASP (White Anglo Saxon and Protestant) e dar chances para outras cores/raças, gêneros e religiões.

Não podemos esquecer que a Independência dos Estados Unidos, em 1776, serviu de inspiração para a Revolução Francesa (com grande atuação de Thomas Paine nas duas) e a Inconfidência Mineira, ambas em 1789. O que acontece lá, acaba refletindo aqui no Brasil e no resto do mundo.

Sem dúvida Obama teve maior apoio proporcional de jovens, homens e negros, enquanto Hillary teve maior apoio de mulheres, idosos e aposentados (além de “latinos” e judeus). A união dos dois pode constituir uma chapa imbatível, com uma clara mensagem contra a guerra e a favor do meio ambiente, dos direitos sexuais e reprodutivos, etc. Como afirmou o conhecido sociólogo Immanuel Wallerstein no jornal Folha de São Paulo (09/06/08), a candidatura de Obama é uma resposta progressista contra a ascensão neoconservadora nos anos 80, ocorrida com a eleição de Ronald Reagan e em resposta às idéias de 1968.

Os resultados das prévias democratas mostrou que Hillary não chegaria à Presidencia sem o apoio dos eleitores de Obama e este não chegaria sem o apoio das mulheres, latinos, judeus, trabalhadores sindicalizados e idosos. Portanto, só superando o racismo e o sexismo (e o conflito intergeracional) é que os democratas voltarão ao comando da Casa Branca.

Um presidente negro nos EUA já seria uma grande novidade no cenário internacional e enviaria uma mensagem positiva no combate ao racismo. Mas um presidente negro com uma mulher na vice-presidência enviaria uma mensagem dupla, contra o racismo e o sexismo.

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José Eustáquio Diniz Alves