O impacto global do aumento do preço dos alimentos e a vulnerabilidade nacional

A época da comida barata acabou. Em termos reais, o preço médio dos alimentos no mundo está, em 2012, cerca de 50% maior do que no final do século passado, segundo dados da FAO. O preço dos bens de subsistência tende a subir ainda mais nas próximas décadas devido ao pico do petróleo (que vai elevar o preço da energia) e devido aos impactos negativos do aquecimento global e das mudanças climáticas. A escassez de água potável também deve ter um impacto no aumento do preço dos alimentos e no encarrecimento dos custos de acesso aos recursos hídricos.

Mas o impacto da carestia é muito diferenciado conforme os países e as regiões do mundo. Nos países desenvolvidos o gasto com alimentação como percentagem do orçamento doméstico está em torno de 10%. Na América Latina, Europa, Oriente Médio e Norte da África o percentual está entre 15% e 35%. Na maior parte da Ásia, incluindo China e Índia, o gasto com alimentação como percentagem do orçamento doméstico está em torno de 40%. Mas a situação mais dramática é dos paises da África ao sul do Saara que, em média, precisam gastar de 30% a 60% da renda domiciliar para comprar a  comida da família.

Portanto, se o preço dos dos alimentos continuar subindo vai afetar principalmente as pessoas de baixa renda dos países pobres, onde o alimento consome a maior parte do orçamento familiar. Nestes países  mais vulneráveis há uma grande percentagem de jovens – devido às altas taxas de fecundidade – e serão as crianças as mais atingidas pela fome e a desnutrição.

O impacto do aumento do preço dos alimentos também será diferenciado segundo aqueles países que são exportadores ou importadores de cereais. A Argentina, a Austrália e o Uruguai, por exemplo, são grandes exportadores de cereais e podem até se beneficiar com o aumento dos preços das commodities agrícolas. Mas serão os países mais pobres da África e da Ásia que vão sofrer duplamente com o aumento do preço da comida, que vai afetar os orçamentos domésticos e a balança comercial.

O choque nas contas externas será mais grave no Oriente Médio e Norte da África, pois nesta região a maior parte do consumo de cereais é atendida pelas importações. Países que exportam muito petróleo podem pagar pela importação de alimentos. Mas um dia o petróleo vai acabar enquanto a necessidade de importação de comida tende a aumentar devido ao crescimento demográfico.

O Brasil é um país privilegiado, pois conta com alta biocapacidade per capita e baixa densidade populacional. Segundo os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), do IBGE, a alimentação representava 34% do orçamento familiar em 1974/75 (Endef), caiu para 21% em 2002/03 e chegou ao mínimo de 20% em 2008/09. Ou seja, na média nacional, o valor da alimentação vem caindo como percentagem do orçamento familiar. Porém, na primeira década do século XXI a queda foi irrisória e pode inclusive começar a aumentar na medida que o preços dos alimentos encarecem em todo o mundo.

O Índice de preços dos alimentos da FAO, divulgado em 08 de novembro de 2012, mostra que a comida continua chegando cara na mesa dos consumidores. O índice ficou em 213 pontos em outubro de 2012, o segundo mais alto para este mês do ano, na última década. Ou seja, 113% mais alto do que a média dos preços em 2002-2004, em termos nominais e 42,7% maior em termos reais.

A comida é uma necessidade essencial. Um dos estopins da Primavera Árabe foi o aumento do preço dos alimentos. Se a carestia se espallhar pelo mundo, outras revoltas políticas poderão acontecer, em especial, naqueles países que possuem uma grande juventude sem perspectivas de emprego e ascensão social. Alguns países serão mais afetados do que outros, mas a humanidade como um todo vai enfrentar um grande problema no século XXI em decorrência do pico do petróleo, do aquecimento global, da escassez de água e outros recursos naturais. O mundo está ficando mais vunerável.

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José Eustáquio Diniz Alves