O islamismo na agenda internacional

É crescente a participação do islamismo na agenda intenacional, mas isto não significa o estabelecimento do “Choque de civilizações”.

Há trinta anos, quando eu ainda era estudante universitário, o que dominava a agenda internacional era o conflito Leste versus Oeste e a possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial – provavelmente a última, pois as armas nucleares se encarregariam de destruir o planeta. Com a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS tudo mudou e o conflito Norte (rico) versus Sul (pobre) passou a dominar a agenda internacional, sendo que a primeira meta dos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio é exatamente a erradicação da extrema pobreza e a criação de empregos descentes para todos e todas pessoas do mundo.

Porém, o 11 de setembro de 2001, colocou uma nova agenda no mundo que foi definida pelo presidente George Bush como sendo a da ameaça do terrorismo. O governo dos Estados Unidos declararam guerra ao “eixo do mal” que incluia principalmente países muçulmanos.

O embaixador Rubens Ricupero escreveu um artigo recente no jornal Folha de São Paulo, com o títuto, “a islamização da agenda”, que diz o seguinte:

Há  um  ponto comum em quase todos os conflitos que ensanguentam a agenda internacional: algum movimento extremista islâmico está sempre envolvido. Nos atentados em Mumbai, na Índia, nos sequestros nas Filipinas ou na Ásia Central, na luta na Tchetchênia, nos incidentes no oeste da China na véspera dos Jogos Olímpicos, nos atentados da Al Qaeda contra as Torres Gêmeas, em Nova York, no metrô de Londres ou na Espanha, o padrão é sempre o mesmo” (FSP, 11/05/2009).

Evidentemente a posição do embaixador Ricupero não tem nada a ver com a teoria do “Choque de civilizações” de Samuel Huntington e da direita fundamentalista americana. Segundo Samuel Huntington (1996), os conflitos ideológico (Leste X Oeste) e econômico (Norte X Sul) serão substituidos pelo conflito cultural e religioso. Para Huntington a percentagem de cristãos no mundo, que já foi de 30%, deve cair para cerca de 25% até o ano de 2025, enquanto a proporção de muçulmanos deve passar de menos de 20% no final do século XX para cerca de 30% no ano de 2025. Por isto ele vê os conflitos internacionais, depois da queda do Muro de Berlim, marcados pelo que ele chama de "O choque de civilizações", sendo que o problema demográfico pode acirrar esse conflito, particularmente entre o Islã e o Ocidente:

"(…) o crescimento populacional muçulmano gerou grande quantidade de jovens desempregados e descontentes que se tornaram recrutas das causas fundamentalistas islâmicas, exercem pressão sobre sociedades vizinhas e migram para o Ocidente."  (HUNTINGTON, Samuel O choque de civilizações. Rio de Janeiro: Objetiva, 1996.  p.265)

Felizmente, esta corrente militarista e fundamentalista cristã, foi derrotada nas últimas eleições americanas e o novo presidente dos EUA, Barack Hussein Obama, tem atuado no sentido contrário ao "Choque de civilizações". Obama defende o multilateralismo ao contrário do unilateralismo de George Bush e acólitos. Um exemplo foi a mensagem de Obama ao Irã propondo um novo começo no Nowruz ("new beginning" in US-Iranian relations, ver video: http://www.whitehouse.gov/Nowruz/).

O presidente Obama tem se posicionado contra o choque de civilizações e tem afirmado que os EUA não estão em guerra contra o Islã. Em discurso histórico na cidade do Cairo, no dia 04 de junho de 2009, propôs um "recomeço" nas relações com o mundo muçulmano. Mas os detalhes do deste discurso e a reação islâmica e da direita americana serão objetos de um outro artigo. Em outro artigo também vamos abordar as questões demográficas.

Para terminar, um trecho do discurso de Obama na Universidade do Cairo:

É mais fácil começar guerras do que pôr-lhes ponto final. Mais fácil culpar os outros, do que olhar para dentro; ver o que é diferente, em alguém, do que ver o que temos em comum. Mas temos de escolher o caminho certo, não apenas o caminho mais fácil. Há regra que rege, no coração de todas as religiões – que façamos aos outros, como queremos que nos façam a nós. Essa verdade transcende nações e povos – uma crença que não é nova; que não é nem branca nem negra nem mulata; que não é cristã, muçulmana ou judia. Uma crença que pulsava no berço da civilização, e que ainda pulsa no coração de bilhões. É uma fé em outro povo, e é o que me trouxe hoje aqui” (Obama, 04/06/2009).

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José Eustáquio Diniz Alves