Demografia By José Eustáquio Diniz Alves / Share 0 Tweet Há vinte anos escrevi um artigo no Jornal do Brasil comentando as iniciativa para a criação da União Européia (UE). O texto era otimista e finalizava com uma citação de parte da música Imagine, de John Lennon : Imagine there’s no countries It isn’t hard to do Nothing to kill or die for And no religion too Imagine all the people Living life in peace You may say, I’m a dreamer But I’m not the only one I hope some day You’ll join us And the world will live as one Para mim, o sonho de uma Europa Unida era o começo do sonho de um continente unido, sem fronteiras nacionais, sem guerras, sem religiões, sem preconceitos e vivendo para o dia de hoje (sem o peso do passado e sem perspectivas de dominação para o futuro) e em harmonia com a natureza. Depois de milênios de guerras e de desavenças entre os países europeus, o tratado de Maastricht abria a possibilidade de uma integração econômica entre países com diferentes culturas e moedas e que teriam de abrir mão de uma parte da soberania nacional para viabilizar a criação de uma moeda única no continente, o Euro. A União Econômica era entendida como um grande passo para coroar a União Comercial e a União Populacional, com a livre circulação dos cidadãos da UE. Cheguei a imaginar uma Europa Unida como o começo de uma União Planetária, onde todos os países do mundo poderiam viver em harmonia e colaboração, além de instaurar a “Paz eterna”, tão sonhada por Immanuel Kant. Porém, a situação atual, como mostrou Moisés Naím, não é nada otimista: “A Europa precisa passar por ajustes dolorosos; é impossível ganhar, a não ser que se produza mais. Começou com uma tragédia grega, continuou com um fado português, hoje estamos assistindo a um melodrama italiano e daqui a pouco a história pode terminar com uma retumbante ópera alemã. A crise econômica europeia cresce, se diversifica e se complica. Se continuar como está indo, pode acabar com o projeto mais inovador da geopolítica mundial: a integração europeia” (FSP, 11/11/11) . O fim da União Européia e o mergulho na recessão e em futuras décadas perdidas em termos de crescimento econômico não será um decisão consciente para reduzir o padrão de produção e consumo rumo a uma sociedade convivial. Ao contrário, poderá acirrar as disputas internas e a xenofobia interna e internacional. Por exemplo, o decrescimento populacional da Europa era visto como uma oportunidade para uma resposta multifásica ao alto crescimento demográfico da África, que poderia abastecer a Europa com a chamada “migração de reposição”. Contudo, depois de 20 anos de integração, os ódios e desconfianças entre gregos, italianos, franceses, alemães, etc estão em níveis críticos. O Norte da Europa está em “guerra” cultural e econômica com a Europa do Mediterâneo. O esfacelamento da União Européia não será bom para ninguém e nem para o mundo, mas parece que será um processo irreversível. Assim como o fim dos Beatles, pode-se dizer: “The dream is over”. Porém, o fim da famosa banda não foi o fim de carreiras solos de cada Beatle em particular e nem o fim do rico legado musical que eles nos deixaram. O sonho de uma próspera e aberta União Européia parece estar chegando ao fim. Mas não é o fim do mundo. Como diria meu conterâneo mineiro, Milton Nascimento, na música “O que foi feito deverá”: O que foi feito, amigo, De tudo que a gente sonhou… Falo assim sem saudade, Falo assim por saber Se muito vale o já feito, Mais vale o que será E o que foi feito é preciso Conhecer para melhor prosseguir… Outros outubros virão Outras manhãs, plenas de sol e de luz.